quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Foxy Lady

You know you are a cute little heart breaker. Saltitando pela sala de madeira improvisada, ocupando os espaços entre frestas, entre farpas. Com um cheiro de madeira nova que sobe ao ar, e a observação do seu olhar descobridor vagando austero entre mesas.

I won't do you no harm. Se aproxima de tantos quantos, e direciona uma ou outra pergunta um tanto detalhista. Conquistando as respostas por mero merecimento. Mérito incontestável de uma busca incondicional, de fatores tão distintos. O recinto todo gira. Gira em torno de seus maxilares desconexos, que assim mesmo balbuciam verbetes decididos.

You make me wanna get up and-a scream. Mas eu me comporto como antes, nada muda. Em meio à multidão de almas inquietas, em estado de espera. Em estado de aguardo. E eu a guardo entre memórias em espera. A vivência nada física de um concreto tão abstrato.

Foxy. Foxy. Saltitando pela sala de madeira improvisada.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Crônicas de uma Gata Solitária

As coisas tinham muito mais cor quando Dorothy estava no mundo mágico de Oz. Lá, os tornados levavam as pessoas para viagens mágicas por mundos de criaturas que se preocupam com o que os outros sentem ou deixam de sentir. Por mundos onde as escolhas que fazemos geralmente nos levam a caminhos gloriosos, de estradas também coloridas, de destinos fantásticos.

Mas Dorothy voltou de Oz, acordou para um mundo cruel e sem tantas cores, em tons de cinza, onde a poeira se acumula e não faz questão nunca de dispersar. As coisas mantém seus lugares como previamente determinados, em instâncias das quais nem mesmo elas lembram.

Agora, Dorothy está sentada diante da porta. Observa o mundo lá fora, analisa as luzes e sombras que bailam sob o vento, farfalhando folhas que ela não vê, pois que vê apenas os movimentos das sombras projetadas no chão de concreto duro e frio. Ela avalia os perigos desse mundo cinza, e as lembranças do mundo colorido, e decide permanecer. A inércia age sobre Dorothy, e ela apenas observa...

Pois Dorothy espera o retorno do Homem de Lata, do Espantalho e do Leão Covarde. Ela grita por todos os cantos, clama pela presença deles. Procura, sente suas presenças, e sente ainda mais suas ausências. Dorothy dorme, e durante o sono a memória não martiriza. As lembranças de mundos coloridos não aparecem para ela, a não ser em sonhos conturbados, os quais ela felizmente se esquece quando de olhos abertos.

Então Dorothy fica lá, por vezes sozinha, por vezes na dela, por vezes gritando sua dor para o mundo. Observando e esperando, quem sabe, pelo tornado que virá tirá-la novamente desse mundo sem sal, sem cores, e trazer de volta as saudades de um mundo mágico de cores e criaturas fantásticas.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Absolutamente Glorioso

Lágrimas são apenas lágrimas. Não importa qual seja o motivo pelo qual sejam derramadas. Apenas uma glândula cujo intuito de ajudar no bom funcionamento dos olhos acabou sendo deixado um pouco de lado ao longo dos anos em que a humanidade, darwinisticamente, evoluiu. Adaptou-se à necessidade de ser a única criatura que chora para demonstrar os sentimentos. Sejam eles bons ou ruins. Ou bons e ruins ao mesmo tempo.

Dona Euthália em uma de suas últimas fotos
A glória e a não-glória caminham lado a lado, com apenas dois dias de diferença. Com muito menos que isso de diferença, com uma tênue linha, que acaba se dispersando e se juntado uma à outra, transformando-se ambas em uma coisa só.

Uma nota 10 declarada com fervor. A justa comemoração por um trabalho realizado ao longo de quatro longos, porém curtos, anos. Uma vida nota 10 declarada encerrada. A justa, porém nunca suficiente, homenagem a uma história construída ao longo de 86 belos, e gloriosos, anos. Dos quais, 64 vividos em um matrimônio progenitor de todo um clã que já contabiliza cerca de 50 descendentes, sem perder as contas. De mãe venerável, de esposa dedicada, de avó adorável.

Equipe Gemada na Estrada e a aprovação na banca
Assim mesmo, podemos declarar duas vitórias, pois que uma vida absolutamente gloriosa como essa nunca pode ser interrompida por qualquer morte, ela continua. E ela continua no seio de todos aqueles que ainda continuam, que lembrarão dessa vida e de tudo que ela trouxe. De todas as glórias, de todas as notas 10. É preferível celebrar a vida vivida do que lamentar a morte sofrida.

O curso de Jornalismo se encerra de maneira gloriosa, com todas as lágrimas de celebração a que se tem direito por uma conquista como essa. Dona Euthália Trindade de Ornellas nos deixa, matriarca gloriosa. Com todas as lágrimas de lamentação a que se tem direito, mas sabendo que por uma vida tão gloriosa, merece-se também uma celebração.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Tratado Contra o Sistema Digestório

Que constem nos autos a Solicitação de Revisão da Criação Humana, impetrada pela minha pessoa, contra qualquer que seja a Força ou Entidade criadora do universo, pois há algo de muito errado com o corpo humano. É um erro fulgurante que permeia a existência da criatura humana desde a aurora da espécie.

À primeira vista, é parte essencial da fisiologia, não só humana, como também mamífera, e de todos os outros seres do Filo dos Chordata. Mas trata-se de algo muito além de simples fisiologia, não é apenas uma questão de manutenção da vida através das funções naturais de uma criatura. O problema está além disso. Acontece que o Sistema Digestório é um sistema corrupto e opressor. É um sistema que ocasiona mais malefícios do que benesses, um sistema que te obriga, de forma ditatorial, a realizar certas atividades em nada agregadoras ao caráter existencial do ser humano.

Vejamos então o modo como se dá essa opressão, por meio da explanação das fases do processo: primeiramente há a alimentação. Oras, pois que já foi provado diversas vezes, e por diversos seres vivos, que comer pode ser, e é, desnecessário à existência. Todo o Reino Plantae, por exemplo, exime-se dessa estafante tarefa de localizar alimento, extrair ou conseguir alimento, beneficiar alimento, sazonar alimento, e só por fim comer. O tempo perdido com esse processo é enorme, e poderia ser muito melhor aproveitado para o progresso social e científico da civilização, caso essa não tivesse um Sistema Digestório.

Então inicia-se a fase da deglutição e digestão. Aqui, há um imenso desperdício de tempo e energia, causando efeitos colaterais terríveis, como a "soneca pós-almoço". Sem contar a inumerável quantidade de músculos e ossos dispendidos para o processo de mastigação. Essa fase do processo tem ainda a grande desvantagem de se caracterizar pela quantidade desnecessária de espaço utilizada para sua realização. São tantos órgãos, glândulas, enzimas, e outros elementos que, de uma forma ou de outra, participam da digestão, que chegam a ocupar até um terço do corpo humano. Todo esse espaço poderia ser utilizado para a alocação de mais um cérebro, por exemplo, que poderia ser ainda maior e mais complexo do que o que temos atualmente.

Por fim, chega o momento da dispersão dos nutrientes adquiridos, e da excreção do inutilizável. Outra fase repleta de desperdício de energia e tempo. Apenas o tempo gasto no banheiro com a eliminação das fezes já poderia ser muito melhor aproveitado em outros direcionamentos. E as partículas sanguíneas utilizadas para carregar os nutrientes poderiam ser úteis em diversas outras funções.

Em termos gerais, todo esse processo opressor e desnecessário ocupa boa parte de nossa energia vital. O sistema todo poderia simplesmente ser suprimido, e substituído por outras formas mais práticas de adquirir componentes básicos para a vida, da maneira como diversas outras criaturas vivas já fazem. Não cabe a nós aqui nessas parcas linhas citar as possíveis substitutas ao ato da alimentação/digestão/excreção. Apenas devemos incitar em nossa sociedade contemporânea o debate acerca da necessidade do trabalho em prol da eliminação dessa estrutura maléfica e tenebrosa de nossos corpos, o Sistema Digestório.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Um Texto por Virada

As coisas são cíclicas. Oras, pois que diabos, já falamos disso antes. A prova de que as coisas são cíclicas é já termos falado disso antes. Assim, temos mais uma Virada, termo tão representativo de nossas vidas. Se aproximam os bells que jingle, se aproxima o fim de mais um ano e começo de outro. E toda essa bonita utopia de acreditar que um dia ou outro as coisas serão diferentes.

As coisas são diferentes o tempo todo. De ano em ano a Virada de nossas vidas se reinventa, se renova, e temos dias bons e dias ruins. Viradas boas e Viradas ruins. Poderia haver aqui uma lista das coisas boas, das coisas que se reinventaram. Oras, falar do óbvio é desnecessário, as coisas que são sabem que são. Sempre sabem.

As coisas sempre sabem o que elas são. Esse ano, a música tem outros sentidos. E o que seria do mundo sem aquelas pessoas que dançavam em plena praça ao sol de meio dia ao som de uma sanfona. Música é só sobre diversão. E o que seria do mundo sem aqueles sujeitos que resolveram conhecer algo que não conheciam, e dançavam em pleno parque ao som de letras autorais que um dia passaram pela minha caneta. Música é só sobre diversão, nada mais. Essas coisas tão diferentes, pareceram tão iguais.

As coisas acontecem iguais, mesmo que por outras razões. Esse ano, as queimaduras provém de outros motivos. Esse ano, um beijo recusado torna-se a melhor coisa possível. Esse ano, um beijo aceito torna-se singelo motivo de agradáveis risos. E estavam lá tantas pessoas quanto sempre, tantas daquelas que se faz questão de abraçar ao menos uma vez por ano, se possível muito mais, em cada Virada, pelo resto da vida.

As coisas assim são, enfim. Cíclicas, diferentes, sabendo, e iguais, ao mesmo tempo. Indo e voltando, muitas vezes mais indo do que voltando, mas quando elas resolvem voltar.. Ah quando elas resolvem voltar. É assim que se fazem as melhores Viradas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Ciclicando

Estou aqui todos os dias, de peito aberto esperando a minha bala perdida que nunca vem. O câncer maligno que nunca me acomete. A doença rara que tantas pessoas lamentam ter. Todos os dias, esperando uma resposta desse mundo, que nunca perdeu um segundo ao meu lado, e apenas continua a girar...

Todas as pessoas que ficam em dúvida entre tomar uma ou outra decisão, acabam não tomando nenhuma. É essa lei imutável na vida. Houvesse o peixe que respirava por pulmões decidido não avançar à terra, e nada do que vemos estaria aqui. Não haveria sequer olhos para enxergar o que não estaria aqui. Dentro de si mesmo, cada um escolhe até mesmo quantos glóbulos vermelhos despender em cada esforço de troca de oxigênio.

A prorrogação do óbvio é desconfortante. Todo esse nada que continua acontecendo incessantemente, e sendo muito, sendo tão parco flerte. Algumas coisas voltam sempre, temos mais uma virada pela frente. Oras, como foram as últimas? A memória me diz algo sobre elas. Mas o que é a memória, senão uma artimanha de nossas cabeças para que não levemos mais pedradas?

Algumas coisas se reconstituem, e dizem que isso é culpa do verão. Verão, mal sabem que esse termo técnico se encontra mal empregado em nossas vidas subtropicais. Pois que assim são também as nossas vidas em temporadas, acabando um pouco mais a cada minuto, e se renovando da mesma forma. Ciclicando.

Muitas coisas chegam ao fim, mas é exatamente para isso que as coisas servem, elas começam a morrer no momento em que nascem. E é para isso que as pessoas servem. Tudo que existe tem começo e meio, cabe a cada imensa parcela desse pequeno tudo descobrir onde está seu fim. E não pensemos que isso é o mal do mundo. Essa é a parte boa.

Não pensemos também que o que se faz, se faz por gosto. Algumas coisas são feitas, e mesmo existem, apenas porque assim precisam ser, queiramos ou não. E assim as coisas seguem, todas e cada uma, com suas benesses e malefícios. Com suas doenças raras, e vidas mais raras ainda.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vícios e Saudosismo

Escrever sobre escrever é constante entre todos aqueles que escrevem. Pois que metalinguagem é só o que se tem quando não se tem mais nada. Tentamos ser extraordinários a todo momento, continuamos com nossa mediocridade. Um sujeito diria que o poeta é um fingidor, não concordo. Eu digo que o poeta é um verdadeirista, que tudo aquilo que escreve se torna realidade.

Havia uma obra de arte extraordinária na parede daquele museu, daquela sala de exposições, daquela sala de jantar, da rua mesmo. Oras, e não seria mesmo um rabisco de giz no asfalto, delimitador de quadrados de uma singela brincadeira infantil, também obra de arte? Seja como seja, como for ou como se perceba, havia em algum lugar qualquer uma obra de arte. Extraordinária ela, nunca tocada, friccionada, devastada ou deturpada. As obras de arte que permaneçam em seu lugar de direito.

Houve sempre, em outros momentos, outras obras de arte. Outros escreveres também. E é disso que falamos a todo o tempo, e sobre isso escrevemos. Assim, há sempre esse vício, e que nunca se envolvam os atores com seus objetos de desejo. Somos viciados em nos viciar, não podemos abandonar o vício anterior até que o próximo tome o lugar daquele. Alguns vícios duram eternidades e permanecem sempre. Sou viciado em me viciar em obras de arte.

Sou também viciado em sentir saudades. Sobre tudo aquilo que se perde e se ganha a todo momento. Sobre não conseguir mais escrever, e precisar inventar um objeto de desejo para tal ensejo. Saudades é o meu nome do meio. Saudades de escrever e de algumas obras de arte. Assim, de alguma forma, essas coisas estão intimamente interligadas. Não somos criaturas mais extraordinárias apenas por sentirmos saudades demais, e termos vícios demais. O passado prende.

No fim, parece confusão essa profusão de assuntos. Não escrever, obras de arte, vícios e as saudades. Oras, no fim, todos os assuntos são um só.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Ponto de Vista de um Evento Epopeico por um Pacote de Bolachas

E toda essa pose de rockstar? Tudo fuleirice... Nada além de uma imagem que se queira passar, um personagem, algo que nem existe. Carregando sacola, a roupa do corpo e a necessidade apenas. Por que essa gente precisa de tanta coisa? Eles precisam de tudo o que possa preencher o vazio de suas almas. E é assim que as coisas andam.

Ouvi dizer que haveria companhias. Assento vazio ao lado, frigobar vazio ao fundo. Oras, não exatamente vazio, mas tenho a impressão de que está vazio tudo o que não está cheio. Não existe meio termo, todo e qualquer espaço que se cria é um vazio. Talvez a alma daquelas pessoas esteja apenas com um pequeno espaço vago, mas assim e por isso mesmo, estão vazias.

Uma parada em local desconhecido, em terreno obscuro. Mas se bem que pra quem nunca foi muito além de linhas de montagem de embalagens, caixas acomodados em locais húmidos, prateleiras inconstantes e armários complexos, qualquer lugar se torna um terreno obscuro.

Capa para chapinha e progressiva. Chuva anunciada e programada, pois que não é chuva aquela que não vem para dificultar alguma coisa. Oras, mal sabem os seres de alma vazia que quanto mais ela te molha, mais bem ela te faz. Não precisamos, apenas um pedaço de plástico semi-verde para mim, e uma capa transparente que deixaria os pés de fora para quem me acompanha.

Fila, infinita, desconexa, inconstante ela também. Sabe-se lá em que a criatura humana se baseou para criar a necessidade da fila, de organizar as possíveis balbúrdias causadas por excesso de pessoas buscando o mesmo objetivo. Imaginemos uma ampulheta cujos grãos de areia se organizassem em fila, esperando sua legítima vez de passar pelo mínimo espaço contador do tempo. Havia pessoas jogando baralho, passando desodorante, passando por nós e jogando com a própria liberdade.

Enfim, o som, a magia das notas, aquilo que por tantas vezes foi dito não poder viver-se sem. Durante duas horas o chão nunca pareceu tão longe, perto, longe, perto. Ainda luzes para todos os lados, infinitas estrelas nas proporções de um estádio. Brilhando e iluminando nossas almas por vezes vazias. Sessenta mil almas. Pacotes de bolacha também têm almas?

No fim, uma procissão de almas molhadas, revigoradas, precisas em suas precisões. Caminhando a esmo, para onde quer que estejam indo. Não faz mais diferença alguma. Tudo o que passamos foi vívido por si só, e essas dezenas de carrinhos de cachorro quente nunca poderiam entender. Destinos é tudo o que temos, a todo o tempo, estamos apenas chegando a um lugar que vai nos dizer onde temos que chegar. E assim fomos, e assim estamos, de volta. Aonde quer que seja a volta, mesmo que no armário, pelo menos por enquanto.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Fumaça

Nunca precisei conversar com ela. Ficava lá açoitando a noite com sua alma, no meio da fumaça que pairava no ar rejeitando as ordens de "deixem o recinto", e vejam bem: não demora muito para que venha a aurora.

Me pediram para escrever uma crônica, creio que todos os escreveres são crônicas, pois que escrever é uma doença crônica. Já fiz poesias com essa palavra, poesias de amor, hoje a rejeito e a amo ao mesmo tempo, e assim o é com todas as palavras para quem as usa por demais. No fim, o que escrevi não era crônica, talvez fosse algo mais.

Naqueles olhos escondidos, abaixo de uma franja desconexa, profundos e ainda assim desérticos. Como um oásis ao contrário, uma ilha de absoluto nada em meio à bela e controversa totalidade do mundo exterior. São apenas observações distantes, de um olhar que nunca chega a perfurar.

Nunca mesmo cheguei a conversar com ela. Mas acho até que esse tipo de coisa nem mesmo é necessário, um oásis misterioso é sempre mais belo. As palavras nunca são suficientes, e não sabem mesmo como ser utilizadas. A fumaça desce, começa a rastejar pelo chão sujo, atinge os buracos por onde os ratos costumam carregar suas presas, sejam elas vegetais ou animais. Atinge os becos e os cantos escuros e obscuros. Atinge cada centímetro quadrado de tudo ou de nada. Atinge os olhos profundos e desérticos.

Isso não é, então, uma crônica, e não é sobre ela. Até porque ela nem mesmo existe mais, em sua imperfeição de fumaça. Não é, então, uma escolha que se faça, apesar de que pode haver uma não-escolha, que se obrigue a fazer. É apenas um escrever como tantos escreveres, profundo ou desconexo.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mudanças, e um pouco mais

Nunca fui de acreditar nesses conceitos hiperbólicos. Tudo o que implica perfeição é perfeito em sua inexistência. Muitas coisas existem apenas para desexistir, e podemos pensar que seria melhor se nunca tivessem existido. Porém, por outras tantas vezes, elas podem ser gloriosas em sua perene existência, e o seu desexistir é desimportante.

Um cenário diferente é por quantas vezes necessário. Cenário, andares e caminhares, relacionamentos e relações, conhecimentos. Mudanças são o que permeiam as consequências, como outrora tratado. E como são elas tão necessárias, a Terra que gira, a Lua que se torna Sol, e versa-vice constantemente, e assim também associado a todas as tantas estrelas que permeiam esse céu do passado.

Passado, o qual se vive de memória. E todos temos uma eidolon wall muito própria, essas paredes da memória onde as sombras dançam, independentes de que haja luz ou não. E geralmente não há. Nas minhas paredes, memórias distintas e distantes dançam. Aquela noite de cabaré, onde uma voz sobre outra voz traduzia simultaneamente o que aquela bela música tencionava passar com sua essência. Alguns receptáculos de amor nunca consumados, contratos nunca referendados. E uma sessão, praticamente um festival, de déjà-vu's.

Oras, contudo, tantas quantas forem as memórias e lembranças (sinônimos distintos), tantas serão as paredes e sombras dançantes. Vive-se disso, sem querer chegar a desexistir. Somos saudosistas de uma geração que já ficou velha, que envelheceu rápido demais, que pensa que ainda pode suportar o peso do mundo em pernas bambas de artrite, e uma corcunda protuberante.

Dentro desses conceitos hiperbólicos de que tanto se fala e nada se entende, buscamos recuperar o que perdemos, o que agora desexiste. As sombras continuam dançando, e me parece que alguém, miraculosamente ou não, conseguiu recuperar alguma coisa. O saudosismo ainda impera, há quanto tempo as mudanças vêm ocorrendo? Mudanças que nunca chegam a mudar nada, é tudo ainda tão igual.

Igual, porém diferente. Sem aquilo que tivemos, sem conceitos hiperbólicos, sem novas sombras a dançar. A busca por um novo cenário, com todas essas coisas que desexistem dia após dia, mudanças desejadas ou não.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Feliz da Barata

Éramos três homens de terno desfilando pelas cidades em um veículo amarelo. Temos o costume de conjugar o início de nossas histórias no passado, sempre "éramos" ou "era" ou "foi", não sei o porquê de fazermos isso sendo que as histórias continuam sempre. O certo seria Somos três homens de terno desfilando pelas cidades em um veículo amarelo.

E é isso mesmo o que somos, fomos e éramos, e ainda seremos enquanto o mundo for mundo, apenas por termos sido uma vez. Até porque existem fotografias nas quais estamos eternizados, de terno preto diante de um veículo amarelo. Imagina se usássemos óculos escuros, pareceríamos a máfia. Entra uma garota no carro, namorada de um de nós. Vestido preto com rendas e bordados, um sapato delicado de donzela. E ela desfila com os três homens de terno preto em um veículo amarelo.

Nessa tarde, celebramos a vida e as vidas, as idas e vindas e a união das vidas e das vindas. Agora há um casal que ruma para o Rio Grande do Sul, ou já deve até estar lá enquanto alguém (quicá você) lê esse determinado relato. O casal não usava terno, usavam amor, vestiam-se de amor da cabeça aos pés, e também desfilaram no veículo amarelo. Um casal que é amor desde sempre, e continuará sendo enquanto o mundo for mundo.

Após uma tarde de amores, ternos e veículos amarelos, algumas vezes usamos plural/plurais demais, a palavra plural também tem plural. Assim, no singular e acompanhado de plurais, cada homem de terno seguiu seu rumo em direção à noite. Desembarquei no local onde a maioria das almas desgarradas se unem, se juntam, acoplam. E lá estivemos, agora apenas eu de terno, às margens do caos, vivendo a própria ordem.

Acendo um cigarro. Não, acendem por mim, a fumaça se une a todas as outras fumaças. Juro pra você que é apenas neblina, termina o teu lanche, temos só até as dez, garota. Idas e vindas, muitas pessoas conhecidas, outras tantas desconhecidas. Mas essas almas desgarradas já sabem que esse lugar é propício para isso.

Encontro a quase-atriz, que não o foi por doença. O ex-amigo que ainda é amigo porque, oras, amizades não podem ser deixadas assim. Amigo uma vez é amigo sempre, mesmo que não o seja em tempo verbal presente. Somos três homens de terno, assim como, sim, ainda são amigos. Encontro também o trio maravilhoso, dançarinas da alma, as garotas mulheres que bailam ao som do palpitar dos corações ao seu redor. Encontro a musa das alternatividades, que em breve se destina ao litoral, talvez cansada da austeridade demagoga do universo inteiro.

Todas essas pessoas se conhecem e se desconhecem. Por fim, ainda de terno, sem veículo amarelo, e sem tantas outras coisas que me fazem alguma ausência no meio de tanta sobra, já no limiar da noite. Nessa hora, encontro a atriz que sim, ela sim é atriz, e é tanto quanto mais lhe possa caber em estatura diminuta, porém de um coração imenso, de mãe também.

Observamos quando um carro se aproxima. E pensávamos, ainda pensamos, que a noite não tinha ideias de piorar. A noite sempre arranja uma forma de piorar. Mas observamos a barata, eu pensava em um filme que vi outrora onde um escorpião iniciava a película e terminava a vida sob um pneu de um carro na estrada. A atriz, revelou-me depois, pensava em situação semelhante. Então, ainda agora, passa um pneu de um carro esmagando a barata, ceifando-lhe a vida, espalhando seus líquidos corpóreos pelo asfalto gelado.

Rimos. Era o que nos restava, é o que nos resta. Fim de noite, no lugar onde as almas desgarradas se encontram, onde os amores se acoplam, onde todos se conhecem e se desconhecem, onde tudo é plural e singular. Início de manhã, o ônibus chega. Feliz da barata.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Apocalipse Nosso de Cada Dia

Criar é a essência da própria existência. Destrinchar das sombras do ostracismo tudo aquilo que ainda não viu a luz da vivência. Todas as fotografias, filmes, pinturas, literaturas, esculturas e músicas que apenas não existem porque não foram ainda criadas. E quem está esperando para ser o criador de tais coisas deve apenas começar. Pois que dizem que aliando-se o infinito à teoria do caos à Lei de Murphy, tudo um dia acontecerá de uma forma ou de outra.

Ele era um aventureiro, daqueles sobre os quais as histórias são contadas, daqueles que vivem de adeus. Trilhava caminhos absurdos, inventava, criava seus próprios caminhos. Se aventurava por realidades e surrealidades épicas. Despendia esforços para conseguir toda a glória de que precisava para continuar no circuito. Muitas vezes, esses são os personagens que ficam para o futuro, esse tempo que não existe, e que tanto tentamos alcançar, norte dos nossos planos. É lá que eles serão lembrados, como criaturas que outrora produziram. Saibamos que we are bond to glory.

Também é preciso lembrar que nunca devemos nos esquecer que as despedidas eram mais sinceras antes da internet, antes de termos contato com o outro lado do mundo, e de termos o mundo em nossas mãos. Houve um tempo em que o para sempre não acabava. Hoje, qualquer coisa é motivo para adeus, e aventureiros vivem de tanto mais quanto os tchaus podem proporcionar. E nossos talentos são prever esse tipo de final.

Mas, por outro lado, não se acham mais tantos aventureiros.. Os adeus atualmente ficam reservados para os momentos de desespero. Há uma constante ausência de glória, e ninguém mais quer ser herói. E qual o critério que resta para ficar para o futuro? Aparentemente, só agora percebemos que é isso que fazemos a todo o tempo, a cada sístole e diástole, simplesmente sobrevivendo, se aventurando em nossa própria respiração. Enfrentando o apocalipse nosso de cada dia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Me Vê Meio Quilo de Amor

De primeira, por favor.

Sou afeito a solilóquios. Passo o tempo a divagar, por vezes levo mais tempo planejando do que executando. Mas oras, pois se dizem que é assim que se atinge o sucesso; aquele invólucro que te faz embalado a vácuo, diferente de meros mortais, que caminham anônimos pelas ruas anônimas. Porém, sei que há um lugar onde as placas das ruas nos dizem quem foram aqueles sujeitos.

Passamos tempo demais conjecturando como serão nossos amores. Planejando conversas que nunca virão a acontecer, noites épicas que nunca chegarão a ser aurora; e dias de almoço com sogros, seguidos de tarde de filme água-com-açúcar (adoro escrever a palavra açúcar), com, quem sabe, um passeio no parque e sorvetes antes do pôr-do-sol.

Me vê dez reais de amor. Será o suficiente? Quando nem dentro de nós mesmos somos suficientes. Então abstraímos juízo de valor para o abstrato. Oras, pois que não se pode quantificar o imaterial. "Eu amo você um tantão assim" - e isso nunca deve ter passado de dez reais.

Esses amores não se encontram nas prateleiras do supermercado ou da pharmácia, estão todos sold out. Suas histórias mal e mal estão nas páginas de alguns poucos e mal afamados escritos, daqueles que tarde ou cedo acabarão de lado, por um motivo qualquer. Esses amores não podem ser descritos ou delimitados, prescritos ou delineados. Eles são o que desejam ser.

E não podendo ser prescritos, eles devem simplesmente ser. Acontecer como quer que queiram. Sem atribulações ou atribuições. Sem nem mesmo retribuições. Apenas ser.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sobre Fazer Novamente Tudo Aquilo que já Fizemos Uma Vez

A Teoria do Universo Inflacionário seria uma ótima pedida se estivéssemos levemente preocupados com a física quântica no momento em que os nossos universos descem às suas próprias ruínas. E enquanto cavalgamos em direção à essa auto-proclamada ruína, percebemos que estamos fazendo novamente tudo aquilo que já fizemos um dia.

O tempo teria um fim, mas não que ele acabasse, seria talvez o limite dele, o momento em que ele grita para os seus próprios labirintos: "Chega! Já deu, já basta!". E então ele voltaria atrás, por todo o trajeto recém concluído, da mesma forma como veio, rastejando, lurking por todos os caminhos, despretensiosos ou não, já feitos algum dia. Até aquilo que outrora havia sido o seu começo, para então iniciar novamente o mesmo ciclo.

Sem diferença nenhuma seriam trilhadas essas estradas. Os mesmos paralelepípedos, o mesmo calçamento de petit-pavé empoeirado, as mesmas faixadas de prédios antigos que brilham sem ter luz, os mesmos bêbados mal-agasalhados. E então seriam repetidos os mesmo erros, do mesmo formato e tamanho, na  mesma proporção. Pois que quem erra uma vez, erra sempre.

Trilhamos a rua e a noite, cavalgamos em direção à ruína num mundo sem aurora. E atingimos ela antes daquele coalho de berinjela. Fumaça, névoa, gases e neblina compunham o ambiente. Hora de retomar antigas antíteses, falar do que nos convém. A rua continua aqui, tanto tempo depois, da mesma forma. Oras, pois se essas personagens continuam elas também as mesmas. O tempo não muda nada no fim das contas.

Aqueles rostos conhecidos fustigavam a fumaça com suas almas, exalando temores contidos. Aqueles rostos que já planejaram ser personagens de fato, e, oras, pois serão, sim, serão personagens de suas próprias histórias, e daquelas que devemos, que temos a obrigação de contar. Não porque alguém disse que temos, mas algumas missões nunca precisaram ser passadas. Se bem que estamos mesmo acostumados a aceitar apenas aquilo que acreditamos que merecemos, seja assim tanto quanto se fala de amor.

Pois então que escrevamos pela metade. Oras, não se erra por inteiro mesmo. E nenhuma ruína é completa. A fumaça então como personagem, lurking entre as pessoas: lá estava ela açoitando a noite com sua alma, no meio da fumaça que pairava no ar rejeitando as ordens de "deixem o recinto", e vejam bem, logo vem a aurora. Mas esse deve ser o começo da próxima história.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A Frentista

Ela caminhava matreiramente entre os veículos propagadores do progresso. Agitava sua ferramenta de trabalho sem deixar vestígios de óleo comburente. Carregava na cabeça aquele boné surrado que já deve ter visto mais primaveras do que deveria. Talvez tenha visto até mesmo a neve. Era uma raposa sorridente, saltitante, adstringente.

Em todos aqueles tempos em que alguém saía na frente, alguém precisava ficar para trás. Faz parte da própria natureza, compete-se pela vida a todo momento, é uma corrida em prol da evolução, uma competição em prol de tudo o que possa ser melhor do que aquilo que ainda nem sequer temos.

Os motores ligados, competidores a postos. Ela chegava, plugava o equipamento, ligava a máquina, e corriam os dígitos no mostrador. Aqueles números em ordem cíclica e crescente, em quatro casas, possuíam sua própria corrida particular, buscando também aquela mesma glória a qual estavam todos perseguindo constantemente. Quanto mais alto for o dígito mostrador da primeira casa à esquerda, melhor. Melhor pra todo mundo. Melhor pra quem?

Eram tantas as competições que, por vezes, esquecia-se de qual estávamos participando com mais ênfase e vigor. Importante é sempre vencer, ao contrário do que pregou um dia a sabedoria popular. À nossa frente, a frentista, olha em volta, felina. Grita palavras de ordem, valores de ordem, a ordem dos valores. Qual o primeiro dígito da esquerda que nunca quis ser gritado?

A corrida continua, para todos os lados. Para todas as competições. Pois que há sempre um objetivo a se alcançar. Uma vitória, particular ou coletiva, a se orgulhar. Uma nova frentista em cada posto, a postos, para cumprir, com um boné surrado ou sem, com o que quer que seja a sua glória particular.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Voltar para Casa

Quem poderá dizer o que é isso que chamamos de casa. Isso não foi realmente uma pergunta, conforme dito outrora, não usariam-se mais pontos finais. Mas oras, sabemos mesmo que nada tem final, continua-se então com essa relativização absurda de achar que cada frase é um universo por si só. E deve mesmo ser.

Sempre há um retorno, o mundo é redondo, e supõe-se que o universo também seja. Como nada tem final, tudo é redondo, com começo, meio e recomeço. Mesmo as vidas recomeçam quando terminam, e voltam a ser o que foram um dia: morte. Nada se cria, tudo se transforma, voltemos ao pó original, voltemos à velha guarda, voltemos ao que fomos outrora, voltemos às nossas casas; ao útero original.

O retorno é sempre mascarado. Voltar é sempre errado. Não se deve ter de novo o que um dia se abandonou, mesmo que disso estejamos falando do próprio útero, ou do útero original. Sair de casa e planejar a volta é a forma mais errada de sair. Não importa como vamos voltar, só importa mesmo que vamos.

Tem gente que não aproveita a vida, e acaba não dançando. Tem gente que não faz moshpit, mas pior ainda são os que não fazem moshpit mesmo sem gostar da música. Tem gente que nunca dorme no chão, por necessidade física ou psicológica. Tem gente que não janta com prefeitos, nem bebe com vereadores. Tem gente que não aceita o que a vida tem para oferecer. E oras, certo é que ela não oferece grandes coisas, mas é melhor ter quase nada do que nada. Zero absoluto é sempre mais frio.

Tem gente que não aproveita a morte também, esse inconstante ponto e vírgula da vida. Essas pessoas são as piores, porque elas acham que nunca vão morrer, e aceitar a morte é o primeiro passo para se viver a vida, com  quantos pontos finais e úteros originais lhes caibam. Com quantos retornos indesejados se fizerem necessários.

Rever o que já se teve, revisitar o que já se foi, quase 14 anos atrás. E há vezes em que nós nas gargantas nunca serão suficientes. Tem gente que não aceita esse tipo de axioma. Mas oras, quantos quilômetros seriam necessários para se voltar para casa, quando não se tem casa nenhuma? Ou quando tudo o que se tem é casa. Tive casas que foram banheiros, barracas, calçadas, vestiários, e cozinhas sujas. Ou é melhor que e nesses casos. Tive Cascavel, Inajá, e Toledo também. Voltei para todas as minhas casas.

Enfim, voltemos. Ao que seja e ao que for, e ao que fosse, pois o que quer que fosse, foi-se, e acabou, acabou para recomeçar. À velha rotina, aos velhos dilemas, às velhas e rotas poesias apodrecendo em pedaços rasgados de guardanapo de boteco. Todas as vezes que eu tiver o mundo aos meus pés, desejarei o universo. E todas as vezes que eu tiver o universo, bom.. aí talvez seja a hora de voltar pra casa.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ela é uma Praia Quieta no Inverno

Todo continente é também uma ilha, pois que praia nenhuma tem ponto final. Mesmo que hajam rochedos, montanhas, fozes e arrecifes, pois que tudo o que é litoral, costa e beira-mar, é também praia, sendo essa apenas uma, ou muitas, denominação relativa.

Ela é uma praia quieta no inverno, não daquelas que passam uma temporada gerando recursos para nativos que passarão o resto do ano apertados com os ganhos dessa pequena faixa de tempo determinada do ano. Mas sim daquelas dos lugares frios por si só, mais frios do que as pessoas. Aquelas praias de lugares onde as areias têm o costume de não ver a luz do sol. Na paisagem dos olhos dessa praia vejo a busca por paisagens a não se ver. Lúgubre e melancholica.

Em viajar não há ponto final. Também não o há em escrever, pois que afinal de contas, ao final das contas, conta-se que coisa nenhuma tem final. Oras, então porque utilizar-se de métodos de pontuação que não deveriam existir; Se bem que utiliza-se do inexistente a todo o tempo, vejamos bem que por si só o próprio tempo é inexistente;

No entanto, taciturna e angustiosa, a praia, sem ponto final, continua viajante; O primeiro passo é igual ao último; Sem pontos finais, nunca mais; Começos e fins cíclicos, viagens sem volta; Por que utilizar-se de viagens sem volta? Oras, não seria a interrogação uma espécie de ponto final? Digo não, isso pois que ela deixa aberta a porta para uma possível resposta; Respostas são contínuas..

Assim, soturna e aflitivamente, olho os olhos da  praia, esperando resposta; Uma resposta sem ponto final; Dessa praia fria e chuvosa, desse clima amistoso; Pois que praia nenhuma tem ponto final, e assim também o são os escritos;

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre Voar e a Destruição de Nossos Tempos

Dizer que "voar é vencer o ar" é um paradigma muito contraditório, visto que só se voa porque o ar existe. Caracteriza-se então, uma relação de parasitismo, em que se tira ligeiro proveito do ar, de forma prejudicial, pois que com a fabricação de aeronaves, e a queima dos afamados combustíveis fósseis por parte dessas, polui-se-o, esse que é essencial para o exercício de sua mesma existência.

Não tem o que esquecer, quando não há nada para lembrar. A memória é exatamente o principal problema, e é ela que serve pra nos ajudar a não levar mais pedrada. Conquanto por vezes ela falhe, engane, deturpe a existência do real ou do surreal. Ou ainda aquele real imposto.

Eu diria que medo de sentir medo é medo também, mas dizer isso pra quem? Eu diria que se esconder da visão é cegueira também, mas dizer isso pra quem? Estou falando com as minhas vozes. Todas essas colegas de tempos imemoriais, e que, quem sabe?, teria a memória as inventado, como dizendo que "olha, você existiu antes". Mas não, não existiu antes, quiçá nem agora, menos ainda depois.

Voar é abstração, é metáfora também, explicação deveras desnecessária àqueles que têm visão poética. Mas oras, algumas pessoas possuem almas apaixonantes. Filmes reprisados, histórias recontadas. Assuntos demais.

Tudo bem destruir o ar de vez em quando. Tudo bem rasgar o chão e definhar de vez em quando. Mas oras, cuidado com ideologias distorcidas! Cuidado com o estouro da manada! Cuidado com a falta de inimigos, ou mesmo de armas! Não há o que vencer, se não há a quem enfrentar. Como não há o que voar, quando há falta de ar. Como não há o que amar, quando, oras, quando não há.

Voar é uma ideologia também, quando não é natureza. Jimmy diria que "mama, I've gotta try". Não sabe você que todos os heróis já morreram? Em tempos tão opiniáticos, deve-se lembrar que é sempre mais fácil falar do que realizar. Também é fácil falar que é mais fácil falar do que realizar. Difícil é voar. Difícil é aprender a voar sem destruir o ar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Por não Sabermos por Onde Começar, Terminamos

(ou Crônicas de uma Madrugada Descabida)

Nós somos aqueles que bebemos a própria noite em tragos largos. Ela, por vezes, não cabe nela mesma, e se torna proibida, irresponsável, indesejada. E o amanhecer é a maior das mortes.

Houveram tempos em que não se sabia para onde ia. Acho que na verdade, nunca sabemos, continuamos seguindo essa história de "go with the flow", mesmo querendo ser os mestres do nosso próprio destino. Não há muito o que se fazer quando as coisas preferem se fazer sozinhas. Elas simplesmente acontecem, bem ou mal, e a nossa parte nessas histórias simplesmente é acontecer.

Já vivi com o sol alto, já morri com a lua escura. Andamos a esmo, sem rumo ou razão. À noite, ninguém tem razão, estão todos errados, a própria noite está errada. Ela acha que sabe de tantas coisas, não sabe nem mesmo quantas almas agrega, onde começa ou onde termina. Seria a noite aquela cobra deglutindo o próprio rabo?

Ninguém escolhe as próprias horas, podemos no máximo prever, tencionar, querer, mas o que as horas trarão só elas mesmo decidem. E elas te levam, aos caminhos mais insanos e errados. As horas que fazem parte da madrugada te fazem entrar em bares, em bodegas, em purgueiros, nos mais profundos poços da insuficiência humana. Elas te fazem vomitar em banheiros sujos e mal frequentados.

E dançamos. Sim, como dançamos! Nunca paramos de dançar, com a vida principalmente, essa hábil bailarina. E com todas as outras coisas também. Por vezes, somos tirados a bailar; por vezes, precisamos ser aqueles que tiram, numa constante inversão de papéis. Dançamos até mesmo parados, pois dançar é uma excelente metáfora quando se trata de tudo aquilo que não temos.

E pela manhã, bebemos a vida em largos tragos, comemos a vida em fundos pratos, mestres de nossas próprias horas. Pois que pelo menos de vez em quando, as horas se esquecem de mandar, e todos os saguões ainda serão nossos.

Ainda há muito o que resolver, pois que para tudo o que não está morto a vida exige soluções. Decisões. Reimpressões do regular. Tentar reencontrar algo que se perdeu em meio aos passantes, aos bailantes, aos abraços tortos. Certezas incertas. E seguir com a corrente, pretensos mestres de nossos próprios destinos.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sísifo Acorrentado

Um corpo em depressão tende a permanecer em depressão até que Sísifo venha lhe tirar da inércia morro acima, para então, logo depois, cair novamente, numa espécie de montanha-russa estática e eterna. Sísifo, porém, está também a cumprir com sua própria inércia, resultado de sua própria rebeldia. Rebeldias somadas geram inércias e depressões. Assim se criam físicas e geografias.

Escrevo poesias em guardanapos de bordel. Buscando desesperadamente por adicção, invento palavras como quem inventa sentimentos. Invento escreveres como quem inventa contextos e contextualizações. Tudo não são mais do que letras no papel, na tela, ou na cabeça, signos do pensamento abstrato, representações do irrepresentável, abstração do subjetivo.

O amor da minha morte, uma droga que chamem morte, adictiva e intransigente. Em tempos desperdiçados, determinados pela angústia do não-viver, viver é a maior das drogas, morrer é a maior das adicções. Pois que, como já disse, as coisas com muito mais frequência são não do que são sim.

O que devemos e podemos já não importa, toda as lutas estão perdidas, as batalhas são derrocadas e hecatombes desnecessárias. Desesperadamente determinados. Necessário mesmo é fazer vencer a inércia. Oras, essa contradição fisicista! Não se vence, aprende-se a viver com ela, tratam-se acordos, e quem sabe se Sísifo não tenha ele mesmo escolhido seu castigo num acordo tétrico.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Lady Universe

Would you hold my hands
if I called you by your name?
Would our minds, in a stage or another,
be just like the same?

I'd call you Lady Universe
and walk side by side
I'd come you back to senses
if my time of helpin' will be
There's a whole world to find
a whole time to bind
some couple of hours to be
a lot of our lives for me

And then there's me
and then there's you
Would you hold my hands?
just give me thy hands
and I will give you thy name
For Lady shall be Universe

Not just the same
just about no name
Why not holdin' hands
when time is coming to end

I like your mind
I like your time
I like the way
You just say 'hi'
I like it we can call Universe
I like it Lady

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Faz muito frio nesse coração
Minhas tripas se reviram
Se cansaram desse corpo
Não há de ser nada
Só há de ser
Não tem diferença
Entre querer e haver
Não é muito o que pode
Apenas poder de decidir
Mas é demais o querer
E está tudo tão longe
Se deteriorando
Decompondo
Morrendo
Nesse exato momento
Minha amiga me chama
Estou quase aceitando

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Noite

Em todos os períodos da humanidade, quando essa se viu tentada a explicar os fenômenos naturais fazendo uso das mais variadas crenças e religiões, de alguma forma ou de outra, em um momento ou em outro, a noite precisou ser separada do dia. Pois que no início.. No início tudo eram trevas.

Duas entidades tão distintas, porém de formas tão coincidentes, assim são Selene e Hélios, os padroeiros e representantes das duas principais divisões temporais dos dias. Claro que poderíamos também falar em crepúsculo e aurora, os eternos meio-termos, momentos duvidosos, porém de beleza incomparável. No entanto, ou se é dia ou se é noite, algumas pessoas são dia e algumas pessoas são noite.

A noite existe como válvula de escape, resultado da rotação, uma das maiores maldições que existem. Válvula de escape para resfriar um mundo que, do contrário, seria ainda mais frio e desaconchegante. Por mais que aquelas explicações deem conta de forma abstrata, está empiricamente comprovado que a noite vem tanto antes quanto depois do dia, sucessivamente, há quanto tempo se possa parar para imaginar.

E é durante a noite que toda essa vaga liberdade que tanto buscamos toma conta das ruas. Quando o sol se esconde, de puro medo, e Selene vem para reinar sobre esse reino compartilhado, é então que todos os sonhos mais ímpios e sujos se tornam realidade. Nas ruas, nas mesmas ruas onde nossa geração se localiza. À noite, a mesma noite que faz ela se sentir tão bem.

A conjunção desses dois fatores sórdidos cria o ambiente perfeito para a propagação das criaturas dessa geração. Como um ser unicelular que só existirá se todos os fatores necessários se fizerem presentes, pois que viver pela metade é o mesmo que não viver.

Então, a situação se desenvolve; o contexto está inserido, o cenário está preparado, e os atores estão plantados. Essa geração determina as matizes de seu próprio zeitgeist, construindo e vivenciando sua própria construção social. Todos os caminhos levam à rua, e todos os caminhos estão escuros, pois é noite.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Rua

Camadas e mais camadas de coisas mortas, meros recondicionamentos do próprio tempo. Extração, filtragem, preparação, alinhamento, e produção, tudo aquilo que respirou há de um dia fazer respirar. Uma massa negra de composto químico-orgânico. Lasanha de petróleo.

Os dias acumulam-se um diante do outro, esperando que chegue a sua vez de estragar com tudo. As noites revezam-se na tentativa de amenizar o caos e o terror dessas vidas. Mas o caos e o terror são benéficos, agem em prol do tempo, agem de acordo com as vidas, com a noite. A noite é possuída pelo caos, ele é visto em cada esquina, em cada amontoado de petróleo. Nessas massas negras de asfalto.

A rua não é necessariamente apenas a rua. O asfalto. A massa negra. Tudo o que não é casa, é rua, quando envoltas pela negritude da noite, e apoiadas pela negritude dos asfaltos. Em todos esses lugares frequentados pela nossa geração, os becos, as travessas, as esquinas com placas deterioradas pela própria noite. A noite não gosta de nomes que as definam. E as ruas não precisam ter nomes sendo que elas têm vida.

Todas as ruas são uma só, são a morada dos melhores cachorros, dos melhores animais, e dos mais terríveis sonhos. É nelas que encontramos o mesmo que perdemos, e perdemos tanto quanto encontramos. Nas ruas, temos a oportunidade de ter o mundo aos nossos pés, e de sermos arrastados pelo asfalto, ficando aos pés do mundo.

É nas ruas que a nossa geração se localiza, se identifica e se pluraliza, essa geração que vem sendo moldada nas últimas décadas, que vem perfazendo uma trilha única e multifacetada ao mesmo tempo, ao longo do tempo. Afinal, todos os caminhos levam à rua.

Esse é a primeira parte (um prefácio talvez) de um tratado que pretende compreender o zeitgeist do nosso tempo, o desenrolar dessa geração que prefere as ruas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sobre Números e o Depois que Nunca Chega

Sempre gostei de números, é uma habilidade natural de certa forma incongruente com a lógica jornalística. Porém, prefiro os números maiores, acima de 7, sete é um número legal, e todos os terminados com eles. Odeio os números redondos, são coisa de gente acomodada. Talvez por isso a Física seja minha ciência favorita: anti-acomodação e pró-números.

Se a mim fosse dada a incumbência de escrever as enciclopédias, assim eu definiria o verbete 'ser humano': "s.m.: única criatura dotada da capacidade, da habilidade suprema, de procrastinar todas as coisas". Assim, pagamos em 12 vezes. Doze também é um número legal, mas não para atitudes financeiras procrastinadoras.

O agora é o momento em que as coisas acontecem. O futuro é abstrato, nada mais do que uma projeção do que planejamos e queremos que seja, e sonhamos que assim será. Dá-se características numéricas para datas e valores que ainda não aconteceram, e que, grandes chances de, nunca acontecerão. Procrastinar é criar pré-requisitos para um futuro hipotético. Vive-se de amanhãs.

A memória, em geral, está no passado. No entanto, essa vontade humana de deixar para depois faz com que tenhamos saudades do futuro, daquele futuro maravilhoso que desejamos, mas deixamos para depois as atitudes que poderiam fazer ele acontecer. Por isso, é possível ter memória do futuro.

A física, e seus números, nos diz que não podemos lembrar do que ainda não aconteceu. E que, por isso, não podemos nos prender ao futuro, ao eterno depois, devemos viver de agora, e aumentar as probabilidade do futuro que queremos que aconteça. Há que se viver de fatos, de fazer os fatos acontecerem, de não pagar em 12 vezes o que pode ser realizado em apenas uma. Pois que, fatalmente e (por que não?) felizmente, algumas vezes o depois nunca chega.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sinestesia

A menina dos meus olhos não tem olhos para mim. Tem sido muito difícil enxergar, fisicamente e abstratamente, abstrai-se a mente e mesmo assim não se vê, não se enxerga o que está diante dos olhos. Pois que o que está diante dos olhos insiste em fugir e dizer, para si mesma e para os outros, que não está. Já desejei cegueira total, seria o cineasta sinetesta, criaria correntes e faria história. Oras, pois se o senhor Ludwig foi surdo ao fim de sua vida...

A repetição do nada não é repetição, é apenas continuidade. Repetição só acontece se a coisa existe uma vez para depois novamente, e assim infinitas tanto quanto infinitas forem. O nada só atrai mais nada, a menos que algum dia ele comece a ser alguma coisa, então não será mais continuidade, pois da segunda vez que for, será repetição. Até agora, tenho tido muito nada. E também muita repetição.

Há que se sincronizar a vida, e algumas sincronias são maravilhosas, e, quem diria, surpreendentes. Oras, pois que tudo deve fazer parte de coincidências com alguma coisa, no entanto algumas coisas são coincidências planejadas, nada mais, e ainda assim sincronia. Cada escala da partitura da minha vida foi composta num tom diferente, assim é tudo tão dissonante. Não há de haver corações pulsando na cena do homem de lata.

E há ainda mais que se sincronizar a vida com essa eterna repetição. Esse eterno amontoado de nadas. Não enxergar é um nada, porém é um nada que primeiro necessita de um tudo. Não existe cegueira sem antes ter existido olhos. Ver é mais difícil do que enxergar. E quem sabe se o surdo, ou um sinetesta, poderia sincronizar as escalas de tons, e produzir harmonia nessa vida. De qualquer forma, o nada já é alguma coisa, pois que, como já disse, todo buraco está cheio de vazio.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre Trancar a Porta do Banheiro

Sentados na varanda daquela casa, em meados de alguma época, em fins ou começo de outras, pois que tudo são épocas, e determinar qual é qual só depende do ponto de vista. Sentados lá, é que eles viam o quanto aqueles velhos fantasmas faziam falta. A correria dos gatos pela casa, procurando por todas as horas que lhes faltavam; a insipiência das paredes, que ao contrário do que dizem, só sabem mesmo continuar em pé; a inação dos objetos móveis de grande porte, contemplando por suas pequenas eternidades tudo o que ainda restava.

Sentados sim, pois que a todas as pessoas deveriam ser feitas referências no plural. Ninguém é um só. Mas todo mundo é só. A companhia dos fantasmas não assombrou naqueles tempos áureos, a sua ausência sim assombrava. Medo da não existência, pois que é mais fácil temer o que não se vê. E quando se vê fantasmas por tempo demais, eles acabam se tornando nossos amigos.

Algumas fotografias serviam de lembranças, mas a melhor câmera fotográfica ainda há de ser a memória, seus registros são mais vivazes, mais intensos. É certo que há o risco de se perder tudo com qualquer pequeno acidente, mas a que(m) estamos enganando? Há constantemente o risco de se perder tudo, ou de se ganhar. E com tudo o que se perde, se ganha também. Afinal, a ausência de fantasmas pode também ser considerada uma vitória.

Registros inertes e insipientes, a todo momento recuperados. E se pergunta porque ainda devemos trancar a porta do banheiro. Por onde andam aqueles fantasmas que os espionavam? Naturalmente, não foi a inação que os fez assim. Andam sozinhos pelos corredores, procurando pelas horas que lhes faltam, esperando uma resposta ou uma ação.

Assim, no plural, sendo mais de um em um só e só. Com a porta trancada, esperando que voltem os fantasmas. Em silêncio, cogitando a inação, contemplando a eternidade dos momentos. Em qualquer coisa que possa ser usada como uma boa analogia para varandas. Varandas nem existem mais. Fantasmas nem existem mais. Aqueles fantasmas devem estar sentados em suas próprias varandas, com a porta do banheiro aberta.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Storytelling

I always liked learning and discovering things I've never had before. To learn the english language was a kind of opportunity that just made itself. As idle times pass by, you always gather something new. You can learn even with nothing.

Some people may believe in fate, I do believe in choices. Destiny is nothing more than a construction of every little choice you make, just put together. Every little choice opens up the opportunity of other choices, creates new ones. Every road that splits in two, has two more roads to be splitted when time comes.

Storytelling may be the art of telling stories, and may seem obvious as it is, but to tell stories is an art, and this is not obvious. No story has ever told itself, stories are made out of people who tell stories. It is, also, one of the things that I like to do the most, and being part of the stories you are telling is even better. People are made out of stories.

Sent later the due application, got late to the test, hasn't had a pen... All of this, put aside, when that plane arrived, and those 19 people left it. Fate may have worked to make those amazing ten days happens. To make then what they were, but choices made it before. The choices of telling stories about fate...

And so has come to an end the best partnership ever... until september.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Caveiras

No final das contas todo mundo é caveira mesmo. Não faz assim tanta diferença quando a pele já está decomposta e apodrecendo. Para os vermes, somos todos a mesma coisa, apenas matéria sobre matéria que por algum motivo banal, de uma fagulha acesa lá na sopa primordial, resolveu sintetizar RNA, e hoje respira.

Então aparecem os dentes, compostos calcificados e duros que demoram bem mais a se deteriorar. E lá está a caveira rindo para você, de todas as suas desgraças, mas mais ainda das desgraças dela própria, que por si só é uma graça. Pois que ela é a própria representante da benção dos homens, aquilo que foi renegado aos firstborn, o final absoluto e supremo a que todos chegam.

É engraçado como a maioria das pessoas pensa que é feliz. Feliz de quem sabe que é infeliz. A grande maioria das pessoas não chega nem minimamente perto de ser minimamente feliz. Mas elas pensam que são. E agem como se fossem, e fazem os outros à sua volta agirem como se todos fossem felizes. Mas você pode ver isso nos olhos delas. Não a tristeza, pois que essa é uma magia de poucos e belos, e uma das coisas mais lindas que existe. Mas sim a pura e serena infelicidade, ou, deveras óbvio decompor o substantivo: a ausência de felicidade.

E então coloque as pessoas sob pressão. Elas demonstrarão ainda mais essa ilusão, sentirão todo o pesar da grande mentira que vivem sem perceberem. E por vezes elas até percebem, mas é muito mais bonito continuar se enganando. Mas é tudo passageiro, e elas sempre darão um nome relativista à situação, e claro, a culpa será de agentes externos, nunca de suas próprias caveiras. Mas isso não muda o fato de que elas definitivamente não são felizes.

E assim, todas as caveiras infelizes se passam por felizes a todo o tempo. Todos aqueles dentes à mostra escondiam muita coisa. E elas não conseguem entender, ou não querem entender, o fato. No dia seguinte, continuam com os assuntos interrompidos, com o curso de suas vidas, com as caveiras sorridentes, até que no fim sejam só caveiras e dentes.

sábado, 9 de março de 2013

Prédios

Abriu a janela lentamente. Dezessete andares de queda livre o observavam de baixo para cima, tal qual o maldito abismo de Nietzsche. Mas o abismo nunca olha de volta porque você olhou primeiro, ele na verdade não se importa minimamente com quem olha ou deixa de olhar pra ele. A visão que tinha diante de si estava, além de tudo, presa às leis de Newton, ela caía, sentia a gravidade. A gravidade que nos prende ao que nos importa, que deixa perto de nós todas as coisas. Mas é ela também que torna aquele abismo de tão intenso. É Isaac Newton que faz com que Friedrich Nietzsche seja tão perigoso... 

Adorava janelas. Tinha uma leve queda por prédios. Janelas são o ápice da liberdade, por onde todas as coisas podem passar, entrar e sair, sem condições ou obrigações, por onde voam aqueles que estão presos ao céu. Ficou observando por longas horas, mas que pareceram minutos, tinha de lá uma bela vista, que começava no céu e descia à cidade, atingindo o chão. 

E é no chão que está a base de todas as coisas, mesmo tudo o que voa esteve um dia no chão quando nascido. Tudo o que está preso ao céu, está também fatalmente e primeiramente preso ao chão. Lá estão as estruturas que permitem a existência desses dezessete andares, é novamente o céu preso ao chão. 

Afastou-se lentamente da janela, mas a manteve aberta, deixando passar por aquele retângulo toda a liberdade existente. Sentou-se no chão do apartamento, um chão construído no próprio céu, por aquelas mesmas bases. 

Pegou um bloco de liberdade na mão e o depôs sobre outro, começou então a preparar uma pilha de liberdades. O céu continuava passando pela janela lá fora, e no céu o tempo deve passar mais devagar. Pássaros são os principais e mais belos viajantes no tempo que existem. 

A pilha de blocos estava cada vez maior, então ele puxou o bloco que sustentava a base, e deixou que todas aquelas liberdades caíssem. Elas desmoronavam uma a uma, ocupando os espaços que lhes cabiam em sua nova configuração existencial. Desciam em câmera lenta, não, lentamente mesmo, mais devagar do que a gravidade as puxava, mais devagar que o próprio tempo, mesmo no céu. 

Pois então caindo, ele assim poderia diminuir a velocidade do tempo... Ao menos era o que parecia. Voltou a se encaminhar para a janela, observar mais um pouco. Percebeu então que construíra e destruíra suas próprias liberdades, e que podia agora construir e destruir o seu próprio tempo. Dezessete andares. Quão devagar passaria o tempo ao longo de dezessete andares? Juntou novamente suas liberdades. Janelas são, reafirmamos, o ápice da liberdade. 

Era um mundo intenso aquele. Vivia regurgitando vidas. Usava blocos para tudo, eram dezessete andares de blocos. Entre os espaços ocupados do mundo, permeava-se o vazio de solidão. E sabe-se que há muito mais espaço vazio do que ocupado no universo. Ou talvez os espaços vazios estejam de fato ocupados de vazio, pois um buraco está sempre cheio de vazio. De qualquer forma, era muita solidão. 

Por isso, ele construía o seu próprio mundo, se utilizando daqueles blocos, das liberdades, do seu tempo, um mundo de fantasias, mas que eram por muitas vezes mais reais do que a realidade em si. Mas ele olhava pela janela, observava o céu, e via o seu próprio tempo passar. Pelo seu mundo. 

Uma ave então passou zunindo, bem próxima, cruzando o tempo. Uma fantasia ela também, uma solidão, um espectro alado de solidão viajando no tempo. Pulou. Dezessete andares, e que passaram muito lentamente. Teve tempo de observar cada centímetro e cada segundo da queda, o tempo passava bem devagar. Visualizou todo o mundo que havia construído, as bases, e vivenciou todo o espaço vazio de solidão que existia no universo daquela queda. 

Então, em determinado momento da lenta queda, o tempo parou, e assim a queda também. Ficou estático em pleno ar por um mísero instante, e, logo depois, viajou no tempo. Passou por uma espécie de vista virtual de si mesmo, teve uma projeção astral e se viu viajando no tempo. Subindo novamente, dezessete andares de ascenção dessa vez. 

Viajar no tempo é um mundo de fantasias também, de solidão e de liberdade. Viaja-se sozinho, mas é a melhor viagem possível. Destrói-se blocos, e os reconstrói de outra forma. Passa-se sozinho por todas as eras, por todas as coisas, sem a companhia nem mesmo do mundo real. Viaja-se de fantasia. 

Parou novamente na janela. E novamente pulou. Dessa vez, sem viagens no tempo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Quero Morrer numa Festa

Odeio essa inquietude e essa angústia, porém não consigo viver sem elas. Acho que é assim que as pessoas são, odiando o que são e o que fazem, mas nunca se livrando disso, porque se livrar disso seria se livrar delas mesmas, e tenho a impressão que isso ninguém quer, ao menos não conscientemente.

O câncer talvez seja a melhor das doenças, pois ele faz com que as pessoas se livrem delas mesmas. O amor é como um câncer, uma deformação nas células, uma mutação, que faz com que elas se multipliquem descontroladamente. O amor talvez seja a melhor das doenças. Ele faz com que as pessoas se livrem delas mesmas, criando universos paralelos de mundos fantásticos, onde a tendência de tudo é dar certo. Repito, tendência.

Mas a paixão platônica talvez seja uma doença ainda pior, ou melhor dependendo do ponto de vista, pois para ela não há remédio. Pensamento polifásico é placebo, projeção do sentimento adquirido na musa é placebo, a própria imaginação é placebo. Mas lindas mesmo são as paixões platônicas que duram algumas horas apenas. Dentro do ônibus as vezes, uma vez por dia. Ou numa festa.

Cachorros de rua estão sempre em festas. Conglomerados de selvageria em meio à selva urbana de civilidade. Agora, quem saberá dizer qual animal é o mais selvagem? Se você levar um cachorro de rua para casa, tratar, dar banho e alimento, cuidar com carinho; não importa, ele vai pular o portão e fugir, cheirar cus por aí e rolar na terra, e por fim pegar sarna. É o que eles fazem, e é o que nós fazemos. Uma vez cachorro de rua, para sempre cachorro de rua.

Na rua também há câncer, e talvez também haja amor... Talvez o próprio câncer ame. Oras, por que não? Talvez ele sinta uma espécie de amor autodestrutivo pelas células que ele mesmo cria, talvez ele até faça isso porque ama demais. Porque, afinal, o amor é de fato uma das melhores doenças. E é também autodestrutivo.

Meu colchão melhorou, o emprego melhorou. Mas melhorar nada mais é do que apenas ficar menos pior. Quem sabe se assim o amor também melhore, ou despiore. E também essa paixão platônica de festa, com uma pitada de câncer. Por isso tudo quero morrer cachorro de rua. Quero morrer numa festa.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Musa Criatura

Se tu não existisses eu te criaria sob a forma de poesia
Para que o mundo pudesse ver, ler e saber
Que eu seria o seu autor, e você a minha musa
E se, por outro lado, minhas habilidades fossem outras
Se eu soubesse e me expressasse por cores
Então eu te criaria em telas, em óleo sobre tela
Em intensas aquarelas, de intensos fulgores
E se um músico eu fosse, hábil com sons
Então te faria com notas e ritmo, batidas e acordes
Te criaria a mais bela, e tu serias melodia
Mas o que faço é escrever, o pouco que faço
Então te desenharia com letras, palavras e versos
Preparados, conectos, pra que formassem você
Pois se tu não existisses, tenho certeza que eu a criaria
Sob a singela forma de uma intensa poesia

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Os Amanheceres da Gralha Triste

Costumo adorar os amanheceres da Gralha Triste. Há um leve cheiro de interior no ar, naquela vila cercada de mato por todos os lados, uma ilha de concreto, que faz divisa com os territórios da notória Petrobrás, e suporta ainda os gases da pouco visualizada Termelétrica. Mas há um quê de cheiro de vaca, talvez proveniente daquela granja que sempre dizem que vai fechar. Oras, mas pois se na granja há frangos, e não vacas, não me perguntem então quais cheiros são esses.

Respiração, aliás, é sempre exceção e nunca regra nessa vida. Com frequência a noite traz gostos estranhos para essas bocas. Mas as vezes é bom simplesmente não respirar, por quanto tempo se possa suportar a asfixia. O que tivemos um dia era nada, hoje é quase tudo, mas tudo o que não é tudo, não é nada mais que nada. Ou se é tudo, ou se é nada.

Por isso as coisas mudam, muitos tudos viram nadas, e vice versa. E há que sempre estar mudando, pois a continuidade é sempre entediante, mesmo quando desejada. Sempre que possível, contribui-se para as mudanças, mas quando faz-se a própria se a própria é sempre adiada. As coisas continuam... Como as reticências continuam infinitamente até que parem. Pois que tudo para, mesmo as mudanças. Dizem que toda mudança é boa. Mas algumas mudanças não são desejadas, e nem tudo o que é bom faz bem.

E se as histórias são contadas do ponto de vista do vencedor, o que dizer das histórias que ainda estão sendo construídas? Não há vencedor, todos foram vencidos. Todos derrotados. Mas a história continua sendo construída, e fazer parte disso é fazer a própria história, mesmo que não ativamente. E mexe-se em vespeiros a todo momento. As mudanças seguem norte acima, com o fluxo daqueles mesmos Telles-Pires de outrora.

Meu escrever é obsoleto, meu respirar é obsoleto, minhas mudanças são obsoletas, e até a Gralha vai ficando velha. Tudo continua nada e vice versa, por mais esforço que se faça. É certo que ainda temos nada, mas não vejo problemas em chamar nosso nada de tudo. Ainda vou te tirar para dançar. E mesmo agora, com tanto mato, um mais grosso, continuo adorando os amanheceres da Gralha Triste.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Pessoa é para o que Nasce

Todo mundo deve nascer para alguma coisa. Nem que seja pra respirar e morrer de novo. De novo não, pela única vez, porque afinal só se morre uma vez na vida. Viver, isso se faz o tempo todo. Todo mundo nasce para ver as madrugadas. Dormir é a maior das perdas de tempo. Pra viver entre o crepúsculo e a aurora é que não durmo, dias cheios de compromissos, noites cheias de madrugada.

Adoro as madrugadas. Melhor horário do dia. E o início da manhã também, com o sol preguiçoso tentando tomar coragem pra sair. Com os sons das aves urbanas, sobreviventes, maiores guerreiras de suas famílias, que conseguiram se adaptar à vida não-tão-selvagem. Com essa vertigem que uma neblina fúnebre causa de vez em quando. Sinto falta das neblinas do inverno.

Deixe a loucura te guiar. Pra quê razão? Já existe realidade demais na vida real. Vamos viver o nosso surrealismo. Cortar um pedaço da noite com uma foice de plástico, e fazer dela um refúgio. Não acordar nunca mais, porque o amanhecer não merece tanta glória. Stay back sun! Deixe-se vencer pela preguiça, não nasça nunca mais, pois que você sim faz isso com muita frequência! Se nasces e morres todos os dias, então pra quê viver?

Até mesmo o sol, a neblina, e as madrugadas devem ter nascido para alguma coisa. E mesmo que sejam monotemáticos, o fazem muito bem. Imaginemos a responsabilidade de aquecer e proteger um mundo inteiro! Alguns mundos nem são tão grandes assim, e a responsabilidade de aquecê-los pode muito bem ser a mesma. São grandezas relativas, aquecer e proteger deve ser sempre uma responsabilidade.

Todas as pessoas nascem para ver o sol, apesar das madrugadas. O yin-yang universal, o dia e a noite. E alguns podem até preferir isso. Mas todo mundo também não nasce para algumas coisas. Ninguém nasce para tudo, porque tudo é muita coisa. Todo mundo é muita coisa. É preciso não ser algumas coisas, e é por isso que algumas pessoas não dormem.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Mundo dá Voltas

O mundo dá voltas. É lugar-comum dizê-lo, porém é a mais pura verdade científica. Já pararam pra pensar que se a Terra fosse quadrada, e seu eixo de rotação não fosse inclinado naqueles 23° e qualquer coisa; não haveria ventos, nem diferença de estações, nem marés e tantas outras coisas? Nem mesmo vida haveria. A vida existe porque o mundo dá voltas.

Esse contínuo processo biológico ao qual resolveram dar um nome. Respiração e transpiração. E quem teria sido a primeira criatura a tentar explicar o porquê disso? Maldita descoberta acidental do fogo. Maldita pedra lascada. Maldito ribombar dos ossos preteridos como armas. A humanidade é amaldiçoada desde os seus primeiros dias.

Um dia se tem tudo, no outro nada. Um dia se tem as árvores, e a caçada imperiosa do instinto. No outro dia se cria a caça em currais, e as árvores são essas folhas brancas ao teu lado. O rascunho, outrora árvore, é agora usado pra falar mal da sua própria existência, num inception de rancor. Um dia se tem trenzinhos, no outro braços que são abraços. Um dia alienígenas, no outro não-filmes.

E alguns dias podem ser reservados para chorar. Essa maldita evolução nos tornou ainda a única criatura capaz de chorar com lágrimas. Pois que o mundo dá voltas, e elas por vezes param novamente no Mato Grosso. E respirar é o ato mais egoísta que existe. Típico dessa espécie mesquinha que desce de árvores.

A humanidade exagera a sua própria utilidade. Haviam macacos naquelas árvores, hoje eles as derrubam. Chorar não deve ser a mais nobre das capacidades, nem mesmo o fogo o é. Mas suponhamos que você tenha infinitos macacos, coloque-os sentados à frente de infinitas máquinas de escrever durante um período de tempo infinito. Cedo ou tarde um deles digitará uma obra de Shakespeare.

E se os macacos podem fazer, nós, sob responsabilidade menor da aleatoriedade, também o podemos. E talvez por isso o fogo, a pedra lascada, e os ossos sejam um pouco menos amaldiçoados. Por isso temos alienígenas, e essas ex-árvores, e trenzinhos, e lágrimas, e o Mato Grosso, e tudo e nada ao mesmo tempo. Porque o mundo dá voltas...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Vermelho

Vermelho é a cor da discórdia. A maçã que Éris atirou às deusas era vermelha. "À mais bela das deusas". E quem poderia dizer qual delas é a mais bela? Por isso Heitor morreu. E quando os deuses resolvem se intrometer nas contendas dos homens, o que está para acontecer não pode ser menos do que épico.

Ainda vai levar um bom tempo para que se apaguem as manchas vermelhas daquele banheiro, não importa quanto tempo durem essas vidas. Pois que algumas vidas podem durar apenas um respirada. Ou um suspiro. É também a cor da paixão, e se se apaixonar é assim tão difícil, por que definir e escolher uma cor para esse sentimento? Alguns amores podem durar também apenas um suspiro.

E quão terrível pode ser quando os deuses resolvem se intrometer nos amores dos homens? Não acho que eles façam isso, apesar de por vezes eles próprios fazerem parte desses amores. As definições dos níveis de gostar e se apaixonar são como os tons de vermelho. Cinquenta tons de vermelho numa paleta cromática que, na verdade, tende ao infinito. Não que paixão seja infinita, apenas as cores a são.

Não gosto de artigos, por isso meus títulos são sempre um substantivo, ou adjetivo, ainda as transformando em nomes próprios. Acho que todas as palavras têm o direito de, ao menos uma vez na vida, serem um nome próprio. Não é um vermelho, é o vermelho. Todos os amores têm também esse direito. Não é um amor, é o amor.

As linhas são tênues e sinuosas, divisões metafísicas, apenas outra forma de catalogação. Os diferentes tons de vermelho são só subdivisões, e alguém poderia chamar qualquer um deles de laranja. Gostar é só gostar. Paixão e amor são apenas títulos de nobreza, disputados pelos pequeno-burgueses da vida conjugal. Gostar é grande por si só.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Glória

Vez por outra na vida de um sujeito, ele deve passar por um momento de enfrentar a glória. Deve olhar nos olhos da conquista, apertar as mãos da vitória. São momentos singulares, e singular é uma ótima palavra. Plural é singular, e singular não deveria ter plural.

O medo é apenas uma imposição. Nada mais que uma forma de coerção da pessoa para consigo mesma, pois que você não é capaz de fazer o que tem medo de fazer simplesmente por ter medo de fazer o que você não é capaz de fazer. O que não é o que não pode ser.

Frente a frente com a glória, o sujeito pode muito bem sentir medo. A glória é realmente aterrorizante, cara a cara com ela você sente que o que pode acontecer é tão bom, tão épico, tão glorioso, que não vale a pena arriscar que aconteça. Vale mais a pena limitar a glória. Pois que a glória gera responsabilidades, e ainda mais expectativas.

Todo mundo busca objetivos inalcançáveis, porém saber que algo é inatingível e continuar buscando é um realismo inconsequente. E é muito engraçado querer algo que você tem certeza que nunca terá. É melhor não saber. A vida é mais platônica que muitos amores.

Mas não é errado ter esse medo da glória, errado é deixar ele tripudiar sobre a própria vitória. Ainda há tantas glórias quantas possíveis sejam ganhar. E existe ainda muito medo, tantos quantos possíveis sejam sentir.