sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Retrospectiva

Nenhum ano que começa com sidra com gosto de vômito dentro do ônibus dirigido por um motorista que buzinava para todas as pessoas na rua, nenhum ano que começa assim pode ser ruim.

E agora é aquela época de todas as retrospectivas, acho essa a maior prova de que o homem ainda deveria estar fazendo fogo batendo pedras. Não dá pra acreditar no potencial de uma criatura que precisa de datas estigmatizadas pra fazer acontecer alguma mudança em suas rôtas vidas. Somos a espécie do “ano que vem eu faço” “ano novo, vida nova”. E as coisas são todas as mesmas tanto em 31 de dezembro quanto em 01 de janeiro, apenas mais um nascer do sol.

Ano de dias épicos, dias de ano épico. Uma época épica. Seriam poucas as linhas para descrever o que de tão intenso existiu, e que ainda existe. Pois que tudo o que vivemos continua lívido enquanto existir lembranças. E a memória é a própria forma de fazer as coisas perdurarem. Além de sua principal função, que é evitar que levemos mais pedradas.

Então, podemos até dizer que retrospectivas são necessárias, para não deixar com que as coisas que existiram deixem de existir. É como escrever uma frase num caderno e guardá-lo em algum canto remoto. Ele um dia será localizado, e aquela frase esquecida deve voltar à vida que um dia teve. E as pessoas precisam realmente botar vírgulas em suas orações para fazer as frases terminarem. Virada de ano é o mais universal dos checkpoints.

É bom observar as fotos, a memória virtual, pois que hoje em dia nem físicas mais as fotos são. Apenas meras representações pictográficas de um momento, digitalizadas em uma espécie de santuário das coisas que não existem de verdade. É bi-virtual. Memória da memória. O que é mais real? A foto, ou momento que ela representa? Ou seria ainda a memória viva daquele momento, e daquela foto? Talvez todos juntos não cheguem a formar uma realidade.

Foram quatro canecos de chopp ganhos; um comboio pra Araucária; piscina de madrugada; danças germânicas de madrugada; um livro; pré-carnavais; amigo punk; a morte e seus amigos; um prêmio estadual; os dois melhores shows com dois dias de diferença; umas maratonas; um videoclipe finalizado porém não concluído; um reset; cama elástica na chuva; sonhos e surrealismo; muito reconhecimento; uma ilha inteira; o Mato Grosso inteiro; madrugadas inteiras; vidas inteiras; e tanto quanto mais eu possa ter esquecido, pois que nem toda memória é assim tão estimulável.

Enfim, no fim, apenas do dia, do ano, ou o que quer que seja. Para que comece de novo, tudo igual, mas tudo novo, com essas representações tão necessárias quanto dispensáveis. Para que ano que vem seja tudo igual, mas tudo diferente. Pra melhor.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A Alma Forte

Estou em Lua
Vivendo de morte
Minha alma nua
Não tem tal sorte

Continente ativo
Conteúdo inerte
Vivendo passivo
Insensível infértil

Se o corpo conquista
O que essa alma tange
Todo esforço avista
A vida que passa longe

O coração padece
Essa alma expira
O corpo estremece
Mas ainda respira

Tudo o que eu tenho
Faz essa batalha
Caixa e o que está dentro
Ou algo que o valha

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Personagens

Creio que Bukowski adorava gatos. E frequentar essas rodas de poker é como ir aos páreos de cavalo. Dizem que dá pra ganhar muito dinheiro por lá mesmo sem jogar, com determinada habilidade. Mas é determinante uma relativa preguiça dessa obrigação monetária.

Ninguém nunca morreu de opinião, essa doença tão frequentemente transmissível. Certa vez falaram que essas personagens não têm vida. Oras, isso se dá pelo fato delas não serem reais, não podem mesmo ter vida, isto está reservado para as criaturas que usam oxigênio de alguma forma. Não vejo motivos para passar dos 40 anos de idade. Passar tanto tempo gastando oxigênio. Essas parcas personagens sem vida viverão muito mais do que nós.

Há ainda aqueles que levantam bandeiras, por Bukowski ou pela causa dos gatos. Oras, os gatos podem se virar sozinhos, só precisam mesmo de alguma coisa pra matar de vez em quando. Para levantar uma bandeira, a pessoa deve também aprender o hino, defender o brasão, cumprir com todos os deveres cívicos enfim. Mas as vezes algumas bandeiras são necessárias, ou podemos simplesmente nos esconder atrás delas, o que é suficientemente cômodo.

Poderíamos debater o dia todo sobre árvores que crescem no concreto, os oásis dos tempos modernos, urbanidades tão vívidas. E como fazem elas com essa escassez de oxigênio? Oras, elas mesmas o fazem. Todo mundo já desejou fazer fotossíntese. Elas levantam as próprias bandeiras, sem se preocupar com quanto tempo viverão.

Poderíamos jogar poker valendo cavalos. Poderíamos ter gatos e bandeiras, bandeiras com gatos. Poderíamos consumir todo o oxigênio que nos for permitido e convencionado. Pois a própria respiração é mera convenção. Criando nossas próprias personagens e levantando as bandeiras delas. Pois que essas coisas sem vida não podem nem mesmo respirar sozinhas.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Amadeus

Bin Laden morreu!
Saddam morreu!
W. Bush morreu!
Arafat morreu!
Gandhi, Madre Teresa,
Einstein, Diana Princesa

Todo mundo morreu
Todo mundo sou eu
O mundo é meu
Eu sou meu deus

Amadeus, Amadeus, Amadeus
- quem é você?
Amadeus, Amadeus, Amadeus
- eu sou eu
Amadeus, Amadeus, Amadeus
- mas eu sou deus
Amadeus, Amadeus, Amadeus
- eu sou mais deus

MORREU! MORREU! MORREU! MORREU!

Agora todo mundo sou eu
Agora todo mundo sou eu

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Voyage au centre de si mesmo

A mais fabulosa viagem que alguém pode fazer é a viagem para dentro de si mesmo. Sem precisar comprar passagens antecipadas em três meses para que se aproveite uma promoção falaciosa. Sem precisar juntar trapos em uma bolsa desfigurada. Sem precisar sequer planejar com qual vizinho indesejado ficará as honras de alimentar o cachorro.

Há ainda diversos outros benefícios: dentro de sim mesmo, as paisagens são as mais exóticas que uma pessoa pode ver algum dia; os animais são dos mais estranhos, chegam a lembrar aqueles peixes abissais que vez por outra são encontrados mortos nas praias desertas. Dentro de si mesmo, cada mísero centímetro quadrado tem o poder de surpreender e assustar.

Um corpo cheio de coisas pode estar cheio de nada. Vísceras são alguma coisa, porém depois de mortas são nada. Um buraco está cheio de vazio. É possível preencher o espaço vazio de um buraco, ou de um corpo, com qualquer substância. Mas ao preencher esse espaço, ele não deixa de estar vazio, pois que o vazio apenas muda de lugar. O vazio é cíclico e, cedo ou tarde, volta para preencher. É impossível estar sempre cheio.

Todo castelo foi construído para desmoronar. Cada pedra colocada em sua estrutura tem em sua própria natureza a intenção de ruir. Areia nada mais é do que uma rocha que envelheceu. Pois que o tempo passa para todas as coisas, vazias ou não. E uma rocha está sempre cheia; cheia de areia dentro de si, e mesmo assim vazia; vazia de castelo. Pois que uma rocha sozinha nunca será castelo.

As ideias desmoronam, as pessoas desmoronam. Muito mais, inclusive, do que os castelos. Dentro de si mesmo, cada pessoa desmorona, e essa viagem deve servir não para evitar esses desmoronamentos, mas para reconhecer a areia da rocha velha.

Dentro de si mesmo, há que se preencher cada vazio com essa areia, como uma ampulheta antropomórfica que não está contando o tempo, mas sim a vida e a não-vida. Dentro de si mesmo, há que se responder se vale mais a pena ser problema ou solução, teorema ou resolução. Dentro de si mesmo, há que se entender que o vazio nada mais é do que a falta do nada, pois que por vezes até o nada preenche o vazio.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A opinião do ponto de vista do indivíduo

A criação e a genética são os principais fatores a moldar um indivíduo e sua personalidade. De acordo com as teorias dos estudos culturais, a sociedade e as experiências influenciam diretamente nos gostos e atitudes do sujeito, sendo que cada coisa e situação que acontece à nossa volta moldam um pouco a forma como percebemos e vivenciamos o mundo. 

Quando o indivíduo se torna parte de grupos humanos amplos, sejam eles pequenos como uma família, ou cada vez maiores, como as multidões, ele vai, proporcionalmente ao tamanho do grupo, perdendo a sua individualidade para fazer parte da massa. 

As opiniões do sujeito fazem parte desse contexto de molde social, cada grupo do qual ele faz parte o influencia de uma forma e projeta o funcionamento de seu caráter, suas vontades e por consequência, suas opiniões nos mais diversos assuntos. 

Desse ponto de formação cultural de um sujeito, sendo moldados seus valores, também faz parte o espaço público, é lá que se trocam experiências, que há a interação entre as pessoas, e que as ideias circulam livremente, sendo elas também moldadas pelo contexto e pela opinião individual dos que frequentam esse espaço público. 

Nesse contexto, há o choque de ideias e, por consequência, de opiniões. No espaço público os assuntos de interesse dos mais variados grupos são expostos e colocados em pauta, sendo os próprios assuntos inclusive moldados pelo pensamento coletivo, como se tivessem vida própria. 

Cada indivíduo contribui intensamente para a formação da chamada opinião pública, mas a partir do momento em que ela se torna coletiva, ele perde também o poder sobre sua própria contribuição. A opinião pública é uma substância muito volátil, mas que cada sujeito sozinho não consegue desestabilizar seu poder e fazer sua opinião prevalecer. 

É certo que em determinados contextos, surgem líderes de capacidade persuasiva muito grande, e que conseguem fazer suas opiniões individuais prevalecerem sem muito esforço, agitando a opinião pública de forma revolucionária, e por vezes perigosa. Mas esses casos ocorrem mediante certas condições pré-estabelecidas que acontecem em casos muito isolados. 

Dessa forma, cada indivíduo tem a sua importância relativa, porém o que realmente vale em grandes contextos é a opinião da massa como um todo, a opinião pública. Dessa forma, a opinião de cada pessoa contribui para a formação do conjunto, no entanto isso faz com que as opiniões divergentes tendam a ser suprimidas. 

Do ponto de vista de um governo, por exemplo, essas supressões se fazem necessárias para que o bem comum seja atingido. Assim, a opinião da grande massa vai sempre se sobrepor à opinião de cada um, pois essa deve contribuir para a formação e depois fazer parte da massa da opinião pública, perdendo seu valor individual. 

Porém, do ponto de vista do indivíduo que não tem sua opinião condizente com a da opinião pública, essa supressão da sua individualidade tem um caráter bem mais trágico, pois a sua opinião não está sendo levada em conta, mas sim está perdida no meio da grande massa que é a opinião pública, sendo inclusive sobrepujada por ela. 

Assim, num contexto geral, na grande maioria das vezes, a opinião pública é de fato uma representação fiel das opiniões individuais de cada sujeito componente da massa. Mas sempre haverão os antagonistas, que ajudaram na construção essa opinião pública, mas não fazem parte dela, tendo suas opiniões individuais muito particulares e diferentes.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Água

Água deve ser a substância mais adaptável que existe. E também a mais intrigante, bizarra, estranha, e estimulante que o universo já nos proporcionou. Uma simples ligação molecular como qualquer outra coisa existente, porém com tantas diferenças práticas.

Sou um peixe, apesar da astrologia não me ser das "ciências" mais queridas. No entanto, um peixe que não sabe nadar. O oceano exige respeito, Poseidon e Ülmo não são dos deuses mais generosos. Em pequenas quantidades a água é a própria vida, em copos, jarras, e até baldes e cisternas. Em grandes quantidades pode ser extremamente destruidora, em inundações, tempestades e tsunamis.

Rios, mares, oceanos, lagos, lagoas, córregos, lençóis, poças, e tantos outros, o líquido tomando a forma do sólido, entrando em cada vão e fresta inimaginável, se adaptando ao ambiente. Sólida, líquida ou gasosa, exercendo influência sobre o mundo em seus estados da matéria. Derretendo ou congelando, criando e matando.

A maior parte das águas têm em mim o mesmo efeito dos abismos, é tão atraente e ao mesmo tempo tão amedrontador. Não no sentido de causar pânico, mas o sincero respeito mesmo, não consigo olhar para o oceano sem pensar em Poseidon ou em Ülmo.

E acho mesmo que estar no mar é estar entre dois abismos, abaixo as profundezas com suas vidas em constante respiração branquial. Acima, o abismo dos céus, com seu azul enganador e suas vidas em constante pairar. Qual dos dois é o mais profundo, o mais atraente?

Me vi no futuro olhando o passado, foi o dejà vú mais sinistro desde sempre, tenho certeza que era água embaciando minha visão. Antes agora e depois, com água sempre, pela vida e pela morte, atraente e amedrontadora, com água sempre.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Bolhas

É preferível provar o caos uma vez
Vivenciar o terror da destruição
Do que uma vida inteira de marasmo
São detalhes que nem meus mortos perguntam
Façam esses buracos pra aliviar a pressão
Aqui é a carne que rasga as navalhas
Falta espaço para mim dentro de mim
Todas as voltas desse mundo a girar
Quem é você que fala tanto em solidão?
Há tanta gente andando a esmo nesse mundo
E a queimadura vai formando nova bolha
São tantas infinitas essas bolhas
Essa carne é forte demais para ser fraca
É uma luz que muito cega e mais maltrata
O exorcismo de um fantasma bonachão
Nada mais é do que uma história sem final
O que é vício e o que é virtude é tudo um só
Um pouco mais um pouco menos tanto faz
Mas afinal é o que temos pro jantar
Somente angústia e umas lágrimas contidas

sábado, 3 de novembro de 2012

A magnífica história de Araújo Lokão

Hoje vou contar pra vocês a magnífica história de Araújo Lokão, um surpreendente conto de fadas real tipicamente araucariense:


Era noite do dia dos mortos em Araucária, um fogo crepitante invadia aquelas vidas suburbanas. Como aproveitar o fim de noite, quais as opções? Ninguém imaginaria o que estava por acontecer na Praça do Seminário, cenário de tantas tragédias pregressas.

Eis que surge rodando rua acima um veículo capaz de demonstrar todo o poder aquisitivo de seu proprietário, que o estaciona inesperadamente próximo a dois jovens sedentos por glória. Dentro do carro, um sujeito bem vestido, corroborando ainda mais a impressão que o seu veículo passa.

Araújo Lokão apresenta fala extremamente etílica, e com seus 52 anos acabou de "comer uma gostosinha", de acordo com suas próprias palavras, e sua esposa não pode ficar sabendo. Para tanto, ele pede a ajuda dos jovens num plano mirabolante que envolve um telefone, vômito, ambulâncias, vinho e pizza.

Figura imponente da cidade, o Oscar Niemeyer da favela, só não desenhou o hotel do Hissam porque "aquela porra é muito feia". Ante tudo isso, sua situação no momento eleva questionamentos quanto à elite burguesa araucariense, estariam todos fadados ao mesmo destino? Cada um curte a vida como lhe convém.

Após conturbadas negociações o plano é finalmente levado a cabo, a esposa já não mais interferirá em sua farra, e o homem pode voltar à sua noite de bandalheiras, porque todo mundo merece uma cachacinha e umas putas as vezes. Obviamente, o brinde da noite será em homenagem ao magnífico Araújo Lokão.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobre atear fogo ao céu

Ela tinha nas faces fogosas uma sinceridade quase canina. Nos olhos uma chama constante, e todo mundo gosta de olhos em chamas, são sempre mais vívidos e intensos que os regulares.

Costumava dizer que não gostava de quem não faz barulho. "São as pessoas mais monótonas", dizia, e arrematava com uns xingamentos menos propícios, e aquela chama aquiescente nos olhos dela ficava ainda mais intensa. Por vezes arrumava uma confusão só pelo prazer de incendiar. As pessoas mais certas são as que veem o circo pegando fogo de dentro dele.

Outra certeza que tinha era o fato de não querer protelar muito, velas finas queimam mais rápido, e deixam menos sujeira. Sabia que ninguém faz seu destino sentado no sofá da sala, aquele que um dia falaram ser excitante, sabia também que o princípio da incerteza dizia que sua única certeza era a dúvida. Por isso, já não tinha certeza de mais nada, odiava ainda mais as pessoas certas de si.

Um dia, ela procurava companhia, anti-matéria para sua matéria. E a junção de dois caos só pode ser algo ainda mais destrutivo, pois que o que há de bom é progressão aritmética, e terror é progressão geométrica. Amplificado o caos, a chama ardia ainda mais intensa.

Combustão, fagulhas, chamas, queimaduras, incêndio, labaredas. Eram tudo isso e um pouco mais, em maior ou menor grau. Até se extinguir.

Pois foi tanto assim que ela deixou de procrastinar o destino supremo, bênção dos homens, aquilo para quê todas as pessoas nascem. Companhia ficou, visto que a nem todos os lugares se pode ir acompanhado, visto que alguns caos acabam por minguar conforme a sombra dos tempos aumenta, e a eternidade se põe no horizonte.

Porém, há coisas que devem ser eternas, mesmo que não sejam. Pois que tudo que existe por algum tempo, deve ser eterno naquele tempo em que existiu. Assim, passado mais algum período, agitaram a combustão uma vez mais onde quer que fosse. E reencontraram-se, e naquele instante atearam fogo até mesmo aos céus.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Para Voar

Não pretendo quebrar a barreira do som, esse sonho é para poucos. Não que esse não deva ser sonhado, só que no caso não é necessário. Pular de paraquedas ainda é mera analogia à vida que se leva, sonhar alto, sonhar distante. Porque quem sabe surjam asas e se possa voar.

Voar é sonhar ainda mais alto, querer bater asas na verdade não é errado, somos criaturas da terra adaptadas aos céus e aos mares. Mas não se voa no mar e não se nada no céu, a não ser nas metáforas. No chão só é mais fácil de respirar, para todas as outras aventuras há que se esforçar muito.

Não existe problema nenhum em ser demais, errado mesmo é ser de menos, ser incompleto, ser insuficiente. Ninguém quer algo que não satisfaça, e o que sobrar... o que sobrar deve ser lucro.

Por isso há que se sonhar alto, objetivar o que está distante, o que está perto é tão fácil quanto desnecessário, é simples degrau para escadarias mais altas. Pensar pequeno é limítrofe, porque se contentar com os céus quando se tem o espaço? Porque se contentar com lagos quando se tem oceanos inteiros?

Basta voar, basta que as asas funcionem, basta mesmo levantar e fazer algo acontecer, pensar grande não é errado. Errado mesmo é deixar o grande continuar pequeno, procrastinar a glória. O ápice nada mais é que um objetivo atualizável.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Em Alta Velocidade

Ontem, saí alta noite do bar onde estava com alguns amigos, e peguei o carro do qual era responsável. Estava bêbado, não absurdamente, havíamos bebido bastante, porém em bastante pessoas. Num rápido cálculo mental, contabilizei umas quatro ou cinco latas por pessoa na média. Mas como não sou dos mais fortes para o álcool, estava suficientemente bêbado.

Me dirigi e dirigi para um lugar relativamente isolado, era madrugada e eu sabia que lá as chances de prejudicar alguém eram reduzidas a quase zero, eu estava lá por minha conta e não queria atingir ninguém. É naquela rodovia que corta a cidade, todos conhecem e passam por lá com frequência, tem nome de metal pesado.

Numa longa reta, comecei a acelerar, trocando as marchas rapidamente. As paisagens passavam cada vez mais rápido, árvores e casas e cercas e placas e tudo o mais. No retrovisor eu via o reflexo das luzes artificiais de iluminação pouco coesa. O velocímetro subindo, todos os ponteiros do painel colorido agitando-se gradativamente.

Ninguém é obrigado a viver, ninguém é obrigado a morrer. Velocidade é apenas uma forma de cortar o tempo/espaço, e devem existir outras. Conforme o carro ia mais rápido, memórias surgiam em minha mente, todas as situações que me levaram até aquele momento, e a certeza de que a escolha de estar ali era unicamente minha. Escolha consciente, diga-se de passagem, pois ninguém é obrigado a viver e ninguém é obrigado a morrer.

Quando o ponteiro do velocímetro atingiu a marca de 180 km/h, eu sabia que não me restava muito tempo. A reta era longa, mas eu já havia cortado boa parte dela, e cada vez mais rápido o espaço a se percorrer seria vencido em menos tempo, eu tinha certeza absoluta do que não fazer naquela curva que se aproximava.

Nos 240 km/h então aconteceu a coisa mais intensa que eu vivenciei em toda essa vida desregrada. Eu saí para fora de meu próprio corpo, como se ele não tivesse sido capaz de acompanhar a velocidade, e o carro estivesse agora viajando à frente dele. Era algo como projeção astral, se é que esse nome se faz adequado. Eu estava lá em cima, e via o rápido deslocamento do veículo e a aproximação da curva definitiva.

Então comecei a diminuir a velocidade, sem qualquer tipo de desespero, eu não estava desistindo da escolha anterior, só estava praticando uma nova escolha. O carro reduziu sua velocidade gradativamente, e a curva parecia na verdade estar ficando mais longe, pois que aquela curva era mera metáfora. Eu não era obrigado a morrer, apesar de não ser obrigado a viver.

Parei do carro, desci do veículo e olhei pro céu, lá longe aquelas estrelas não têm a capacidade de escolher, ninguém nunca falou pra elas em livre arbítrio. Por isso, a morte delas é mais próxima que a nossa. Porém, eu tinha a possibilidade de colocar tudo na balança, e uma vida é feita de medires. Vida, morte, são coisas relativas demais, metafísicas demais, coisas que carro algum pode explicar, e que velocidade nenhuma pode escolher.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dor

A dor adora o ardor
Arder em dor
Toda dor adora arder
Rodar a dor
O ardor da dor adora ser
Adora dor
Adoradora em dor arder

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Insanidade

Se algum dia eu estiver frequentando um psicólogo, peço que me internem com direito a camisa de força, ambulância, enfermeiras de branco e tudo o mais, pois quando isso acontecer terei perdido de fato e definitivamente a minha insanidade.

A insanidade é a doença mais sã de todas, mas nem mesmo chega a ser uma doença, é sim uma forma de adaptar a própria surrealidade à sanidade alheia. Nesse fim de semana devo cometer uma loucura, e nada de se jogar de pontes ou atirar em pessoas no cinema, essa loucura é muito mais prática.

E o sujeito deve se perguntar o que é a insanidade, ou o que é a loucura? Há que se notar que ambas não são a mesma coisa. Mas a pergunta certa é o que é ser normal? E porque alguém quereria o ser. Levo comigo mapas, e isso é tão normal quanto não levar. As pessoas buscam o regular, quando o estranho é tão mais atraente. Ser normal é tão.. normal.

Mas o que me aguarda em São Paulo é sanidade. Sim, a própria, ela mesma e todas as outras, pois que deve haver mais de uma sanidade, como há mais de uma realidade. E devemos nós mesmos construir nossa sanidade ou o que o valha.

A febre é da selva, e a selva é de pedra.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Tratado sobre Plástico Bolha

Adoro camisetas. Tenho mais de quarenta, e minha mais nova aquisição foi uma com a cara do Salvador Dalí... Isso de ser melhor do que alguma coisa nada mais é do que relatividade também. Tudo é relatividade, mas como algumas coisas são só relatividade, ser melhor do que alguém nada mais é.

E com isso, há dias buscava escrever, a freneticidade de dias como esses, merecedores de sorrisos, delimita a inspiração. O que quer que ela seja. Fica toda canalizada em prol do que houve, e convenhamos que o que houve foi praticamente inadjetivável.

Pois que a inspiração não deve ter hora pra surgir, mas com frequência vem dos ônibus, e com um teste marcado, quase deseja-se não passar. A sorte é uma muleta dos incapazes, portanto não a desejem. Não sei se sou melhor do que plástico bolha. Não sei se sou a ralé da elite ou a elite da ralé.

Mas naquela camiseta, Dalí me diz que sou as drogas, e que a inspiração talvez nunca precise ser sintética. Mas que ela deve vir de algum lugar, e elogiada ou não, canalizada em prol do que for, deve ser sempre inadjetivável. E melhor do que nada, tanto quanto melhor do que tudo. Melhor e pior do que plástico bolha.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ao que nos resta!

Decidido está que todos os futuros brindes da minha vida serão em homenagem ao que ainda nos resta, pois que o que perdemos já não faz a menor diferença e não mais importa.

Tudo o que temos implica não termos algo, pra cada escolha feita alguma coisa precisa ser negada. Mas todas elas não as temos mais, e devemos manter nosso foco no que não foi perdido.

Paixões platônicas de ônibus permeiam a vida de todos que usam os coletivos, aquele amor que dura meia hora por dia, e não é necessário iniciar uma conversa porque é melhor não quebrar o encanto, é mais fácil não se decepcionar com aquilo que não conhecemos.

Hoje na Gralha Triste, uma mochila de História com buttons de Matanza e Johnny Cash, eu dormia e não sei se acordei, mas duvido que aquela garota exista de verdade, deve ter existido só durante aqueles breves trinta minutos e ao descer do ônibus deixou de haver.

E o que resta é mais do que o que foi perdido nesse caso, pois que quando não há nada, não há o que se perder, e tudo continua sendo a mesma coisa.

Pessoas vêm e vão, copos sobem e descem, caveirinhas no facebook surgem e desaparecem, meio cheio meio vazio, um meio de tudo no meio do nada. E qual a grande diferença que isso vai fazer quando a memória já não mais se incomodar com o que se foi? Toda dor é momentânea.

Por isso, levantem seus copos, não importa o conteúdo, e brindemos ao que ainda nos resta, pois que o que perdemos... o que perdemos já não faz mais a menor diferença.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O Polacão dos Anéis

Três anéis pros polaco véio sob este céu 
Sete pros presidente de associação nos seus rochosos corredores 
Nove pros vereador fadados a morrer 
Um pro senhor prefeito em seu trono escuro 
Na terra de Araucária, onde as sombras deitam 


Heitor é descendente de um humano fraco, que teve a oportunidade de acabar com o mal de uma vez por todas, mas hesitou para obter controle sobre as terras da batata. Mas o anel tem vontade própria, e operários bêbados com sotaques ininteligíveis andavam nas ruas entre os puteiros, e assaltaram e acabaram com a vida desse ganancioso humano que governava as araucárias.
Assim, o anel ficou adormecido por muitos séculos, até que foi encontrado pela criatura Cristianomeágol-Gollum, que tomou posse dele temporariamente, até que o hobbit Zazá Bolseiro entrou em seu caminho. Zazá era conceituado em sua terra, e por muito tempo teve sua juventude guardada pelo anel. Que irônico! O anel de poder cair nas mãos de um simples e pacífico zazá.

A Terra das Batatas
Um dia, Zazá faz uma viagem e deixa o anel como herança para o jovem Cleverson, que sob a tutela do mago Pedro o Cinza, inicia uma jornada épica na companhia dos outros hobbits de Guajuvira: Jhonny, Everson e Sérgio.

Em seu periculoso caminho eles conhecem Heitor, que anda sob a alcunha de Passolento, mas na verdade é o rei sem trono das terras do sul. Ao chegar à Contenda, terra sagrada dos polaco véio, uma sociedade se forma, para destruir o anel.

Heitor, rei sem trono; o mago Pedro, o Cinza; Heitorzinho representante dos polacos de vida longa, habilidoso com seus olhos e de longas madeixas lisas; o bárbaro anão Alexandre, poderoso e forte com armas pesadas; o humano do reino do sul Nicolas, herdeiro dos regentes; e os quatro de Guajuvira, Cleverson Bolseiro; Jhonny Gamgi; Everson Tûk e Sérgio Brandebuque.

Mal sabiam eles que os nove poetas negros, sob a liderança daquele que já foi humano e se corrompeu, Erne chefe dos Nazgul, estavam em seu encalço a serviço de Rízio, antigo opressor que precisa recuperar o anel para voltar a oprimir toda a polacaiada. Enquanto isso, uma nova raça de pirralhos noiadinhos de 14 anos era criada nas masmorras do Tupy por Hissam o Branco, outrora chefe da ordem dos magos, que se uniu ao poderoso Rízio para reviver o poder do anel.

Após sofrerem perigos sem conta, os nove atravessam as minas da Petrobrás, antigos palácios dos anões, agora habitados por baianos. Quando os aventureiros estão próximos de escapar das minas, surge um último e poderoso inimigo, vindo das profundezas dos tempos, é o Balrog Dimar, e Pedro o Cinza cai nessa batalha.

Unindo forças e superando a perda, eles seguem seu caminho, até chegarem às terras da Rainha élfica Lelydriel, poderosa e temida com seus dreads. E ao saírem de lá a sociedade se desfaz para sempre, pois o guerreiro Nicolas não consegue se controlar e tenta tomar o anel de Cleverson, que resiste e foge rumo a Mordor, fortaleza de Rízio, tendo como única companhia o fiel escudeiro Jhonny. Os noiadinhos de Hissam sequestram os outros dois hobbits, e os bravos Heitor, Heitorzinho e Alexandre seguem em seu encalço. Nicolas cai nessa batalha, e agora jaz no rio Passaúna, junto de seus antepassados.

Assim, cada viajante segue seu rumo. No leste, Cleverson e Jhonny são seguidos, e posteriormente acompanhados, pela criatura Cristianomeágol-Gollum que ressurge. Nas colinas do Laranjeiras, terra dos Cavaleiros de Rohan, os três bravos encontram Geovani, sobrinho exilado do Rei Jester, líder dos Rohirrim, cavaleiro habilidoso. Os hobbits Everson e Sérgio acabam por ventura na Floresta de Fangorn, e lá conhecem os Ents Yuri, Tikum, Shiro, Bomber, Jean e Cézinha, essas criaturas são árvores que andam e falam, e sabem bem a hora de entrar numa guerra. Então, além de todas as esperanças, Pedro retorna dos mortos, dessa vez como Pedro o Branco, ele não é mais o andarilho esfarrapado, mas ainda não pode demonstrar todo seu poder.

Dessa forma, Hissam o Branco cai pelas forças de Rohan ao sul, e dos Ents ao norte. O inimigo sofre uma grande baixa, mas continua se reforçando no leste, Cleverson e Jhonny sofrem muitos perigos, mas conseguem escapar até mesmo da aranha Juliana, adentrando Mordor, e se aproximando do fim da jornada.

No oeste, as forças dos homens também estão em ação. Pedro segue para o reino de Gondor, levando consigo Everson, lá encontram um regente corrompido e fraco, Olizandro ainda está abalado pela morte de seu filho mais velho, mas ainda há um irmão vivo, Cristiano, irmão mais novo de Nicolas, baterista e guerreiro, encontra-se no campo de batalha. O outro hobbit, Sérgio, segue para Rohan, onde conhece a valorosa princesa Tia Kah, irmã do bravo Geovani e também sobrinha do rei Jester, que agora se recupera da malícia de Hiderson Wormtongue, e prepara seu povo para a guerra. Os outros três, Heitor, Heitorzinho e Alexandre, tomam o rumo das cavernas subterrâneas, onde pretendem reunir o exército dos reis mortos motoqueiros do QG, liderados pelo Robson.

Então chega o momento da grande batalha nos campos do Parque Cachoeira, aos portões de Gondor. Na torre da cidade, o regente Olizandro tenta atear fogo ao seu filho Cristiano ainda vivo, mas Everson acaba salvando sua vida, porém o regente perece. Na batalha o Rei Jester também cai, mas Tia Kah revela todo seu poder, tendo ido à guerra disfarçada, e sem que ninguém esperasse, com a ajuda do pequeno Sérgio, derrota Erne, o poderoso chefe dos Nazgul, que tem seu grito ouvido pela última vez em Araucária. Geovani também toma parte nessa batalha histórica, encontrando no meio do campo seu grande amigo Heitor, que chega com os reis mortos motoqueiros do QG para dar um fim à batalha.

A guerra no Parque Cachoeira
Em Mordor, Cleverson e Jhonny, acompanhados de Cristianomeágol-Gollum, estão cada vez mais perto de seu destino final, para destruir o anel de poder. Com o fim da batalha em Gondor, os exércitos dos homens, liderados por Heitor, marcham rumo ao Portão Negro. Os feridos ficam se recuperando na cidade, Sérgio, Tia Kah e Cristiano, esses últimos encontram algo a mais em meio a tanta tristeza na guerra.

Enfim, o anel é atirado ao fogo da montanha, Cristianomeágol-Gollum confirma que ainda tomaria parte na história e perece junto ao anel de poder, Rízio, inimigo dos povos, é finalmente derrotado, os exércitos do oeste são vitoriosos, a era dos homens começa.

Heitor volta para Gondor pra recuperar seu trono, passado a ele por Cristiano, último regente, irmão de Nicolas e herdeiro de Olizandro, do norte vem uma última surpresa, a princesa élfica Michelinha, que abdicou da vida eterna de seu povo para poder se casar com Heitor, ela deixa de ser a princesa dos elfos para se tornar a rainha dos homens. Os quatro hobbits se reencontram, e voltam à terra de Guajuvira no norte. Porém a reunião dura pouco tempo, já que juntamente com Lelydriel e os últimos elfos, e Zazá Bolseiro que agora sente a idade, Pedro o Branco e Cleverson Bolseiro passam para o oeste sagrado, guiados pelo barqueiro Mário.

Araucária está livre de seus últimos opressores, Rízio não vive mais, Hissam o Branco pereceu juntamente com Hiderson Wormtongue. A floresta dos Ents, governada por Yuri, não mais sofre com os machados dos noiadinhos. Os Nazgul liderados por Erne já não aterrorizam, Cristianomeágol-Gollum cumpriu seu papel. Os povos novamente são livres, em Rohan, Geovani governa, e tem sua irmã Tia Kah e seu cunhado Cristiano ao seu lado. Heitor é rei dos reinos dos homens e tem sua rainha Michelinha. O rio dos tempos continua, inalterado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Carta aberta ao pai do Mário:

UMA PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO LENHADOR NESSE HUMILDE BLOGO:


Seu Mário, muito conhecido como “vizinho” pelo pessoal do bairro, devido à sua loja. Tanto que a loja se chama 1,99 do vizinho.

Foi vendedor de trator pros polaco da colônia, foi taxista (dirige muito bem), foi engraxate de sapato na  praça do Capão Raso. Com o sustento de vendas de trator e de seu 1,99, formou uma filha engenheira e um filho médico. Sempre acorda as 7 para abrir a loja, não importa se o churrasco da noite anterior acabou as 5.

Atleticano roxo, nunca deixa de acompanhar seu time. É sócio e leva a família toda para ver o jogo sempre. Cunhado do Orivaldo, são dois companheiros fiéis do time. Antigamente, levava menininhas no jogo, e até deu bolo em outras pra poder ver o jogo.

Exigente, nunca engole ser mal atendido. Não paga os dez porcento se esquecerem de trazer a Coca que ele pediu. Não tem paciência de montar a marmita, o estabelecimento que monte pra ele! As vezes gosta de ouvir jazz enquanto toma seu chopp, nas noites de sexta de um certo bar. Os fornecedores de 1,99 nunca cobram as folhas de presente que ele leva, e também nunca precisam se incomodar com dívidas.

Figura conhecida também no Binhara, boteco de tradição do fazenda velha. Lá ele joga sinuca, participa de campeonatos e leva leitão pra casa. Tem uma boa reputação, nunca deu calote, sempre paga suas dívidas. Consegue uma caixa de Antarctica Original geladinha a meia-noite, entregue a domicílio. Nunca falta cerveja na casa do Mário, pode até faltar pão ou água, mas cerveja não!

Possui atividades políticas na cidade, já ajudou a eleger muitos vereadores, e continua ajudando. Não dá moral pra marajá traidor, e promove encontros de discussão política em sua churrasqueira.

Vive jogando cacheta em casa com os amigos, também poker com os mais chegados. Truco então, chega a subir na mesa pra dar facão. Sua churrasqueira é muito divertida e apreciada por todos, pois lá são sempre 8 horas. O Wellington Patricão, o Bilau, o Tom e o Aroldo sempre querem estar lá para comemorar. Seu filho também sempre está com ele, bebendo com o pai e os amigos, todos juntos, todos da mesma idade. Ele não fica bêbado com menos de 10 litros de cerveja, e também não bebe menos que 5 chopes quando sai de casa. E, a cada chopp que você bebe, ele bebe dois!

Tudo isso de festa porque na verdade o seu Mário é um grande anfitrião. Gosta de festas na sua casa, convida a todos e trata todos bem, até aqueles que entraram de gaiato. Ninguém pode ficar sem uma carne, e ele guarda os últimos bifes pros atrasados. Sua mulher sempre faz aquela saladinha gostosa, e nunca deixa de estar ao lado dele pra nos receber muito bem. Nos jantares de formatura de seus filhos, ele nem comia, só para receber e cuidar de seus convidados.

Mas o mais incrível é como o seu Mário é presente na família. Todo domingo visita seus pais no Capão Raso. Sempre dá carona pros seus filhos, pra cima e pra baixo, mesmo sendo apenas por aquela preguiça de pegar o ônibus pra ir pra faculdade. Passeia com seus cachorros todos os dias. Leva os filhos pro concurso público lá nos cafundós de judas, leva a filha pra cidade do namorado corinthiano. Trata os amigos do seu filho Marinho como seus amigos, e alguns até como filhos. Paga a pizza, a cerveja e leva em restaurante, e se ofende se for o contrário!

Vai a igreja todos os sábados, e ajuda a comunidade a sua volta. Acompanha projetos de futuros políticos de bairro, e apoia os trabalhos comunitários. Ajuda diversos parentes, e faz questão que sempre estejam ao seu lado. Nada ofende mais o seu Mário que um amigo ou parente que debanda, que não vem visitar. Se você não visitar, ou quando visitar ficar pouco, ele vai te xingar.

Por Sérgio Lenhador

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Desastres

Numa das brincadeiras favoritas da minha infância, eu, minha irmã, e vizinhos, fingíamos sermos sobreviventes de um desastre aéreo, acordávamos perdidos em alguma selva cercados dos destroços do acidente, e precisávamos nos virar para voltar à civilização. Como cenário, juntávamos muito lixo em volta de nós, que representavam os destroços da queda. Sempre fui adepto ao caos.

Hoje, construo e destruo na mesma proporção. O que eu crio também é caos, tentando organizar o inorganizável. Mas somos todos sobreviventes de todos os desastres, viver é uma sucessão de contínuos sobreviveres.

Eventos como esses são memoráveis, praticamente épicos, convites inesperados e orgulhantes. Continuo criando neologismos pra definir o indefinível. E como são alucinantes essas viagens. Pois que tudo o que não é esperado tem a vantagem de ser surpreendente, e ser surpreendente é sempre bom, mesmo que não seja.

A gente busca criatividade, a gente busca selvageria, a gente busca o diferente, e acha em tudo um tudo igual, mas cada vez que algo é diferente e surpreendente e indefinível, faz com que boa parte do não valha a pena e seja um sim. Por isso mesmo, a gente continua buscando.

No fim, todas as coisas que fazemos são juntar destroços à nossa volta, e tentar sobreviver a um desastre. Festas são um desastre. Eventos são desastres. Organizar o inorganizável é criar desastres. E sobreviver por si só é o maior dos desastres.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sol

O sol batia ponto naquela fresta todos os dias, era inverno e o solstício já ia longe, cada dia um centímetro mais longe. Então um dia o sol parou de entrar, maldita seja toda forma de translação, se o seu sol não puder estar sempre no mesmo lugar, mas tudo isso é mera perspectiva.

A verdade é que o sol é arrogante, ele não se importa com quem será atingido por sua candura, simplesmente continua lá ouvindo a alcunha de astro-rei e sentindo-se o centro da galáxia, calma lá, você não é o centro nem do próprio universo.

Porém, vez ou outra há de surgir uma nuvem, pois que o objetivo delas é nada mais que chamar a atenção para si próprias, oras, sem cobrir o brilho do sol você no máximo lembra o formato de alguma coisa familiar, talvez há muito perdida.

E nos dias de chuva então? É importante ressaltar que chuva e sol às vezes surgem em parceria, e vá entender, essas vezes são as melhores. Pois o sol é também marasmo, queimar de longe é tão fácil, mas brilho demais acaba cegando.

Acabamos procurando por chuva, revirando as nuvens. É assim que as coisas são, nada de muito tempo esperando a coisa acontecer, a motivação é exatamente isso, procurar o que ainda não temos. Mas há que se fazer um comeback, pois se pôr e não nascer é covardia.

Mas ainda assim, deve haver alguma motivação pra continuar girando, e raiando e se pondo todo dia, apesar de nem precisar se mexer muito pra isso, lembre-se: o amor é mera perspectiva. As agruras da tempestade talvez nos motivem mais do que a própria bonança.



Como bônus, segue trecho de uma poesia que é trecho de um conto meu:

Pois nossas órbitas se encontrariam
Nossos corpos queimariam hélio
Seríamos supernova

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Angústia

Ando de bicicleta por aí pra não precisar respirar. Sinto falta de ar a todo momento e não gosto de carros, por isso chego à conclusão que estou dirigindo as máquinas erradas. Se é que a gente nasce pra alguma coisa, nasci pra ser diretor e não motorista.

Eu com a galera.
Hoje sei que a angústia deve ser a pior das doenças, pois mesmo os piores demônios têm medo de morrer. Eu não tenho. Somos cachorro de rua, fedendo na chuva, cheio de pulgas, revirando latas de lixo, se contentando com aquele osso semi-roído, e procurando aqui e acolá um pouco de sarna pra se coçar.

Penso demais, e por pensar demais acabo perdendo demais, acho que a maioria das pessoas é assim, deixam de realizar por ficar cogitando as formas de realizar, deixam de ser por ficarem esperando que sejam; mas tenho a impressão que já disse isso antes. Por pensar demais acabo dizendo coisas vezes demais.

Ainda há que saber o que é o amor. Esse Leviathan assustador, que angustia, faz pensar e tira o ar; que todas as pessoas buscam, e depois fogem dele; ao qual escrevem-se poemas fadados a serem rasgados. Gosto de escrever poemas, desde que alguém goste de lê-los.

Acho que venho fazendo bem em não querer definir o que é o amor. Apenas o pensamento, a angústia e a falta de ar devem ser suficientes. Pois que não é preciso respirar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Experimento Antropológico

A própria vida é um grande experimento antropológico, conhecer, analisar e relativizar as pessoas e as coisas à nossa volta faz parte de nossa rotina diária, ainda que nem nos percebemos fazendo isso tudo.

Gosto de sentar em um ambiente público e ficar analisando as pessoas, tentando entender o motivo que as move de um lado ao outro, o porquê de estarem fazendo qualquer coisa que estejam fazendo. Analisar seus desejos e necessidades, suas feições, e suas tristezas e alegrias.

"Aquele sujeito tem cara de quem dorme mal". "Aquela mulher tem cara de quem não geme". "Esse aqui gosta de Beatles". "Essa outra deve odiar a mãe". E assim por diante, pois que todas as pessoas demonstram.

Assim, por vezes ainda elaboramos experimentos mais complexos, que envolvem saber como as pessoas reagem em determinadas situações. Nem sempre buscamos algum resultado com isso, o próprio experimento por si só deve ser o resultado.

E talvez o grande objetivo seja se surpreender com o resultado, ou com a análise, porque aprender um monte de coisa que já sabemos talvez não tenha tanta graça assim, mas quando o que se obtém é inesperado, aí sim valeu a pena.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Espera

Nas esquinas, paradas de ônibus, ao lado de placas de 'pare', nos estacionamentos pavimentados, e em tantos outros lugares; vejo aqueles rostos, são homens parados, aguardando sua condução ou o que quer que estejam esperando. Em todas essas faces anônimas e inertes, vejo uma tristeza semelhante, não é o frio, não é a manhã pálida, nem a incessante sequência de acordares cedos. É sim um desespero muito contido.

Subitamente, percebo um rosto conhecido entre tantos outros. Um nome me vem à mente, William, isso William, de onde deveria eu conhecer esse sujeito? Da escola, em tempos imemoriais o sujeito deve ter sido um colega de classe, e ao contorcer os corredores de minha memória, tenho certeza que poderei lembrar daquele homem atirando bolinhas de papel nos colegas, atazanando crianças menores no recreio, jogando tazo no horário da aula.

Tudo isso em épocas em que nada se esperava, a própria condução era motivo de alegria, e o acordar cedo era entrecortado de pequenas felicidades por motivos banais. "Ah mãe, tenho mesmo que ir pra aula hoje?", e ninguém pode ver desenhos animados para sempre. E como numa epifania, é triste perceber que nunca mais assistiremos à Sessão da Tarde na Globo, entre cobertas de bichinhos e com aquele copo de chocolate quente.

Já tem vida demais na minha vida. E da janela do ônibus, vejo que William dá um bocejo, vapor condensado sai de seu pulmão, a fumacinha preenche o ar, e se dissolve num rápido movimento de adeus. Aquela esquina fica pra trás, sua condução ainda não chegou, a fumaça se dispersa, e outras crianças devem estar se preparando para bater tazo, atazanar e atirar bolinhas de papel a essa hora.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Blues da Gralha Triste

Como voa triste aquela Gralha lá distante
Vai rodando em eixos fortes
Em suas asas brilha a luz de tanta sorte
Descem lágrimas intensas

É só tristeza esse caminho
A Gralha Triste bate as asas compassadas
A sensação de estar perdido
Na tristeza o amor se esvai e já não é nada

Acostumada a voar alto cinge o asfalto
Tempo ficando para trás
Deixa claro em seus domínios tudo é dor
Felicidade que não há

Então por fim o que há de ser
Desembarcamos e assim estamos em casa
E nessas ruas, nessa hora
A Gralha Triste é todo o mundo à nossa volta

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Hotel Califoraucária

Na Rodovia do Xisto, cool wind in my hair
Warm smell of poluição, rising up through the air
Up ahead in the distance, I saw a shimmering light
My head grew heavy and my sight grew dim
I had to stop for the night

There she stood in the viaduto de entrada da cidade
I heard the alarme da repar
And I was thinking to myself
This could be Heaven or this could be Hell

Then she lit up a candle and she showed me the way
There were voices down the victor do amaral
I thought I heard them say

Welcome to the Rihad Palace Hotel
Such a lovely place (2x)
Such a lovely face
Plenty of room at the Rihad Palace Hotel
Any time of year (2x)
You can find it here

Her mind is Calceaki-twisted, she got the Opala cor de rosa
She got a lot of frequentadores do Bakana, that she calls friends
How they dance in the Praça do Seminário, sweet summer sweat
Some dance to remember, some dance to forget

So I called up the Hissam
Please bring me my tubão
He said: "we haven't had that Campo Largo here since nineteen sixty-nine"
And still those voices are calling from far away
Wake you up in the middle of the night
Just to hear them say

Welcome to the Rihad Palace Hotel
Such a lovely place (2x)
Such a lovely face
We're livin' it up at the Rihad Palace Hotel
What a nice surprise (2x)
Bring your alibis

Mirrors on the ceiling
The Campo Largo on ice
And she said: "we are all just baianos here, of our own device"
And in the Hissam’s chambers
They gathered for the conferência do partido
The stab it with their peixeiras
But they just can't kill the Zezé

Last thing I remember, I was
Running for the portal polonês
I had to find the passage back
To the place I was before
"Relax", said the mendigo do 1 reial

We are programmed to receive
You can check out any time you like
But you can never vazar

terça-feira, 3 de julho de 2012

Cachorro-Peixe

Um dia desses decidi que a partir daquele momento eu seria uma maçã de terno, e nada poderia me impedir de ser assim. O mundo real com todas as suas sobriedades e imposições nos faz um mal muito maior do que podemos imaginar, existem poucas coisas piores do que perder a capacidade de imaginar, de sonhar.

ílaD rodavlaS

A realidade não foi feita pra mim, como diz a música do Helloween: "I'm living in a world of fantasy / Reality ain´t good enough for me / And all that I can feel is nothing but sobriety / I'm living in a world of fantasy / Reality ain't meant or made for me" (http://letras.mus.br/helloween/1766445/). Vivo meu próprio mundo de fantasias, pois aqui as coisas são melhores.


E todas as pessoas deveriam experimentar a criação de um mundo próprio de alucinação, construindo a própria realidade ao sabor de suas vontades. Pois que é assim que a vida se torna um pouco mais suportável, a realidade deixa de ter seus efeitos devastadores, e podemos ver cores em meio ao cinza, ou cinza em meio ao cores.

ettirgaM èneR

Produzo meu próprio surrealismo através de minha parca literatura, de cinematografia de beco, e de divagações aleatórias, conjuntas e solitárias, sobre qualquer assunto. Esse monte de nada acaba formando um pouco de tudo.

Não tenciono escrever um terceiro manifesto do surrealismo, para isso outros vieram antes, alguns ainda nos fazem companhia nesses sonhos fantásticos. Apenas quero dizer que "Neste verão as rosas são azuis, a madeira é de vidro.A Terra envolta em seu verdor me faz tão pouco afeito quanto um fantasma. Viver e deixar de viver é que são soluções imaginárias. A existência está em outro lugar".

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Vazio

“Eu não te amo mais”, foi o que ela disse, com todas as letras e sem titubear. Não teve coragem de repetir, mas nem precisava, uma única vez era suficiente.

Naquele momento tive a sensação, quase certeza, de que o que ela sentia era desamor, e não falta de amor. Algo como o oposto do sol não ser a lua, pois o oposto do sol é o lado de trás do sol, ou de dentro, depende do ponto de vista. Não vejo como pode se deixar de amar, acredito que ou se ama pra sempre, ou nunca se amou de verdade.

Hoje eu sei que o pior sentimento existente é a falta de sentimentos. Houve épocas em que eu acordava sentindo um leve, porém marcante, gosto de sangue na boca, mas dizem que matar só é difícil da primeira vez. Morrer também deveria ser difícil só da primeira vez, a cada vez que eu morro fica mais difícil.

Quando ela disse aquilo e virou as costas para se afastar num elegante movimento de adeus, algo morreu dentro de mim, e não foi o que eu sentia por ela, porque como disse, talvez eu nunca tenha sentido nada... ao menos não por ela.

No exato primeiro momento de ausência dela, passei a perceber que sua presença talvez não fosse tão importante, e aquilo me surpreendeu no começo. Porém, logo assimilei que outras coisas faltavam também, e eu não sentia mais o cheiro da comida.

A partir desse prelúdio de uma catástrofe anunciada, esses abismos sensoriais se tornaram cada vez mais recorrentes, frequentes, insidiosos e destruidores. Na verdade, formava-se um paradoxo complexo com as minhas emoções, pois quanto menos eu sentia, mais eu sentia o não sentir.

Era uma agonia acachapante, aquela sensação de vazio. Precisamente um vazio intenso e único, que afligia todo o meu viver, a palavra precisa era vazio e vazia, pois seu próprio nome se tornava ausente de significado, e era cada vez mais intrusivo.

Havia dias em que eu acordava me sentindo extremamente bem, havia dias em que acordava simplesmente não me sentindo. Então parei de relacionar esses abscessos à partida dela, parecia mais que era tudo natural e esperado, e que teria acontecido de qualquer forma.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Férias

Então chegou a hora de relativizar as férias, e eu odeio férias. Aclamada como a época de descanso, para que se desestressem as pessoas de suas obrigações diárias. O problema é que preciso das minhas obrigações diárias pra continuar me sentindo vivo. Não sair de casa é quase como respirar por aparelhos.

No sábado trabalhei por 16 horas seguidas. Claro que teve o intervalo pra uma viagem de ônibus e uma ou outra cerveja, mas isso não diminuiu a impressão do pique. Assim, sou workaholic, não porque viva em função do trabalho, mas sim porque prefiro o fazer ao não fazer. Como disse em outra oportunidade, sempre preferi o sim ao não.

Depois de tantos experimentos sociais a gente começa a antecipar o comportamento da coletividade e de algumas individualidades, e há que se informar que a calma e tranquilidade são em função do fato de que nada do que houve surpreende, como se ninguém soubesse. Mas as vezes ainda precisamos fazer alguns testes, e já que palavra proferida não volta atrás, há que se magoar alguns corações quando se sabe demais.

Revisitam-se os assuntos tratados, e cada olhar distante é uma chama ainda viva, ou apenas uma ironia guardada. E foram tantos encontros e desencontros e uma figura de linguagem já usada. Tantos e todos tontos. Mas o encontro protelado não surtiu efeito. Nenhum deles, encontro ou efeito.

Tenho escrito pouco, duas publicações esse mês, época de pré-ferias é também época de procrastinação, e quando o tempo é pouco faz-se, se o tempo é muito adia-se, pois que tempo sempre há, a diferença é o que cada um faz com ele. Por isso, hoje começo, já que tenho um perfil a concluir, um conto a postar, um livro a publicar, e as reticências para colocar nesse texto, pois que ele não tem fim, até que acabem as férias...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma Teoria sobre o Amor e a Física

Escrever essa teoria é uma empreitada arrogante e egoísta de objetivo pouco claro. Porém, a própria vida não tem objetivo tão claro e definido, e tendo em vista que os dois temas a serem aqui explorados são de natureza ainda mais incerta e abstrata, acho então que a própria falta de necessidade da formulação dessa teoria caracteriza a sua necessidade. Dessa forma, aqui veremos como pode, ou deve, ser relacionada a Física com o Amor.

O filósofo austríaco Karl Popper define uma teoria científica como um modelo matemático que descreve e codifica a observação que fizemos. Dessa forma, observamos os dois temas propostos de modo matemático, tirando a característica subjetiva do amor, que o torna tão imprevisível, e aplicando ela à física, que é mais objetiva. Portanto, ambos estarão balanceados de forma a fazer com que o equilíbrio torne a comparação justa.

Assim, começamos pela Teoria do Éter. Acreditava-se que o éter seria uma substância que permeava todo o espaço vazio do universo, serviria como o material condutor da luz. Essa teoria começou a cair em descrédito em fins do século XIX, sendo abandonada de vez após a Relatividade Geral. A comparação a ser feita coloca o amor como uma ‘entidade’ também presente em tudo, completando o universo, existindo em todas as criaturas vivas e não-vivas, conduzindo a luz entre os corpos. Da mesma forma que o éter foi abolido da mentalidade físico-científica mundial, hoje também a maioria das pessoas já não vê o amor como algo onipresente, sendo muito mais freqüente a busca eterna por tal estado de espírito. 

Outra teoria a ser estudada é o Princípio da Incerteza, o qual diz que é impossível saber com precisão a velocidade e a posição de qualquer partícula em um determinado momento, só é possível conhecer um desses dados por vez. Isso porque se conseguíssemos medir as duas grandezas ao mesmo tempo, acabaríamos alterando elas devido à interação necessária para que tal medição seja precisa. No amor é impossível saber com precisão e ao mesmo tempo, os dados relativos aos sentimentos de ambas as pessoas envolvidas em determinado relacionamento, ao ser capaz de mensurar um dos envolvidos, o observador corre o risco de interferir no sentimento do outro em relação ao primeiro. 

Já o Princípio Antrópico funciona no sentido de que não haveria amor se não houvesse uma humanidade para amar. Afinal, sentiriam amor os objetos e as outras coisas? O princípio antrópico diz que tudo o que existe foi desenhado para a existência da humanidade, ou que pelo menos se as coisas fossem minimamente diferentes não seria possível a existência da vida como a conhecemos. Talvez mesmo as menores situações dentro de um relacionamento funcionem no sentido de possibilitar o seu sucesso ou fracasso, no que poderia ser chamado de destino, ou de uma força superior agindo no amor. Ao olhar para trás em um relacionamento poderíamos apontar todas as características que se fossem levemente diferentes impossibilitariam a sua existência. 

A Gravitação Universal diz que todos os corpos possuem uma força de atração, que atua sobre todos os outros corpos existentes, e que é proporcional à sua massa e distâncias entre eles. Assim, todos os corpos do universo manteriam-se em sua órbita constante em virtude dessa força invisível que une todas as coisas, visto que ela agiria como uma espécie de amarra entre os corpos, cada um deles mantendo os outros em suas posições fixas. O amor seria a própria força de gravidade, cada um dos corpos de um relacionamento teria sua própria força de ação, medida pela distância e magnitude dos sentimentos mútuos, e que seria o agente responsável pela união e manutenção da rota entre os corpos físicos a as almas transcendentais de um casal. 

Quanto mais alta a Entropia, menos desordem num determinado sistema, essa teoria explica que a tendência de todas as coisas é evoluir gradativamente até um estado em que tudo esteja estático, em harmonia e perfeição. Essa evolução deve acontecer primordialmente através da troca de calor entre corpos, explicada na termodinâmica, que tende a equilibrar as temperaturas, a partir do momento em que tivéssemos tudo na mesma temperatura, todas as coisas estariam estáticas. Num relacionamento longevo, isso significaria a representação das coisas caminhando rumo à harmonia e calmaria, ultrapassadas as épocas ruins de desordem, acabaria tudo caindo na monotonia da perfeição. Definimos assim que com o passar do tempo a tendência de qualquer sistema, incluindo o amor, é atingir a entropia máxima. 

A teoria da Relatividade Geral revolucionou a física como a conhecemos, ela prevê que a velocidade da luz, apesar de constante, é variável de acordo com o ponto de vista do observador em questão, tornando-se relativa. Da mesma forma acontece quando se trata do amor, pois num relacionamento as coisas boas e ruins que acontecem têm sua velocidade determinada dependendo do ponto de vista das partes envolvidas. Uma das contrapartes pode sentir a relação se deteriorando mais lentamente que a outra parte. Além disso, quanto maior a velocidade, mais energia será usada, tornando a aceleração mais lenta, diminuindo por consequência a velocidade, por isso um relacionamento pode começar e evoluir muito rapidamente, e depois conforme necessita mais energia para mantê-lo, a aceleração diminui e a velocidade também por conseqüência. 

A teoria do Tempo Imaginário Idealizador considera esse um tempo diferente do real que utilizamos e conhecemos, ele cresce com números imaginários e em um ângulo de 90 graus em relação ao tempo real, sendo uma forma de idealizar a realidade. É como dizer que além da forma real com que o amor ou romance se desenvolve, existe também a imaginária, que funciona num vetor diferente e é idealizada de forma a proporcionar uma melhor compreensão quântica da relação. 

Buracos Negros são anamorfias surgidas a partir do colapso de estrelas, possuem massa tão extrema que nem mesmo a luz pode resistir à sua força de atração. Relacionamentos que são belos e intensos como estrelas, possuem massa extrema e tendem a tornar-se buracos negros quando findam, formando uma anamorfia condensadora de massa, e que pode crescer indefinidamente englobando a massa das regiões próximas. Nem mesmo a luz pode escapar à sua força, porém ele emite uma certa radiação por possuir temperatura, como qualquer outro corpo, que seria correspondente ao caso dos relacionamentos ainda acesos, e seus ‘remembers’ recorrentes. Portanto, amores intensos geram anamorfias intensas. 

Chegamos aqui, justamente no fim, à luz das mais importantes correntes teóricas da física contemporânea, e vislumbramos o que pode ser considerada a união comparativa de dois dos mais aclamados e explorados assuntos da humanidade. De um lado, o amor, lírico e poético, das grandes histórias. De outro, a física, com sua busca eterna por explicar a vida e as coisas que a envolvem. Dois assuntos tão distintos, e, como verificamos, tão próximos. 

Há que se desenvolver ainda a tão aguardada TOE, theory of everything, ou teoria de tudo, que busca integrar todas as outras teorias em física. Há ainda muito que se amar e descobrir no amor, tão abstrato e variável que é. Porém, feita a comparação justa, ambos os assuntos deverão sempre ser paralelos, daqui até o fim, quando não houver mais amor nem razão para amar, e quando teoria alguma fizer sentido.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Sobre o sim e o não

Pessoas afirmam uma sentença começando a frase com não. Pessoas negam uma sentença começando a frase com sim. Esse tipo de contradição surge quando uma frase não nasce pronta, ela precisa ser moldada e integrada ao contexto. Na verdade qualquer coisa fora de contexto soa falso.

Tenho deixado meus sonhos em casa. Saio pra rua carregando a realidade, seja ela qual for. Sonhos são muito belos e aconchegantes, mas a frieza da realidade é mais pura, é de verdade afinal. Em tempos de amores tão estranhos, de vivência de tamanho retrocesso, me sinto repetitivo. Prefiro chocolate branco, que muito dizem não ser chocolate. Oras, muitos dizem que os sonhos não são reais.

Por outros lados, sinto falta de coisas que nunca tive. Mas as palavras repetidas que já tive tornam essa frase reutilizada, de novo e de novo repetida e incessantemente. Como pular de paraquedas, sinto falta de pular de paraquedas, e isso nada mais é do que analogia à vida decadente que se leva.

Um saudosismo pertinente, umas leituras ultrapassadas, e uma vontade incontida de ressuscitar tudo aquilo que já houve e ouve. Ao menos concursos não envelhecem, apesar da literatura evoluir. Continuo criando e inventando, e que gama de responsabilidades são essas, nada acaba e a cada dia assume-se mais. No entanto, tudo sob controle, fico esperando o dia em que as coisas desandariam. Gosto de ver o circo pegar fogo, e prefiro quando estou dentro do circo.

Assim, de sim e de não, literaturas vêm e vão, saudosismo vem e vai, compromissos vêm e vão, chocolate vem e vai. Também mudam os sonhos e a rua, a realidade e os concursos. Mudam, mas não envelhecem.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Shitberg - parte 02

No início, a merda estava principalmente presente entre os trópicos, o Canadá, por exemplo, era um país quase a salvo do problema, exceto por uma ou outra corrente merdítima que chegava vez por outra.

Em meados do sexto ano da emerdiação mundial, o problema passou a ser mais global. A população sofria como nunca antes, e imigrava para os países árticos. Porém, agora a bosta estava começando a chegar lá também, havia merda condensada na atmosfera em forma de nuvens, e as correntes de ar as carregavam de um lado pro outro, massas de bosta fria e de bosta quente faziam parte das previsões do tempo nos canais de televisão. 

Nas águas as correntes oceânicas também carregavam a merda como se fossem gigantescas estradas de bosta. Então a corrente do gorfo levou fezes até a Groelândia, e lá imensos icebergs constituídos totalmente de merda começaram a se formar. Coprólogos estudaram o ponto de fusão da merda e verificaram que os icebergs de bosta ficariam cada vez maiores e mais fedorentos.

E foi assim que a nova ameaça surgiu, mais um problema num mundo já afundado em merda: o shitberg. Os shitbergs eram massas colossais de bosta, que se aglutinavam e congelavam, a maior parte de sua constituição física ficava abaixo do nível do mar, sendo assim invisível. 

Shitbergs vagavam pelos oceanos, atingindo latitudes cada vez mais próximas ao equador, pois derretiam com mais dificuldade em relação aos icebergs tradicionais. A temperatura da Terra diminuía, devido à presença de merda na atmosfera condensada em forma de nuvens, que por ser mais densa e de cor mais escura, geralmente marrom, refletia a maior parte dos raios solares de volta ao espaço. 

Assim os shitbergs aumentavam, em tamanho e quantidade, e também em periculosidade, e dominavam uma porção cada vez maior dos mares do planeta. As águas já não eram navegáveis, e barco nenhum viajava, nem mesmo os mais fortes suportavam a terrível ameaça dos shitbergs. 

Até mesmo a aviação ficou comprometida devido à grande presença de merda na atmosfera que dificultava a visibilidade, no nono ano já não se locomovia a grandes distâncias pela Terra. 

No próximo inverno do hemisfério norte, as neves vieram com mais força do que em todo o século anterior, e escurecidas pela bosta, pesteava tudo. Algumas pessoas voltaram a migrar para os trópicos, voltando de onde fugiram outrora, quando a merda começou a dominar as cidades costeiras. 

Depois de dez anos do início de emerdiação mundial, a população humana começava a minguar pela primeira vez na história, eram muitas as doenças e pestes; a produção de alimentos diminuíra assustadoramente; não havia mais transporte, e várias regiões do globo estavam completamente inabitáveis. Grandes desertos de merda cobriam os mapas. 

No décimo terceiro ano, a população mundial já era a mesma que na época da revolução industrial, e perecia. Tudo era merda, e o planeta não se recuperava, pois as pessoas continuavam cagando. Bosta na atmosfera, cocô nos oceanos, fezes nas terras emersas. 

E o planeta esfriava cada vez mais, numa era glacial de proporções bostiais, shitbergs cada vez maiores flutuavam pelos oceanos, que eram cada vez mais parecidos com fossas gigantescas. Os shitbergs invadiam os rios, numa piracema escatológica, congelando as nascentes, e contaminando os lençóis freáticos, não havia mais água livre da bosta no planeta. 

Shitbergs colidiam com as cidades costeiras, que desde a última imigração voltavam a ser habitadas, sendo alguns dos lugares menos frios da Terra, causando destruição e ceifando mais vidas. Aqueles colossos de merda eram visto com muita freqüência até mesmo na costa do Brasil e da África. 

No inverno seguinte foi avistado no Oceano Pacífico o maior shitberg já catalogado pela humanidade, com 1.607 quilômetros de comprimento, e nenhum coprólogo conseguiu calcular o tamanho que ele atingia embaixo da água. Um dia ele não estava mais à deriva, e se tornou fixo, como um novo continente de cocô, e passou a crescer cada vez mais, com mais merda congelando a sua volta, como em ilhas vulcânicas. 

Em pouco tempo, novos continentes de merda surgiram, e alguns se aglutinavam, ficando cada vez maiores, as águas de todo o planeta estavam se congelando em bosta, e havia cada vez menos pessoas para presenciar essa glaciação escatológica. No décimo sétimo ano o Oceano Atlântico inteiro virou uma grande massa fecal, as correntes marítimas deixaram de existir. O mundo se tornava uma merda gelada. No inverno seguinte o último ser humano morreu. 

E depois de tanta coprofilia, tanta escatologia, tanta emerdiação, o planeta Terra se tornou um grande e coeso Shitberg à deriva no espaço.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Shitberg - parte 01


Aquela maldita privada entupida mais uma vez, um problema muito freqüente nos últimos meses, e lá vai a conta bancária do encanador engordar um pouco mais.

Era um problema freqüente e cada vez mais presente nas sociedades, não era mais exclusividade desse ou daquele edifício, dessa ou daquela rua, nem mesmo de uma localidade ou país. Era um problema generalizado.

As privadas entupiam simplesmente porque a capacidade de destinação dos detritos provenientes de esgoto estava se esgotando. Era tanta merda que já não tinha mais onde jogar, os aterros sanitários já estavam cheios. Florestas eram derrubadas diariamente com o intuito de criar novos aterros, no entanto com o acordo de Kiev, ficou proibido todo e qualquer desmatamento, não importava o objetivo, pois as matas estavam acabando.

O lixo era reciclado facilmente com as novas tecnologias, comprimia-se e jogava ao espaço, combustível solar, assim, os aterros sanitários já nem precisavam ser usados como depósito de lixo. Mas não havia o que fazer com tanta merda, de todos os apocalipses ecológicos previstos para a humanidade, o escatológico era o menos esperado, e talvez por isso mesmo especialista nenhum se preocupou com ele. Até a água bater na bunda.

Nessa época jogavam cada vez mais bosta nos oceanos, eram as grandes privadas do planeta. Todas as redes de tratamento de esgoto do mundo acabavam nas águas salgadas. E a capacidade de renovação dos mares é limitada, apesar de ser grande, então chegou uma hora em que as águas começaram a virar um merdesteio só.

No início daquele ano algumas praias ao sul da França e da Itália foram interditadas, e em menos de dois meses todo o litoral sul europeu estava inapropriado para receber banhistas. A justificativa era a alta quantidade de coliformes fecais na água, as pessoas já chegavam à areia com furúnculos causados por bactérias da merda.

Não demorou muito para o resto do mundo também bloquear o acesso aos oceanos. Uma epidemia se espalhou na Ásia, causada por frutos do mar contaminados, os peixes estavam se transformando em cocô. Depois disso todas as populações do mundo pararam de pescar, em duas primaveras houve um superpovoamento dos oceanos, o que agravou ainda mais o problema, pois as criaturas marinhas consumiam mais oxigênio da água, diminuindo a capacidade de renovação e de decomposição dos dejetos.

No fim do terceiro ano as cidades costeiras começaram a ser evacuadas, as pessoas não suportavam o cheiro e as pestes, moscas se multiplicavam e chegavam a ter o tamanho de um ovo de galinha.

Cientistas estudavam com afinco possíveis soluções. Mergulhadores eram enviados, e dezenas de pessoas morreram em aventuras a alto mar, cair na água sem uma roupa especial de proteção era suicídio.

A merda começava a evaporar e condensar em nuvens, quando um vento impróprio a levava para o continente, chovia merda, e haviam furacões de merda na primavera. As águas da chuva, antes tão aguardados em determinadas partes do mundo, pra que viessem lavar as almas das pessoas, agora eram odiadas, e preferia-se a seca.

Um dos especialistas no novo problema da bosta dominante passou a estudar a densidade da merda. Ele queria saber porque uma parte boiava, enquanto outra boa quantidade afundava. Os fundos dos oceanos eram massas lodosas de fezes, e por outro lado, havia bosta cobrindo quase toda a superfície. Sua conclusão foi de que a densidade era variável.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Obra Secreta


Foi descoberta hoje pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), a realização secreta nos últimos meses de uma construção nos subterrâneos de Araucária. A obra consistia num metrô que seria entregue à população como surpresa no aniversário do município no ano de 2013.

Obras do metrô de Araucária
Apesar da construção não ter autorização do órgão regulador, os engenheiros responsáveis eram credenciados e não há nenhuma irregularidade aparente que comprometa a estrutura da obra. “O simples fato de não ser autorizada é suficiente para haver multa, obras dessa magnitude devem ser de conhecimento de todos”, afirma Bob the Builder, presidente do CREA-PR.

Nos últimos meses várias obras vinham se proliferando pela cidade, cada uma com uma justificativa diferente, recapeamentos de asfalto, reforma no Terminal Central, até mesmo a vinda de uma grande loja de departamentos foi simulada para desviar a atenção.

A população se mostra indignada com a falcatrua: “Estamos sendo enganados, eles dizem que vão asfaltar a rua e constroem um metrô, isso não pode ficar assim”, esbraveja o comerciante Marcio Revoltz.

O projeto, que veio a público depois de desmascarado, ligaria Guajuvira ao Barigui, dois bairros extremamente importantes do município, e teria 134 estações, sendo uma a cada 200 metros do trajeto, com 17 vagões de passageiros movimentando-se ininterruptamente para dar conta da demanda.

As autoridades competentes ainda não se pronunciaram oficialmente, mas nossa reportagem apurou que as obras continuarão mesmo com a descoberta prematura e toda a polêmica gerada.