segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Absolutamente Glorioso

Lágrimas são apenas lágrimas. Não importa qual seja o motivo pelo qual sejam derramadas. Apenas uma glândula cujo intuito de ajudar no bom funcionamento dos olhos acabou sendo deixado um pouco de lado ao longo dos anos em que a humanidade, darwinisticamente, evoluiu. Adaptou-se à necessidade de ser a única criatura que chora para demonstrar os sentimentos. Sejam eles bons ou ruins. Ou bons e ruins ao mesmo tempo.

Dona Euthália em uma de suas últimas fotos
A glória e a não-glória caminham lado a lado, com apenas dois dias de diferença. Com muito menos que isso de diferença, com uma tênue linha, que acaba se dispersando e se juntado uma à outra, transformando-se ambas em uma coisa só.

Uma nota 10 declarada com fervor. A justa comemoração por um trabalho realizado ao longo de quatro longos, porém curtos, anos. Uma vida nota 10 declarada encerrada. A justa, porém nunca suficiente, homenagem a uma história construída ao longo de 86 belos, e gloriosos, anos. Dos quais, 64 vividos em um matrimônio progenitor de todo um clã que já contabiliza cerca de 50 descendentes, sem perder as contas. De mãe venerável, de esposa dedicada, de avó adorável.

Equipe Gemada na Estrada e a aprovação na banca
Assim mesmo, podemos declarar duas vitórias, pois que uma vida absolutamente gloriosa como essa nunca pode ser interrompida por qualquer morte, ela continua. E ela continua no seio de todos aqueles que ainda continuam, que lembrarão dessa vida e de tudo que ela trouxe. De todas as glórias, de todas as notas 10. É preferível celebrar a vida vivida do que lamentar a morte sofrida.

O curso de Jornalismo se encerra de maneira gloriosa, com todas as lágrimas de celebração a que se tem direito por uma conquista como essa. Dona Euthália Trindade de Ornellas nos deixa, matriarca gloriosa. Com todas as lágrimas de lamentação a que se tem direito, mas sabendo que por uma vida tão gloriosa, merece-se também uma celebração.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Tratado Contra o Sistema Digestório

Que constem nos autos a Solicitação de Revisão da Criação Humana, impetrada pela minha pessoa, contra qualquer que seja a Força ou Entidade criadora do universo, pois há algo de muito errado com o corpo humano. É um erro fulgurante que permeia a existência da criatura humana desde a aurora da espécie.

À primeira vista, é parte essencial da fisiologia, não só humana, como também mamífera, e de todos os outros seres do Filo dos Chordata. Mas trata-se de algo muito além de simples fisiologia, não é apenas uma questão de manutenção da vida através das funções naturais de uma criatura. O problema está além disso. Acontece que o Sistema Digestório é um sistema corrupto e opressor. É um sistema que ocasiona mais malefícios do que benesses, um sistema que te obriga, de forma ditatorial, a realizar certas atividades em nada agregadoras ao caráter existencial do ser humano.

Vejamos então o modo como se dá essa opressão, por meio da explanação das fases do processo: primeiramente há a alimentação. Oras, pois que já foi provado diversas vezes, e por diversos seres vivos, que comer pode ser, e é, desnecessário à existência. Todo o Reino Plantae, por exemplo, exime-se dessa estafante tarefa de localizar alimento, extrair ou conseguir alimento, beneficiar alimento, sazonar alimento, e só por fim comer. O tempo perdido com esse processo é enorme, e poderia ser muito melhor aproveitado para o progresso social e científico da civilização, caso essa não tivesse um Sistema Digestório.

Então inicia-se a fase da deglutição e digestão. Aqui, há um imenso desperdício de tempo e energia, causando efeitos colaterais terríveis, como a "soneca pós-almoço". Sem contar a inumerável quantidade de músculos e ossos dispendidos para o processo de mastigação. Essa fase do processo tem ainda a grande desvantagem de se caracterizar pela quantidade desnecessária de espaço utilizada para sua realização. São tantos órgãos, glândulas, enzimas, e outros elementos que, de uma forma ou de outra, participam da digestão, que chegam a ocupar até um terço do corpo humano. Todo esse espaço poderia ser utilizado para a alocação de mais um cérebro, por exemplo, que poderia ser ainda maior e mais complexo do que o que temos atualmente.

Por fim, chega o momento da dispersão dos nutrientes adquiridos, e da excreção do inutilizável. Outra fase repleta de desperdício de energia e tempo. Apenas o tempo gasto no banheiro com a eliminação das fezes já poderia ser muito melhor aproveitado em outros direcionamentos. E as partículas sanguíneas utilizadas para carregar os nutrientes poderiam ser úteis em diversas outras funções.

Em termos gerais, todo esse processo opressor e desnecessário ocupa boa parte de nossa energia vital. O sistema todo poderia simplesmente ser suprimido, e substituído por outras formas mais práticas de adquirir componentes básicos para a vida, da maneira como diversas outras criaturas vivas já fazem. Não cabe a nós aqui nessas parcas linhas citar as possíveis substitutas ao ato da alimentação/digestão/excreção. Apenas devemos incitar em nossa sociedade contemporânea o debate acerca da necessidade do trabalho em prol da eliminação dessa estrutura maléfica e tenebrosa de nossos corpos, o Sistema Digestório.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Um Texto por Virada

As coisas são cíclicas. Oras, pois que diabos, já falamos disso antes. A prova de que as coisas são cíclicas é já termos falado disso antes. Assim, temos mais uma Virada, termo tão representativo de nossas vidas. Se aproximam os bells que jingle, se aproxima o fim de mais um ano e começo de outro. E toda essa bonita utopia de acreditar que um dia ou outro as coisas serão diferentes.

As coisas são diferentes o tempo todo. De ano em ano a Virada de nossas vidas se reinventa, se renova, e temos dias bons e dias ruins. Viradas boas e Viradas ruins. Poderia haver aqui uma lista das coisas boas, das coisas que se reinventaram. Oras, falar do óbvio é desnecessário, as coisas que são sabem que são. Sempre sabem.

As coisas sempre sabem o que elas são. Esse ano, a música tem outros sentidos. E o que seria do mundo sem aquelas pessoas que dançavam em plena praça ao sol de meio dia ao som de uma sanfona. Música é só sobre diversão. E o que seria do mundo sem aqueles sujeitos que resolveram conhecer algo que não conheciam, e dançavam em pleno parque ao som de letras autorais que um dia passaram pela minha caneta. Música é só sobre diversão, nada mais. Essas coisas tão diferentes, pareceram tão iguais.

As coisas acontecem iguais, mesmo que por outras razões. Esse ano, as queimaduras provém de outros motivos. Esse ano, um beijo recusado torna-se a melhor coisa possível. Esse ano, um beijo aceito torna-se singelo motivo de agradáveis risos. E estavam lá tantas pessoas quanto sempre, tantas daquelas que se faz questão de abraçar ao menos uma vez por ano, se possível muito mais, em cada Virada, pelo resto da vida.

As coisas assim são, enfim. Cíclicas, diferentes, sabendo, e iguais, ao mesmo tempo. Indo e voltando, muitas vezes mais indo do que voltando, mas quando elas resolvem voltar.. Ah quando elas resolvem voltar. É assim que se fazem as melhores Viradas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Ciclicando

Estou aqui todos os dias, de peito aberto esperando a minha bala perdida que nunca vem. O câncer maligno que nunca me acomete. A doença rara que tantas pessoas lamentam ter. Todos os dias, esperando uma resposta desse mundo, que nunca perdeu um segundo ao meu lado, e apenas continua a girar...

Todas as pessoas que ficam em dúvida entre tomar uma ou outra decisão, acabam não tomando nenhuma. É essa lei imutável na vida. Houvesse o peixe que respirava por pulmões decidido não avançar à terra, e nada do que vemos estaria aqui. Não haveria sequer olhos para enxergar o que não estaria aqui. Dentro de si mesmo, cada um escolhe até mesmo quantos glóbulos vermelhos despender em cada esforço de troca de oxigênio.

A prorrogação do óbvio é desconfortante. Todo esse nada que continua acontecendo incessantemente, e sendo muito, sendo tão parco flerte. Algumas coisas voltam sempre, temos mais uma virada pela frente. Oras, como foram as últimas? A memória me diz algo sobre elas. Mas o que é a memória, senão uma artimanha de nossas cabeças para que não levemos mais pedradas?

Algumas coisas se reconstituem, e dizem que isso é culpa do verão. Verão, mal sabem que esse termo técnico se encontra mal empregado em nossas vidas subtropicais. Pois que assim são também as nossas vidas em temporadas, acabando um pouco mais a cada minuto, e se renovando da mesma forma. Ciclicando.

Muitas coisas chegam ao fim, mas é exatamente para isso que as coisas servem, elas começam a morrer no momento em que nascem. E é para isso que as pessoas servem. Tudo que existe tem começo e meio, cabe a cada imensa parcela desse pequeno tudo descobrir onde está seu fim. E não pensemos que isso é o mal do mundo. Essa é a parte boa.

Não pensemos também que o que se faz, se faz por gosto. Algumas coisas são feitas, e mesmo existem, apenas porque assim precisam ser, queiramos ou não. E assim as coisas seguem, todas e cada uma, com suas benesses e malefícios. Com suas doenças raras, e vidas mais raras ainda.