quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Um Amor da Minha Vida em Cada Esquina

Venho escrevendo pequenos textos em prosa poética sobre as minhas paixões. Sobre essa necessidade que tenho de me apaixonar o tempo todo. Esses textos devem eventualmente se aglomerar em um livro ou coisa parecida.

Já há algum tempo digo que paixão é uma força da natureza. É como essas tempestades fora de controle, como as florestas e os mares, o fogo e o ar, a terra e as forças vivas, entidades animalescas dentro de nós. A natureza sempre proporcionou as melhores metáforas, analogias e digressões à literatura. Delas venho fazendo uso.

Mesmo que nada disso seja novidade, se apaixonar também não o é. Vivo minha vida colecionando paixões, como muitos outros assim o fazem. As breves e as intensas, as platônicas e as eternas. Gosto de todas elas, e faço intensidade de todas elas, já disse que não aceito o que não for intenso.

Gosto de transformar toda essa infinidade de paixões em amor, mesmo que já tenhamos versado repetidamente sobre o contínuo mau uso desta palavra. Mas já há muito tempo que não sinto também aquela arrebatadora, a conhecida revoada de borboletas no sistema digestório.

A amplamente divulgada teoria dos seis graus de separação nos deixa em contato próximo com qualquer pessoa do mundo. E Bukowski já dizia que é impossível dizer que se ama alguém, tendo tantos milhões de pessoas no mundo que você provavelmente amaria mais se simplesmente as conhecesse.

Mas todos sabemos que não é tão simples assim. Amor não se pesa, paixão não se mede, não se compara. Não há régua nem balança, ou qualquer forma de equiparação, de dizer que gosta mais de um do que de outro. Gostar é simplesmente gostar. Apaixonar-se é simplesmente se apaixonar. Ao mesmo tempo, é também muito mais do que isso.

Cultivo esses amores. Espalho-os por aí. Vivo todos eles na medida do impossível. Reciprocidade nunca foi necessidade. O importante é sentir, é a única forma de estar vivo. Paixão é uma enorme força da natureza, e eu adoro ter um amor da minha vida em cada esquina.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Intensidade

Ontem, chorei. O que, sendo uma criatura da água, é extremamente comum e natural. Por aqui, o sentimento verte líquido sempre. Desce rolando pelas faces, vindo de bolsões d'água escondidos junto da porta escancarada da alma, que se abre ainda mais com a força dessas águas levemente salgadas.

Essas lágrimas que desceram não estavam ali por excesso de tristeza ou melancolia, não naquele momento, embora boa parte das vezes em que o sentimento verta líquido sejam essas as fontes de sua fluência. As águas desceram alegres, como no experimento em que alguém descobriu existirem moléculas felizes e moléculas tristes.

Mesmo assim, a melancolia estava lá, como uma música de fundo, o som ambiente. Na verdade mesmo, ela nunca me deixa, é como o cantar dos passarinhos pela manhã, o barulho dos carros ao longo do dia e o frenesi sonoro dos grilos à noite, ou seja, é um som que sempre esteve lá e sempre estará.

Nos últimos dias, estive diante do mar. Preciso estar diante de Poseidon frequentemente, diante de Iemanjá, de Nereu, Sedna, Ulmo, Netuno, Aegir, e de todos os outros seres que ali vivem e governam. Lá, cogitei a essência da existência física do mar: seria ele uma única criatura, composta por todas as águas do planeta como um único corpo?, ou seria a junção das várias e praticamente infinitas gotas d'água e criaturas que o compõe e o habitam?. Não tive coragem de cogitar sobre a essência de sua existência metafísica.

Qual a essência da nossa existência física? Somos nosso corpo fechado dentro de si, isolado dos outros corpos? Ou somos a junção de todas as pessoas que nos importam e fazem a mais incrível diferença em nossas vidas? Somos uma gota d'água ou somos um oceano inteiro? Lá, diante do mar, eu me sentia todos os outros. Sentia-me as pessoas que estavam lá comigo, criaturas maravilhosas de brilho em essência. Todos de existência individual, mas que em coletivo formávamos um oceano imenso e intenso.

Por fim, eu quero explodir de tanta existência! Não cabe mais dentro de mim o acúmulo de tanta intensidade. Só quero para a minha vida gotas d´água que sejam comigo oceano, só quero o que seja intenso, vívido. Quero mais desses momento que dilaceram minha alma de tanta alegria. Ontem, chorei. O sentimento líquido levemente salgado procurava o oceano, procurava esses últimos dias, em que vivi com a intensidade que só pessoas-oceano podem proporcionar.