sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A opinião do ponto de vista do indivíduo

A criação e a genética são os principais fatores a moldar um indivíduo e sua personalidade. De acordo com as teorias dos estudos culturais, a sociedade e as experiências influenciam diretamente nos gostos e atitudes do sujeito, sendo que cada coisa e situação que acontece à nossa volta moldam um pouco a forma como percebemos e vivenciamos o mundo. 

Quando o indivíduo se torna parte de grupos humanos amplos, sejam eles pequenos como uma família, ou cada vez maiores, como as multidões, ele vai, proporcionalmente ao tamanho do grupo, perdendo a sua individualidade para fazer parte da massa. 

As opiniões do sujeito fazem parte desse contexto de molde social, cada grupo do qual ele faz parte o influencia de uma forma e projeta o funcionamento de seu caráter, suas vontades e por consequência, suas opiniões nos mais diversos assuntos. 

Desse ponto de formação cultural de um sujeito, sendo moldados seus valores, também faz parte o espaço público, é lá que se trocam experiências, que há a interação entre as pessoas, e que as ideias circulam livremente, sendo elas também moldadas pelo contexto e pela opinião individual dos que frequentam esse espaço público. 

Nesse contexto, há o choque de ideias e, por consequência, de opiniões. No espaço público os assuntos de interesse dos mais variados grupos são expostos e colocados em pauta, sendo os próprios assuntos inclusive moldados pelo pensamento coletivo, como se tivessem vida própria. 

Cada indivíduo contribui intensamente para a formação da chamada opinião pública, mas a partir do momento em que ela se torna coletiva, ele perde também o poder sobre sua própria contribuição. A opinião pública é uma substância muito volátil, mas que cada sujeito sozinho não consegue desestabilizar seu poder e fazer sua opinião prevalecer. 

É certo que em determinados contextos, surgem líderes de capacidade persuasiva muito grande, e que conseguem fazer suas opiniões individuais prevalecerem sem muito esforço, agitando a opinião pública de forma revolucionária, e por vezes perigosa. Mas esses casos ocorrem mediante certas condições pré-estabelecidas que acontecem em casos muito isolados. 

Dessa forma, cada indivíduo tem a sua importância relativa, porém o que realmente vale em grandes contextos é a opinião da massa como um todo, a opinião pública. Dessa forma, a opinião de cada pessoa contribui para a formação do conjunto, no entanto isso faz com que as opiniões divergentes tendam a ser suprimidas. 

Do ponto de vista de um governo, por exemplo, essas supressões se fazem necessárias para que o bem comum seja atingido. Assim, a opinião da grande massa vai sempre se sobrepor à opinião de cada um, pois essa deve contribuir para a formação e depois fazer parte da massa da opinião pública, perdendo seu valor individual. 

Porém, do ponto de vista do indivíduo que não tem sua opinião condizente com a da opinião pública, essa supressão da sua individualidade tem um caráter bem mais trágico, pois a sua opinião não está sendo levada em conta, mas sim está perdida no meio da grande massa que é a opinião pública, sendo inclusive sobrepujada por ela. 

Assim, num contexto geral, na grande maioria das vezes, a opinião pública é de fato uma representação fiel das opiniões individuais de cada sujeito componente da massa. Mas sempre haverão os antagonistas, que ajudaram na construção essa opinião pública, mas não fazem parte dela, tendo suas opiniões individuais muito particulares e diferentes.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Água

Água deve ser a substância mais adaptável que existe. E também a mais intrigante, bizarra, estranha, e estimulante que o universo já nos proporcionou. Uma simples ligação molecular como qualquer outra coisa existente, porém com tantas diferenças práticas.

Sou um peixe, apesar da astrologia não me ser das "ciências" mais queridas. No entanto, um peixe que não sabe nadar. O oceano exige respeito, Poseidon e Ülmo não são dos deuses mais generosos. Em pequenas quantidades a água é a própria vida, em copos, jarras, e até baldes e cisternas. Em grandes quantidades pode ser extremamente destruidora, em inundações, tempestades e tsunamis.

Rios, mares, oceanos, lagos, lagoas, córregos, lençóis, poças, e tantos outros, o líquido tomando a forma do sólido, entrando em cada vão e fresta inimaginável, se adaptando ao ambiente. Sólida, líquida ou gasosa, exercendo influência sobre o mundo em seus estados da matéria. Derretendo ou congelando, criando e matando.

A maior parte das águas têm em mim o mesmo efeito dos abismos, é tão atraente e ao mesmo tempo tão amedrontador. Não no sentido de causar pânico, mas o sincero respeito mesmo, não consigo olhar para o oceano sem pensar em Poseidon ou em Ülmo.

E acho mesmo que estar no mar é estar entre dois abismos, abaixo as profundezas com suas vidas em constante respiração branquial. Acima, o abismo dos céus, com seu azul enganador e suas vidas em constante pairar. Qual dos dois é o mais profundo, o mais atraente?

Me vi no futuro olhando o passado, foi o dejà vú mais sinistro desde sempre, tenho certeza que era água embaciando minha visão. Antes agora e depois, com água sempre, pela vida e pela morte, atraente e amedrontadora, com água sempre.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Bolhas

É preferível provar o caos uma vez
Vivenciar o terror da destruição
Do que uma vida inteira de marasmo
São detalhes que nem meus mortos perguntam
Façam esses buracos pra aliviar a pressão
Aqui é a carne que rasga as navalhas
Falta espaço para mim dentro de mim
Todas as voltas desse mundo a girar
Quem é você que fala tanto em solidão?
Há tanta gente andando a esmo nesse mundo
E a queimadura vai formando nova bolha
São tantas infinitas essas bolhas
Essa carne é forte demais para ser fraca
É uma luz que muito cega e mais maltrata
O exorcismo de um fantasma bonachão
Nada mais é do que uma história sem final
O que é vício e o que é virtude é tudo um só
Um pouco mais um pouco menos tanto faz
Mas afinal é o que temos pro jantar
Somente angústia e umas lágrimas contidas

sábado, 3 de novembro de 2012

A magnífica história de Araújo Lokão

Hoje vou contar pra vocês a magnífica história de Araújo Lokão, um surpreendente conto de fadas real tipicamente araucariense:


Era noite do dia dos mortos em Araucária, um fogo crepitante invadia aquelas vidas suburbanas. Como aproveitar o fim de noite, quais as opções? Ninguém imaginaria o que estava por acontecer na Praça do Seminário, cenário de tantas tragédias pregressas.

Eis que surge rodando rua acima um veículo capaz de demonstrar todo o poder aquisitivo de seu proprietário, que o estaciona inesperadamente próximo a dois jovens sedentos por glória. Dentro do carro, um sujeito bem vestido, corroborando ainda mais a impressão que o seu veículo passa.

Araújo Lokão apresenta fala extremamente etílica, e com seus 52 anos acabou de "comer uma gostosinha", de acordo com suas próprias palavras, e sua esposa não pode ficar sabendo. Para tanto, ele pede a ajuda dos jovens num plano mirabolante que envolve um telefone, vômito, ambulâncias, vinho e pizza.

Figura imponente da cidade, o Oscar Niemeyer da favela, só não desenhou o hotel do Hissam porque "aquela porra é muito feia". Ante tudo isso, sua situação no momento eleva questionamentos quanto à elite burguesa araucariense, estariam todos fadados ao mesmo destino? Cada um curte a vida como lhe convém.

Após conturbadas negociações o plano é finalmente levado a cabo, a esposa já não mais interferirá em sua farra, e o homem pode voltar à sua noite de bandalheiras, porque todo mundo merece uma cachacinha e umas putas as vezes. Obviamente, o brinde da noite será em homenagem ao magnífico Araújo Lokão.