Não aprendi a pertencer a este mundo. Pelo contrário, me condicionei ao longo de minha vida inteira a viver em um mundo de fantasias, diferente e paralelo a este. Isso em partes porque nunca quis acreditar que a realidade seja assim tão ruim quanto para nós ela se apresenta. Parece-me que todas essas adversidades e complexidades da vida são completamente ilusórias.
Ilusórias no sentido de que elas parecem apenas existir para nos desviar do caminho que todos estamos trilhando rumo à grandeza. É muito fácil se deixar vencer pelas adversidades e complexidades, muito mais fácil do que enfrentá-las e subjugá-las. Afinal, é cômodo não lutar. Como muita gente se deixa vencer, e muitos também são vencidos a despeito da batalha, acaba parecendo que a grandeza a que todos nós estamos destinados é exclusividade de apenas alguns poucos.
Admito que seja fácil também escapar de tudo isso para um mundo de fantasias. De certa forma, isso é também perder. Por outro lado, vejo esse mundo de fantasias como uma das poucas maneiras de influenciar nessa realidade, de tentar mexer com ela, chacoalhar as bases estruturais dessas complexidades e fazer ruir esses castelos mal-assombrados por demônios inescrupulosos.
Noites em claro. Frustrações, angústias e ansiedades. Necessidades inquestionáveis e inexplicáveis. E estabilidade emocional é quase uma lenda urbana. Quem precisa de coisas estáticas, afinal? Movimento. Nunca ficar parado. Fantasmas físicos e abstratos. Substratos mentais, camadas superficiais. Romances e amizades. Medos, dúvidas e preocupações. Não tenhamos medo de sentir medo. E está tudo bem. Podemos passar por cima disso. Eu seguro a sua mão. Escutar e de fato ouvir. Falar e de fato dizer. Ver e de fato enxergar.
O mundo está em chamas, é verdade. Mas não há nada errado em sonhar enquanto isso. Às vezes, precisamos buscar respostas no mundo surreal interno e auto-construído de cada um. Precisamos depois questionar se a realidade é assim tão ruim quanto aparenta, e se nosso mundo de fantasias é capaz de subverter o mundo real e ajudar a suportá-lo, ou se vai apenas fazer parte e não agregar em nada.
Acho que tenho mesmo aquela ponta de esperança na vida da qual me falaram. Gosto de acreditar que algo vai dar certo, mesmo quando tudo está desmoronando. Até porquê é quando tudo desmorona que podemos construir tudo de novo, de uma maneira muito mais bela e eficiente. É preciso sorrir em meio ao caos, e gritar ao mundo, aos mundos, o real e o de fantasias, que a grandeza será nossa.