Outras vezes, precisamos nos empenhar em demonstrar uma força para além daquela que temos.
Sinto constantemente uma sensação de assuntos inacabados, de que poderia iniciar uma conversa qualquer com qualquer pessoa pelo final da última conversa que tivemos. Sinto que nunca teremos tempo de terminar todas as conversas. É como se elas morressem inadvertidamente e se encaminhassem para uma espécie de limbo dos assuntos, um lugar sombrio onde todos os assuntos inacabados ficam esperando sua conclusão.
Como eu vinha dizendo, deixei essa casa vazia por um tempo. Agora me falta tempo para tanto assunto. É tanta coisa que acontece e a gente não tem tempo de transformar em literatura, é tanto dia que foi poesia por si só e a gente nunca consegue colocar isso em um lugar palpável.
Venho escrevendo sobre as paixões. Sobre todas elas, as fugazes prioritariamente. Algumas são fugazes mais de uma vez, são reincidentes. E são todas poesia por si só. São retratos que não se pendura nas paredes dessas salas vazias, vão parar em alguma gaveta. Arrastam, elas também, correntes.
São elas uma espécie de força. Como eu disse para mim mesmo: não é um projeto para exercitar a escrita, como insistem nessa necessidade aqueles seres prepotentes que se auto-intitulam escritores, escrever todo dia não faz nada de ninguém; é sim um projeto para exercitar as paixões, essas sim precisam ser sentidas todos os dias.
Outro dia, senti uma fraqueza pulsante. Na verdade, isso sim é imutável. Essa fraqueza que pulsa junto com meu coração. Palpita em cada artéria desse corpo. Mas quem está autorizado a senti-la? É na nossa ilusão de força que podemos fazer um pouco de bem para quem nos cerca. Quantos "me ajuda" você já ouviu e quantos você já falou? A maioria deles vem codificado.
Mas de vez em quando é preciso desmoronar. Rasgar as paixões do papel. E chorar. Quem estava lá da última vez que você chorou? A força está mitificada no corpo que é o último a parar de dançar pela manhã, naquele que sempre ouve e pouca ajuda pede. Isso talvez não seja mais do que inércia.
Agora, o que não podemos fazer é parar de dançar. Parar de paixões. Parar com essa força falaciosa. Não podemos. Afinal, é de tanto mentir que somos fortes que podemos enfim acabar acreditando, e sendo mesmo. Continuamos esse assunto outro dia.