Nas papilas gustativas carregamos os sabores do mundo, inclusive, e principalmente, aqueles nunca provados. Tantas possibilidades em infinitas combinações. Aromas, temperos, consistências, sabores. Doce, salgado, amargo, azedo, agridoce.
Tenho a impressão de que os melhores amores são aqueles nunca amados. Os melhores mundos, aqueles nunca explorados. As melhores histórias, aquelas nunca contadas. Como se o que nunca sabemos nos atraísse muito mais, sem nem mesmo percebermos. E são tantas também as combinações entre amores, mundos e histórias. No fim, parece tudo a mesma coisa.
Há diversas formas de adoçar a vida, de açucarar o paladar.: Roubando guloseimas abandonadas em festas de aniversário coletivas. Vivenciando tardes de passeios inusitados em parques e museus, com milkshakes adocicados. Em trens carregados de açúcar, cargas que viajam sem que nem mesmo nos demos conta. Todas essas coisas acontecendo à nossa volta. E, vez por outra, nos perguntamos quando faremos parte desses amores, mundos e histórias.
A resposta nunca vem. Porque quando fazemos parte, não percebemos. Mas é como o nosso pôr-do-sol, ele acontece em paletas cromáticas inspiradas, em tons de todas as cores quentes, incandescendo o azul do céu. Porém, tal beleza se justifica pela quantidade exacerbada de partículas em suspensão por nossos ares. Nosso pôr-do-sol é tão belo porque é poluído. Assim são também os nossos amores, mundos e histórias. Assim também é o nosso açúcar.