terça-feira, 29 de julho de 2014

Sobre Açúcar e o que Fazemos do Mundo que Temos

Nas papilas gustativas carregamos os sabores do mundo, inclusive, e principalmente, aqueles nunca provados. Tantas possibilidades em infinitas combinações. Aromas, temperos, consistências, sabores. Doce, salgado, amargo, azedo, agridoce.

Tenho a impressão de que os melhores amores são aqueles nunca amados. Os melhores mundos, aqueles nunca explorados. As melhores histórias, aquelas nunca contadas. Como se o que nunca sabemos nos atraísse muito mais, sem nem mesmo percebermos. E são tantas também as combinações entre amores, mundos e histórias. No fim, parece tudo a mesma coisa.

Há diversas formas de adoçar a vida, de açucarar o paladar.: Roubando guloseimas abandonadas em festas de aniversário coletivas. Vivenciando tardes de passeios inusitados em parques e museus, com milkshakes adocicados. Em trens carregados de açúcar, cargas que viajam sem que nem mesmo nos demos conta. Todas essas coisas acontecendo à nossa volta. E, vez por outra, nos perguntamos quando faremos parte desses amores, mundos e histórias.

A resposta nunca vem. Porque quando fazemos parte, não percebemos. Mas é como o nosso pôr-do-sol, ele acontece em paletas cromáticas inspiradas, em tons de todas as cores quentes, incandescendo o azul do céu. Porém, tal beleza se justifica pela quantidade exacerbada de partículas em suspensão por nossos ares. Nosso pôr-do-sol é tão belo porque é poluído. Assim são também os nossos amores, mundos e histórias. Assim também é o nosso açúcar.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Do Crepúsculo à Aurora

Se de vastos campos floridos fostes
E concorrestes com outras pétalas
As tuas cores se destacavam

Mas fazer de seu corpo caule?
Serdes plantae não conhecemos
Comparação deveras injusta, pois

Em tua face um sorriso sincero
Que pétala alguma igualará
Nesse teu sorriso um brilho etéreo
Que pólen uno transmitirá

Nem o mais vasto dos campos, flores
Em tanto algum hão de superar
Sois a mais bela das asteraceae
Em qualquer solo a já fulgurar

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Legado

No Portão de Brandemburgo, mais de 200 mil pessoas. Na Praça San Martín, mais de 50 mil pessoas. No Maracanã, 74.738 pessoas. No mundo inteiro, mais de um bilhão de espectadores. No espaço, quatro astronautas. A rotina que fica após esses 30 fantásticos dias, é a mesma de antes e depois de todas as copas. De todos os maiores eventos esportivos de cada mundo particular.

Houve muita vibração. Houve muitas lágrimas também, é verdade. Mas as bandeiras agitadas, as caras pintadas multicoloridamente, os sorrisos estampados em cada rosto e olhar do mundo que se virou para esse mundo, são muito mais marcantes. A vibração transmitida pela televisão, pelos telões nas Brandemburgos e San Martíns existentes por aí, transmitida ao espaço, foi sentida nas ruas desse país tão gigante quanto um continente.

No final, em um domingo pacato, em um estádio que já viu mais de seis décadas de história esportiva, um único momento de êxtase para ribombar na eternidade. Apenas um lado celebra a vitória no esporte. Todos os lados celebram a festa. Um poliedro de êxtase e vibração espalhado pelo mundo.

Pela primeira vez na história, três títulos seguidos ficam com o mesmo continente. A Alemanha de 81 milhões de pessoas, e centenária história, conquista o Brasil em 2014. Pela primeira vez, a Europa vence uma copa em terras americanas. A Copa das Copas mantém a continuidade periódica de um triunfo a cada quatro anos, com campeões diferentes nas últimas cinco edições. E termina de maneira tão gloriosa quanto começou. 

É segunda-feira, é 14 de julho. A Copa acabou. O mundo já está se virando novamente para seus afazeres cotidianos. Suas crises econômicas fastidiosas; seus conflitos e guerras periódicas; suas birras internacionais; o espaço. Fica o que existiu, fica o ribombar da eternidade, e esses sorrisos para sempre abertos em cada rosto e olhar do mundo, em cada Brandemburgo e Praça San Martín, em cada Maracanã; quando lembrarem que um dia, no Brasil, em nossas ruas e estádios, existiu uma Copa do Mundo.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

All Shall Fade

Somos poeira ao vento. Cópias de outros momentos. Como versos desgastados. Papéis amassados. Castelos desmoronados. Somos verbos reutilizados, na terceira pessoa, e em flexões no passado. Somos essas rimas pobres que insistimos em aplicar mesmo sabendo que nossas poesias ficarão uma porcaria com elas. Somos essa poesias de banheiro de boteco de beira de estrada, nunca lidas e para sempre lembradas.

Sempre disse que luz demais pode acabar cegando. Aos poucos, o brilho da estrela que nos dá a vida é capaz de ir corroendo as retinas, acabando com a magia que ela mesmo cria, derretendo o milagre da construção imagética. Borrando as cores, diluindo matizes, transformando tudo em um único e envelhecido tom de coisa velha e deteriorada. E então podemos dizer que está se apagando.

Está tudo se diluindo dessa forma. Todas as luzes, afinal, foram feitas para cegar. Estamos todos aos poucos sendo verbos, e sendo reutilizados. A longo prazo, a tendência de todas as coisas é se apagar. A longo prazo, a tendência é sempre desbotar. E é o que fazemos, desvanecemos. Somos aquela cor viva que existia antes em determinado objeto que passou tempo demais ao sol. Mas estamos sempre desvanecendo.

Dado o prazo suficiente, todas as criaturas estão assim, desvanecendo; e procurando sinônimos para seu próprio desbotar. Procurando dicionários, e tentando entender o que acontece. Acontece o que acontece a todas as criaturas, e a todas as coisas, e a tudo o que se passa nesse mundo e nos outros: all shall fade. Tudo desvanecerá. Apenas três palavras suficientes para determinar a verdade mais imutável de todas: tudo desvanecerá.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Brasileiro Escapa de Avalanche no Nepal

(texto de outubro de 2012, publicado no portal Bicicleta Amarela)

No último fim de semana uma grande tragédia abalou o mundo, a avalanche no Monte Manaslu, no Nepal, deixando 11 mortos e dezenas de feridos e desaparecidos.

Hoje, trazemos uma entrevista exclusiva com o homem que escapou dessa e de diversas outras tragédias. Marcos Horte estava deitado tranquilamente em sua cama assistindo ao futebol quando ocorreu a tragédia. “Eu moro no Leblon e por muita sorte mesmo essa avalanche catastrófica não me atingiu!”, exalta Horte.

Mas não é a primeira vez que Horte demonstra ser um homem de muita sorte e sobrevive a um evento cataclísmico como esse. No tsunami de 2005 que atingiu a Indonésia ele estava em férias nos Estados Unidos, e por muita sorte não foi atingido pelas ondas. Outra vez foi quando caiu o avião da Air France no Oceano Atlântico. “Nesse dia eu levei meu cachorro pra passear no parque, quase não escapo dessa vez”.

Horte declara já ter escapado com vida de mais de 20 tragédias desse porte. Mas ele tem um concorrente de peso nessa contagem, o empresário Matias Ananias afirma ter sobrevivido ao naufrágio do Titanic no começo do século. “Foi muita sorte eu ter sobrevivido a um desastre como aquele, ainda bem que eu não era nascido”, comemora Ananias.