Demoro a reparar na imensa estrela branca que orna o teto desse ambiente, simulando talvez a vista de um céu que, mesmo que a proteção contra as intempéries não existisse, estaria obscurecido pelo excesso de luz urbana (existe coisa mais contraditória que uma luz que obscureça?). Por outro lado, talvez seja uma simples analogia sintomática aos lascivos giros, e ao belo translacionar dos pés que bailam aqui nesse chão.
Giram, giram, giram, bailam! Rodam as saias e os vestidos. Cores em profusão. Danças belas. Cada casal é uma estrela única, um corpo único vibrando e emitindo um intenso brilho que não se vê em luz. Integrantes de uma efêmera galáxia de corpos em translação de órbitas peculiares. Cada estrela morrendo e nascendo novamente ao fim de cada dança, formando uma nova e exclusiva galáxia de corpos celestes girando a cada música.
A Rosa Púrpura tenta me tirar para dançar, quer me fazer estrela. No entanto, sou um observador de experiências, um astrônomo distante, de galáxias que nunca explodem, nem nascem novamente. Um particular observador de primeiras vezes. A translação está em outro lugar. Aqui, cada saia rodada, cada giro, cada passo na penumbra quente, é uma estrela diferente, de tamanho, cor e luminescência únicos.
Enquanto pisam os pés, fazendo desse chão nosso céu, no denso ar paira o som da criação. E dizem, de maneira arrebatadora, que toda paixão só tem gosto se sangrar. Digo, de maneira corroboradora, que todo bailar só tem gosto se cansar. Mesmo que as estrelas nunca se cansem de girar. Assim, a dança uma hora para, se acalmam as saias rodadas, arrefecem-se as órbitas das estrelas. Mas logo, sob a tutela dessa imensa estrela branca no teto, se formarão outras galáxias. Outros bailares.