quinta-feira, 26 de julho de 2012

Angústia

Ando de bicicleta por aí pra não precisar respirar. Sinto falta de ar a todo momento e não gosto de carros, por isso chego à conclusão que estou dirigindo as máquinas erradas. Se é que a gente nasce pra alguma coisa, nasci pra ser diretor e não motorista.

Eu com a galera.
Hoje sei que a angústia deve ser a pior das doenças, pois mesmo os piores demônios têm medo de morrer. Eu não tenho. Somos cachorro de rua, fedendo na chuva, cheio de pulgas, revirando latas de lixo, se contentando com aquele osso semi-roído, e procurando aqui e acolá um pouco de sarna pra se coçar.

Penso demais, e por pensar demais acabo perdendo demais, acho que a maioria das pessoas é assim, deixam de realizar por ficar cogitando as formas de realizar, deixam de ser por ficarem esperando que sejam; mas tenho a impressão que já disse isso antes. Por pensar demais acabo dizendo coisas vezes demais.

Ainda há que saber o que é o amor. Esse Leviathan assustador, que angustia, faz pensar e tira o ar; que todas as pessoas buscam, e depois fogem dele; ao qual escrevem-se poemas fadados a serem rasgados. Gosto de escrever poemas, desde que alguém goste de lê-los.

Acho que venho fazendo bem em não querer definir o que é o amor. Apenas o pensamento, a angústia e a falta de ar devem ser suficientes. Pois que não é preciso respirar.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Experimento Antropológico

A própria vida é um grande experimento antropológico, conhecer, analisar e relativizar as pessoas e as coisas à nossa volta faz parte de nossa rotina diária, ainda que nem nos percebemos fazendo isso tudo.

Gosto de sentar em um ambiente público e ficar analisando as pessoas, tentando entender o motivo que as move de um lado ao outro, o porquê de estarem fazendo qualquer coisa que estejam fazendo. Analisar seus desejos e necessidades, suas feições, e suas tristezas e alegrias.

"Aquele sujeito tem cara de quem dorme mal". "Aquela mulher tem cara de quem não geme". "Esse aqui gosta de Beatles". "Essa outra deve odiar a mãe". E assim por diante, pois que todas as pessoas demonstram.

Assim, por vezes ainda elaboramos experimentos mais complexos, que envolvem saber como as pessoas reagem em determinadas situações. Nem sempre buscamos algum resultado com isso, o próprio experimento por si só deve ser o resultado.

E talvez o grande objetivo seja se surpreender com o resultado, ou com a análise, porque aprender um monte de coisa que já sabemos talvez não tenha tanta graça assim, mas quando o que se obtém é inesperado, aí sim valeu a pena.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Espera

Nas esquinas, paradas de ônibus, ao lado de placas de 'pare', nos estacionamentos pavimentados, e em tantos outros lugares; vejo aqueles rostos, são homens parados, aguardando sua condução ou o que quer que estejam esperando. Em todas essas faces anônimas e inertes, vejo uma tristeza semelhante, não é o frio, não é a manhã pálida, nem a incessante sequência de acordares cedos. É sim um desespero muito contido.

Subitamente, percebo um rosto conhecido entre tantos outros. Um nome me vem à mente, William, isso William, de onde deveria eu conhecer esse sujeito? Da escola, em tempos imemoriais o sujeito deve ter sido um colega de classe, e ao contorcer os corredores de minha memória, tenho certeza que poderei lembrar daquele homem atirando bolinhas de papel nos colegas, atazanando crianças menores no recreio, jogando tazo no horário da aula.

Tudo isso em épocas em que nada se esperava, a própria condução era motivo de alegria, e o acordar cedo era entrecortado de pequenas felicidades por motivos banais. "Ah mãe, tenho mesmo que ir pra aula hoje?", e ninguém pode ver desenhos animados para sempre. E como numa epifania, é triste perceber que nunca mais assistiremos à Sessão da Tarde na Globo, entre cobertas de bichinhos e com aquele copo de chocolate quente.

Já tem vida demais na minha vida. E da janela do ônibus, vejo que William dá um bocejo, vapor condensado sai de seu pulmão, a fumacinha preenche o ar, e se dissolve num rápido movimento de adeus. Aquela esquina fica pra trás, sua condução ainda não chegou, a fumaça se dispersa, e outras crianças devem estar se preparando para bater tazo, atazanar e atirar bolinhas de papel a essa hora.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Blues da Gralha Triste

Como voa triste aquela Gralha lá distante
Vai rodando em eixos fortes
Em suas asas brilha a luz de tanta sorte
Descem lágrimas intensas

É só tristeza esse caminho
A Gralha Triste bate as asas compassadas
A sensação de estar perdido
Na tristeza o amor se esvai e já não é nada

Acostumada a voar alto cinge o asfalto
Tempo ficando para trás
Deixa claro em seus domínios tudo é dor
Felicidade que não há

Então por fim o que há de ser
Desembarcamos e assim estamos em casa
E nessas ruas, nessa hora
A Gralha Triste é todo o mundo à nossa volta

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Hotel Califoraucária

Na Rodovia do Xisto, cool wind in my hair
Warm smell of poluição, rising up through the air
Up ahead in the distance, I saw a shimmering light
My head grew heavy and my sight grew dim
I had to stop for the night

There she stood in the viaduto de entrada da cidade
I heard the alarme da repar
And I was thinking to myself
This could be Heaven or this could be Hell

Then she lit up a candle and she showed me the way
There were voices down the victor do amaral
I thought I heard them say

Welcome to the Rihad Palace Hotel
Such a lovely place (2x)
Such a lovely face
Plenty of room at the Rihad Palace Hotel
Any time of year (2x)
You can find it here

Her mind is Calceaki-twisted, she got the Opala cor de rosa
She got a lot of frequentadores do Bakana, that she calls friends
How they dance in the Praça do Seminário, sweet summer sweat
Some dance to remember, some dance to forget

So I called up the Hissam
Please bring me my tubão
He said: "we haven't had that Campo Largo here since nineteen sixty-nine"
And still those voices are calling from far away
Wake you up in the middle of the night
Just to hear them say

Welcome to the Rihad Palace Hotel
Such a lovely place (2x)
Such a lovely face
We're livin' it up at the Rihad Palace Hotel
What a nice surprise (2x)
Bring your alibis

Mirrors on the ceiling
The Campo Largo on ice
And she said: "we are all just baianos here, of our own device"
And in the Hissam’s chambers
They gathered for the conferência do partido
The stab it with their peixeiras
But they just can't kill the Zezé

Last thing I remember, I was
Running for the portal polonês
I had to find the passage back
To the place I was before
"Relax", said the mendigo do 1 reial

We are programmed to receive
You can check out any time you like
But you can never vazar

terça-feira, 3 de julho de 2012

Cachorro-Peixe

Um dia desses decidi que a partir daquele momento eu seria uma maçã de terno, e nada poderia me impedir de ser assim. O mundo real com todas as suas sobriedades e imposições nos faz um mal muito maior do que podemos imaginar, existem poucas coisas piores do que perder a capacidade de imaginar, de sonhar.

ílaD rodavlaS

A realidade não foi feita pra mim, como diz a música do Helloween: "I'm living in a world of fantasy / Reality ain´t good enough for me / And all that I can feel is nothing but sobriety / I'm living in a world of fantasy / Reality ain't meant or made for me" (http://letras.mus.br/helloween/1766445/). Vivo meu próprio mundo de fantasias, pois aqui as coisas são melhores.


E todas as pessoas deveriam experimentar a criação de um mundo próprio de alucinação, construindo a própria realidade ao sabor de suas vontades. Pois que é assim que a vida se torna um pouco mais suportável, a realidade deixa de ter seus efeitos devastadores, e podemos ver cores em meio ao cinza, ou cinza em meio ao cores.

ettirgaM èneR

Produzo meu próprio surrealismo através de minha parca literatura, de cinematografia de beco, e de divagações aleatórias, conjuntas e solitárias, sobre qualquer assunto. Esse monte de nada acaba formando um pouco de tudo.

Não tenciono escrever um terceiro manifesto do surrealismo, para isso outros vieram antes, alguns ainda nos fazem companhia nesses sonhos fantásticos. Apenas quero dizer que "Neste verão as rosas são azuis, a madeira é de vidro.A Terra envolta em seu verdor me faz tão pouco afeito quanto um fantasma. Viver e deixar de viver é que são soluções imaginárias. A existência está em outro lugar".