quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Ponto de Vista de um Evento Epopeico por um Pacote de Bolachas

E toda essa pose de rockstar? Tudo fuleirice... Nada além de uma imagem que se queira passar, um personagem, algo que nem existe. Carregando sacola, a roupa do corpo e a necessidade apenas. Por que essa gente precisa de tanta coisa? Eles precisam de tudo o que possa preencher o vazio de suas almas. E é assim que as coisas andam.

Ouvi dizer que haveria companhias. Assento vazio ao lado, frigobar vazio ao fundo. Oras, não exatamente vazio, mas tenho a impressão de que está vazio tudo o que não está cheio. Não existe meio termo, todo e qualquer espaço que se cria é um vazio. Talvez a alma daquelas pessoas esteja apenas com um pequeno espaço vago, mas assim e por isso mesmo, estão vazias.

Uma parada em local desconhecido, em terreno obscuro. Mas se bem que pra quem nunca foi muito além de linhas de montagem de embalagens, caixas acomodados em locais húmidos, prateleiras inconstantes e armários complexos, qualquer lugar se torna um terreno obscuro.

Capa para chapinha e progressiva. Chuva anunciada e programada, pois que não é chuva aquela que não vem para dificultar alguma coisa. Oras, mal sabem os seres de alma vazia que quanto mais ela te molha, mais bem ela te faz. Não precisamos, apenas um pedaço de plástico semi-verde para mim, e uma capa transparente que deixaria os pés de fora para quem me acompanha.

Fila, infinita, desconexa, inconstante ela também. Sabe-se lá em que a criatura humana se baseou para criar a necessidade da fila, de organizar as possíveis balbúrdias causadas por excesso de pessoas buscando o mesmo objetivo. Imaginemos uma ampulheta cujos grãos de areia se organizassem em fila, esperando sua legítima vez de passar pelo mínimo espaço contador do tempo. Havia pessoas jogando baralho, passando desodorante, passando por nós e jogando com a própria liberdade.

Enfim, o som, a magia das notas, aquilo que por tantas vezes foi dito não poder viver-se sem. Durante duas horas o chão nunca pareceu tão longe, perto, longe, perto. Ainda luzes para todos os lados, infinitas estrelas nas proporções de um estádio. Brilhando e iluminando nossas almas por vezes vazias. Sessenta mil almas. Pacotes de bolacha também têm almas?

No fim, uma procissão de almas molhadas, revigoradas, precisas em suas precisões. Caminhando a esmo, para onde quer que estejam indo. Não faz mais diferença alguma. Tudo o que passamos foi vívido por si só, e essas dezenas de carrinhos de cachorro quente nunca poderiam entender. Destinos é tudo o que temos, a todo o tempo, estamos apenas chegando a um lugar que vai nos dizer onde temos que chegar. E assim fomos, e assim estamos, de volta. Aonde quer que seja a volta, mesmo que no armário, pelo menos por enquanto.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Fumaça

Nunca precisei conversar com ela. Ficava lá açoitando a noite com sua alma, no meio da fumaça que pairava no ar rejeitando as ordens de "deixem o recinto", e vejam bem: não demora muito para que venha a aurora.

Me pediram para escrever uma crônica, creio que todos os escreveres são crônicas, pois que escrever é uma doença crônica. Já fiz poesias com essa palavra, poesias de amor, hoje a rejeito e a amo ao mesmo tempo, e assim o é com todas as palavras para quem as usa por demais. No fim, o que escrevi não era crônica, talvez fosse algo mais.

Naqueles olhos escondidos, abaixo de uma franja desconexa, profundos e ainda assim desérticos. Como um oásis ao contrário, uma ilha de absoluto nada em meio à bela e controversa totalidade do mundo exterior. São apenas observações distantes, de um olhar que nunca chega a perfurar.

Nunca mesmo cheguei a conversar com ela. Mas acho até que esse tipo de coisa nem mesmo é necessário, um oásis misterioso é sempre mais belo. As palavras nunca são suficientes, e não sabem mesmo como ser utilizadas. A fumaça desce, começa a rastejar pelo chão sujo, atinge os buracos por onde os ratos costumam carregar suas presas, sejam elas vegetais ou animais. Atinge os becos e os cantos escuros e obscuros. Atinge cada centímetro quadrado de tudo ou de nada. Atinge os olhos profundos e desérticos.

Isso não é, então, uma crônica, e não é sobre ela. Até porque ela nem mesmo existe mais, em sua imperfeição de fumaça. Não é, então, uma escolha que se faça, apesar de que pode haver uma não-escolha, que se obrigue a fazer. É apenas um escrever como tantos escreveres, profundo ou desconexo.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mudanças, e um pouco mais

Nunca fui de acreditar nesses conceitos hiperbólicos. Tudo o que implica perfeição é perfeito em sua inexistência. Muitas coisas existem apenas para desexistir, e podemos pensar que seria melhor se nunca tivessem existido. Porém, por outras tantas vezes, elas podem ser gloriosas em sua perene existência, e o seu desexistir é desimportante.

Um cenário diferente é por quantas vezes necessário. Cenário, andares e caminhares, relacionamentos e relações, conhecimentos. Mudanças são o que permeiam as consequências, como outrora tratado. E como são elas tão necessárias, a Terra que gira, a Lua que se torna Sol, e versa-vice constantemente, e assim também associado a todas as tantas estrelas que permeiam esse céu do passado.

Passado, o qual se vive de memória. E todos temos uma eidolon wall muito própria, essas paredes da memória onde as sombras dançam, independentes de que haja luz ou não. E geralmente não há. Nas minhas paredes, memórias distintas e distantes dançam. Aquela noite de cabaré, onde uma voz sobre outra voz traduzia simultaneamente o que aquela bela música tencionava passar com sua essência. Alguns receptáculos de amor nunca consumados, contratos nunca referendados. E uma sessão, praticamente um festival, de déjà-vu's.

Oras, contudo, tantas quantas forem as memórias e lembranças (sinônimos distintos), tantas serão as paredes e sombras dançantes. Vive-se disso, sem querer chegar a desexistir. Somos saudosistas de uma geração que já ficou velha, que envelheceu rápido demais, que pensa que ainda pode suportar o peso do mundo em pernas bambas de artrite, e uma corcunda protuberante.

Dentro desses conceitos hiperbólicos de que tanto se fala e nada se entende, buscamos recuperar o que perdemos, o que agora desexiste. As sombras continuam dançando, e me parece que alguém, miraculosamente ou não, conseguiu recuperar alguma coisa. O saudosismo ainda impera, há quanto tempo as mudanças vêm ocorrendo? Mudanças que nunca chegam a mudar nada, é tudo ainda tão igual.

Igual, porém diferente. Sem aquilo que tivemos, sem conceitos hiperbólicos, sem novas sombras a dançar. A busca por um novo cenário, com todas essas coisas que desexistem dia após dia, mudanças desejadas ou não.