E toda essa pose de rockstar? Tudo fuleirice... Nada além de uma imagem que se queira passar, um personagem, algo que nem existe. Carregando sacola, a roupa do corpo e a necessidade apenas. Por que essa gente precisa de tanta coisa? Eles precisam de tudo o que possa preencher o vazio de suas almas. E é assim que as coisas andam.
Ouvi dizer que haveria companhias. Assento vazio ao lado, frigobar vazio ao fundo. Oras, não exatamente vazio, mas tenho a impressão de que está vazio tudo o que não está cheio. Não existe meio termo, todo e qualquer espaço que se cria é um vazio. Talvez a alma daquelas pessoas esteja apenas com um pequeno espaço vago, mas assim e por isso mesmo, estão vazias.
Uma parada em local desconhecido, em terreno obscuro. Mas se bem que pra quem nunca foi muito além de linhas de montagem de embalagens, caixas acomodados em locais húmidos, prateleiras inconstantes e armários complexos, qualquer lugar se torna um terreno obscuro.
Capa para chapinha e progressiva. Chuva anunciada e programada, pois que não é chuva aquela que não vem para dificultar alguma coisa. Oras, mal sabem os seres de alma vazia que quanto mais ela te molha, mais bem ela te faz. Não precisamos, apenas um pedaço de plástico semi-verde para mim, e uma capa transparente que deixaria os pés de fora para quem me acompanha.
Fila, infinita, desconexa, inconstante ela também. Sabe-se lá em que a criatura humana se baseou para criar a necessidade da fila, de organizar as possíveis balbúrdias causadas por excesso de pessoas buscando o mesmo objetivo. Imaginemos uma ampulheta cujos grãos de areia se organizassem em fila, esperando sua legítima vez de passar pelo mínimo espaço contador do tempo. Havia pessoas jogando baralho, passando desodorante, passando por nós e jogando com a própria liberdade.
Enfim, o som, a magia das notas, aquilo que por tantas vezes foi dito não poder viver-se sem. Durante duas horas o chão nunca pareceu tão longe, perto, longe, perto. Ainda luzes para todos os lados, infinitas estrelas nas proporções de um estádio. Brilhando e iluminando nossas almas por vezes vazias. Sessenta mil almas. Pacotes de bolacha também têm almas?
No fim, uma procissão de almas molhadas, revigoradas, precisas em suas precisões. Caminhando a esmo, para onde quer que estejam indo. Não faz mais diferença alguma. Tudo o que passamos foi vívido por si só, e essas dezenas de carrinhos de cachorro quente nunca poderiam entender. Destinos é tudo o que temos, a todo o tempo, estamos apenas chegando a um lugar que vai nos dizer onde temos que chegar. E assim fomos, e assim estamos, de volta. Aonde quer que seja a volta, mesmo que no armário, pelo menos por enquanto.