Sempre gostei de números, é uma habilidade natural de certa forma incongruente com a lógica jornalística. Porém, prefiro os números maiores, acima de 7, sete é um número legal, e todos os terminados com eles. Odeio os números redondos, são coisa de gente acomodada. Talvez por isso a Física seja minha ciência favorita: anti-acomodação e pró-números.
Se a mim fosse dada a incumbência de escrever as enciclopédias, assim eu definiria o verbete 'ser humano': "s.m.: única criatura dotada da capacidade, da habilidade suprema, de procrastinar todas as coisas". Assim, pagamos em 12 vezes. Doze também é um número legal, mas não para atitudes financeiras procrastinadoras.
O agora é o momento em que as coisas acontecem. O futuro é abstrato, nada mais do que uma projeção do que planejamos e queremos que seja, e sonhamos que assim será. Dá-se características numéricas para datas e valores que ainda não aconteceram, e que, grandes chances de, nunca acontecerão. Procrastinar é criar pré-requisitos para um futuro hipotético. Vive-se de amanhãs.
A memória, em geral, está no passado. No entanto, essa vontade humana de deixar para depois faz com que tenhamos saudades do futuro, daquele futuro maravilhoso que desejamos, mas deixamos para depois as atitudes que poderiam fazer ele acontecer. Por isso, é possível ter memória do futuro.
A física, e seus números, nos diz que não podemos lembrar do que ainda não aconteceu. E que, por isso, não podemos nos prender ao futuro, ao eterno depois, devemos viver de agora, e aumentar as probabilidade do futuro que queremos que aconteça. Há que se viver de fatos, de fazer os fatos acontecerem, de não pagar em 12 vezes o que pode ser realizado em apenas uma. Pois que, fatalmente e (por que não?) felizmente, algumas vezes o depois nunca chega.