Ao sujeito que é uma vez facultado ver a glória, o medíocre nunca mais lhe será suficiente. É impossível ter um dia o esplendor em mãos, e contentar-se no dia seguinte com o regular, o reles, o ordinário, a semi-glória. O sujeito que é rei uma vez nunca deve contentar-se em abandonar trono, cetro e coroa, para tornar-se o bobo da corte.
Tudo desvanecerá, e isso já foi dito. Mas é assim a ordem natural das coisas, todo castelo foi feito para desmoronar, e as mais lindas cores sempre desbotam. As coisas deixam de ser e de haver a todo o tempo. A glória um dia minguará. Tronos, cetros e coroas passarão, e nada vivo há de restar. O brilho cintilante de cada estrela, um dia será trevas na imensidão de um espaço frio e profundo.
Talvez nossas pinturas tenham desbotado pela ação do tempo implacável. Talvez tenhamos virado supernova, em uma explosão desalentadora. Talvez tenhamos morrido nesse mundo nublado, onde nosso caule não tem para onde girar. Talvez o arco-íris tenha desaparecido no ar como se nunca tivesse existido. Talvez tenhamos sido números normais, pares quaisquer. Talvez tenhamos sido linhas perpendiculares afinal, e nunca nos encontremos no infinito.
O que fica da glória é a própria existência da mesma. Sempre digo que não devemos lamentar as mortes sofridas, mas sim comemorar as vidas vividas. Portanto, só me resta agradecer à glória por ela ter existido, pois que a sua existência foi auto-suficiente. Agradecemos às vidas por elas terem sido vividas. A glória existiu, e isso basta.
E agora você parece para mim um sonho bom, porém distante. Um sonho sonhado em uma daquelas noites que a gente acaba acordando meio desvairado, sem entender muito bem o que acabou de acontecer. Aí senta na beira da cama, e passa alguns minutos tentando colocar as ideias no lugar, mas isso não é algo possível... Então, a ponto de levantar e seguir com o dia enfadonho e sem graça que com certeza virá, vem um sentimento bom, um tipo de paz interior mediante uma lembrança que não se sabe nem de onde vem, e aquela sensação reconfortante de que mesmo o sonho tendo acabado, ele foi bom... Ele foi muito bom.