terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A Perspectiva da Existência da Vida como uma Evolução Natural do Universo

Respostas para suposições existencialistas são, desde sempre, a busca suprema, o Santo Graal, o Shangri-La de grande parte daqueles que já caminharam sobre essa Terra, que andaram por esse planeta comparativamente minúsculo em um gigantesco universo. Suponhamos que o de onde viemos e o para onde vamos tenham sua resposta na simples complexidade e na complexa simplicidade do próprio universo! Suponhamos...

O universo teria surgido de uma explosão. É no que, hoje, se acredita; é o que, hoje, se aceita. A partir da explosão, nos momentos seguintes, nos bilhões de anos que se seguiram, tudo surgiu. A princípio apenas as moléculas de hidrogênio se reagrupando e gerando novas ligações químicas. Logo, com a explosão das estrelas primordiais, elementos mais pesados e complexos, gerando planetas e tudo o mais. Dizer que somos poeira estelar não é poesia, não é romantismo exagerado. É o que somos, talvez seja o de onde viemos.

Houve uma ordem lógica nos acontecimentos: o surgimento da vida (como a conhecemos) não seria possível sem a explosão das primeiras estrelas, sem as primeiras supernovas. As estrelas surgiram, elas explodiram; novas estrelas surgiram, e essas também explodiram. Na terceira geração, surgiu o Sol. Girando em torno dele alguns planetas tímidos. Em um desses planetas, eventualmente a vida.

Essa nasce, até onde se sabe, de uma maneira aparentemente aleatória. Uma proteína entra em ligação química com uma molécula de RNA, o ácido ribonucleico. A molécula que se origina, ainda extremamente rara, acaba encontrando moléculas semelhantes a ela, originadas da junção de outras proteínas com outros RNA's. Elas se juntam e formam aglomerados, que começam a se fechar em uma espécie de célula primitiva. A célula se rompe e as duas metades conseguem se replicar e formar duas novas células a partir da informação armazenada em seus RNA's. Pronto, está surgida a primeira célula auto-replicante, e, por consequência lógica, a primeira forma de vida. Daí por diante é só evolução.

Não há porque não acreditar na possibilidade desse ser um padrão de comportamento do universo repetido à exaustão em outros sistemas estelares. Ignoremos o fato de ser a vida como conhecemos a única vida que conhecemos, talvez sejam assim todas as vidas no cosmo. Assim, toda vida surgiria da sequência estrela > planetas > vida. Tudo o que é preciso é um planeta a uma determinada distância de sua estrela-mãe, não longe e nem perto o suficiente para que a sua água não seja líquida.

Não há, então, porque não acreditar que seja essa a única forma pela qual a vida pode surgir, que seja essa a sequência óbvia da origem da existência, que seja essa a evolução natural do universo. O universo surge e gera estrelas, elas geram planetas e eles geram a vida. O universo gera a vida. Ele quer a vida. Ele sabe que a vida surgirá através dessa lógica sequência de acontecimentos. O universo é auto consciente. E as coisas vivas é que são a consciência do universo. Nós somos a forma dele olhar para si mesmo e se perguntar de onde veio e para onde vai.

Nessa evolução natural do universo de modo a gerar a vida, qual seria o próximo passo da vida como conhecemos? As estrelas. Em um círculo de criação e destruição, de ordem e caos. Nós nos tornaremos as estrelas, e as estrelas são criaturas vivas. Para acreditar nessa perspectiva talvez seja necessário aceitar nosso corpo como um simples invólucro que resguarda uma coisa interior imortal, uma essência que evoluiria em suas experimentações da vida como conhecemos, até o ponto de se tornar uma criatura senciente tão evoluída e superior que é capaz até mesmo de emanar luz.

E talvez essa seja a simples e complexa evolução natural do universo, essa criatura senciente da qual nós acabaremos nos tornando parte cada vez maior. Essa criatura que nos quer e nos deseja, e nos criou para olharmos para si próprio e conjecturarmos de onde viemos e para onde vamos. Oras, viemos dele e para ele iremos. Somos ele e ele seremos.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Carta de Adeus - Tomo II

...porque foi um tipo de sonho que perdeu-se para sempre, mas de uma maneira diferente do tradicional perder-se para sempre. Não foi apagado pelo fraquejamento da memória recém-desperta e ainda não acostumada ao mundo real, afetada pela transição entre o onírico do sono e o onírico à nossa volta. Mas sim um sonho irrecuperável, daqueles que é possível lembrar nos mínimos detalhes, mas que não mais voltarão.

Nossa percepção é capaz de obedecer somente a padrões demasiadamente limitados. Não compreendemos o mundo em toda a sua imensidão, não compreendemos sequer a nós mesmos e nossas peculiaridades. Sabemos que o que regula as decisões atribuídas a corações loucos e insensatos é, na verdade, uma pequena porção de enzimas e hormônios. Mas até que ponto podemos determinar as parcelas de culpas delas, e a parcela de culpa dos corações loucos e insensatos, isso ainda é uma incógnita.

Prefere-se o romantismo da dúvida. Se não entendemos plenamente, podemos incutir um bom bocado de magia na coisa. É assim que funciona com todos os nossos não-saberes. Não sabemos do futuro, embora possamos conjecturar; e não sabemos nem mesmo do passado. Tenho a impressão de que uma parte de nossas memórias nunca chegou realmente a acontecer. O que chamamos de memória é um ajuntado do que vivemos e do que acreditamos ter vivido.

Não me lembro mais o que aconteceu no mundo real e o que se passou apenas no mundo dos sonhos. Não me lembro mais quanto de você é uma fantasia onírica e quanto existiu comigo de verdade. Tenho vivido realidades paralelas e não sei mais se alguma delas é real. Tudo o que sei é que a presença já é ausência, e, quanto a isso, tudo bem.

De qualquer forma, sem mais empecilhos pseudo-literários, te digo adeus, como se desfaz de um sonho pela manhã, quando o relógio despertador apita incansavelmente e o dia insiste em começar. Te digo adeus como te disse olá, com a mesma naturalidade de uma estrela em explosão de supernova. Te digo adeus com uma carta como tantas que já escrevi. Enfim, te digo adeus pela última vez, e volto a dormir, no aguardo do próximo sonho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carta de Adeus - Tomo I

O onirismo excedente de minha alma com frequência se manifesta durante a vida desperta. Nunca precisei dormir para sonhar. Não acho que o sono seja o caminho do sonho, acredito que eles apenas se manifestam correlatamente para a maioria das pessoas em virtude da conveniência da ausência de atividades mais pragmáticas durante a noite. Mas eu sonho o tempo todo.

Lhe escrevi cartas. Diversas cartas sem endereçamento postal. Não confundamos: destinatária havia, remetente havia. Só não havia porquê entregar. Ou como. Há que se fazer justiça ao bem da verdade: as cartas foram sim entregues. De uma maneira ou de outra, mesmo que não fisicamente, mas tudo que houve para dizer e escrever em linhas azuis, dito foi, escrito foi, entregue até mesmo pelo abstrato canal de um simples olhar.

Nunca cheguei a me desacostumar com o brilho fosco da tua presença. Parece que ainda vou encontrar você na próxima esquina, entre os transeuntes anônimos e sem face, entre essas pessoas que carregam suas vidas em uma sacola barata de mercado. Você se destacando imensamente, com um brilho fosco que só agora consigo definir, uma luminescência errante e com um quê de errada. Extremamente marcante, e, ainda assim fosco, turvo, opaco. Um brilho sem brilho.

Há um momento em nossas vidas, nas vidas de todos nós, em que, sem delimitação, divisória ou fronteira, passamos a nos acostumar e aceitar o fato de sermos efêmeros. Somos criaturas tão transitórias e extinguíveis quanto os nossos sonhos. Os do sono ou os acordados, todos os que nunca mesmo chegam a acontecer na realidade. Somos finitos, e tudo bem. O triste mesmo é que sejamos tão breves.

E como pode, dada tanta brevidade, a singularidade de um único momento, de algumas poucas horas, ficar marcada com tanta intensidade ao longo dos anos? Acredito que somente tendo sido um sonho, um dos meus sonhos acordados que se fazem sempre presentes. Um sonho contínuo talvez, diferente daqueles que, quando se acorda repentinamente, ao tentar voltar a dormir para continuá-lo, perde-se para sempre...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Manifesto pela Perenidade da Autoria

Desde o primeiro momento em que o ser humano foi capaz de contornar o tempo e registrar nas paredes das cavernas a sua perene existência, começou a ser produzida literatura. Ao longo dos milênios, já foi produzida tanta quanto o volume de seres viventes a experienciar a existência.

O princípio dessa capacidade de vencer a exatidão da morte se deu nas rochas, tanto das primordiais moradas cavernosas, quanto nas pedras que permaneceram soltas na natureza. A tinta provinha de pigmentos naturais, de origem animal, vegetal ou mineral, localizados por mãos pioneiras. A autoria da obra, essa se perdeu.

Quem exatamente eram aqueles homens e mulheres?, o que eles faziam?, por que faziam?, e o que se passava por suas cabeças?, tudo isso nenhum presente ou futuro poderá dizer. A autoria se perdeu e a obra ficou. Venceu os milênios, subjugou a morte. Não se sabe quem fez, mas sabe-se que foi feito. É o que fica; é o que importa.

Assim sendo, para o interesse da literatura, da obra em si, como essência, como criatura que inexoravelmente vive além do criador, o criador não importa. O autor não importa e nunca importou. O autor não deve nunca ser eterno, e, por conseguinte, o autor precisa ser perene. O autor não deve nunca viver tanto quanto a obra, ele deve ser esquecido. Deixemos a obra perdurar sozinha! A autoria deve ser perene!