Todo mundo acreditava estar certo o tempo todo, era a geração da certeza. Os antigos é que estiveram errados, eles faziam guerras, e guerra é errado. Oras, os caras faziam guerra desde que o mundo se estabeleceu, e aqueles primeiros átomos começaram a brigar entre eles, em explosões intensas de brilho e calor. E foi assim durante quase todo o tempo. As nações viviam em margens de paz, e as pessoas andavam pensando no progresso intelectual como nunca antes. O mundo era menos hostil.
Nossos avanços tecnológicos evoluem à medida que a própria vida evolui. Somos levados a supor, a maior parte do tempo, que a nossa mente e capacidade intelectual são infinitas, e podem atingir qualquer nível de conhecimento, mas ainda não sabemos onde está esse ápice. E ainda estamos deveras longe de atingi-lo, evoluindo tão lentamente quanto agora.
Acontece que qualquer sistema baseado em um crescimento linear e infinito é simplesmente insustentável. Nada que consome algum tipo de combustível para crescer pode ser infinito, a menos que esse combustível também o seja. O saber utiliza o próprio saber como combustível, alimentando-se de si mesmo sucessivamente, de modo autófago, porém não destrutivo. Mas assim ele se torna uma grandeza cíclica, evoluindo apenas até o limite no qual ele tenha saboreado o mesmo tanto de si mesmo, em progressão geométrica.
De certa forma, o conhecimento pode ser acumulado e passado de geração para geração da criatura humana. Contudo, uma parte desse saber sempre se perde nas imperdoáveis masmorras do tempo, com aquele sábio ancião que não transmitiu sua experiência; com aquele brilhante cientista incapacitado cedo demais; com aquele grupo de estudos que não chegou a resultado prático nenhum. Precisaríamos viver eternamente para que o acúmulo de saber pudesse ser aproveitado. E nada muda o fato de que precisamos morrer.
Individualmente, somos títeres de interesses maiores, dos interesses da espécie como um todo. Coletivamente, somos criaturas sem individualidade, como gotas d’água apenas completando o oceano. Somos meros acúmulos de moléculas, meros agregados de proteínas, originários daquela primeira proteína que, lá na sopa primordial, resolveu um dia sintetizar RNA. A vida é nada sem saber, e não podemos o ter por completo, podemos apenas acumular partes dele. Podemos ter uma perna de conhecimento, um braço de intelectualidade, um abdômen de sabedoria, um tórax de inteligência. Nunca teremos um corpo inteiro, nunca teremos moléculas suficientes.