quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pedro Lauro

Pedro Lauro Domaradzki é uma figura mitológica da noite curitibana. Proprietário do pequeno bar Estação São Pedro, no Alto da XV, o Seu Pedro Lauro é um homem irreverente e cheio de causos pra contar. Viúvo, mantém o bar com a ajuda de seus filhos.

O bar é mais conhecido como “Bar do Pedro Lauro”. Há pouca divulgação, que geralmente é feita no boca-a-boca. Assim, o bar que abre já quando a noite envelhece, passa a madrugada toda lotado, e só fecha com o sol já no céu.

Pedro Lauro está presente todas as noites, sempre com uma disposição de dar inveja na juventude. Dança a noite inteira, convida as mulheres para o bolero e ensina os passos àquelas que ainda não sabem. Para descontrair e assustar os clientes, solta bombinhas dentro e fora do bar, rindo e reforçando que não é um terrorista. O bolo cenográfico tem sua vela acesa todas as vezes que há um aniversariante.

Essas e outras brincadeiras são atrações no bar do irreverente Pedro Lauro. As paredes estão repletas de quadros de bandas, filmes, ossos, teias de aranha e muitas outras bugigangas. Logo na entrada há a “Fonte dos Desejos”, onde as pessoas jogam a tampa da primeira garrafa da noite.

Em todo o bar são encontradas relíquias, como telefones antigo, uma vitrola em pleno funcionamento (o xodó do Seu Pedro Lauro) que toca a noite toda, entre outros.

Pedro Lauro foi deputado federal entre 1972 e 1980 pelo MDB, numa campanha surpreendente, que começou com uma crítica viral realizada nas ruas curitibanas ao então prefeito Jaime Lerner.

Outra figura que está presente todos os dias no bar é o “Seu Madruga”, um senhor de bigode negro que senta sempre na mesma mesa, próxima ao banheiro, cochila em grande parte do tempo e fica responsável por acender a luz todas as vezes que Pedro Lauro deseja trocar o disco. Simpático, permanece ali, como um amigo fiel, até o fechamento do bar.

Além deles, o próprio frequentador do bar do Pedro Lauro pode ser considerado um personagem importante. Em geral, o bar não é o primeiro ponto de parada da noite. Quando muitas baladas estão fechando, o Seu Pedro Lauro está a pleno vapor no bolero, com a clientela ainda chegando. O cliente do Pedro Lauro não tem “frescura”, está disposto a uma boa dose de irreverência e quer virar a noite se divertindo. Ele não viu a propaganda na tv e nem nas revistas especializadas na noite curitibana, mas provavelmente recebeu a indicação de um amigo que esteve lá.

Localizado na Rua Padre Germano Mayer, no Alto da XV, a primeira vista e durante o dia, o bar é um lugar modesto, que não chama a atenção. Talvez seja por isso que muita gente não sabe de sua existência, no entanto, quando aberto, o bar se torna uma grande atração, recebendo as mais diversas pessoas que não querem que a noite acabe. Quem vai uma vez, sempre volta.


com Etiene Mandello

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Nove anos

Apesar do que alguns pensam, não existe geração espontânea, tudo o que nasce provém de algo, e esse algo provém de algo ainda mais antigo. Assim, minha mãe provém dos meus avós.

Nove anos e 2.500 quilômetros nos separam atualmente, eles estão no norte do Mato Grosso e a última vez que vi Euthália Trindade e Pedro Ornellas foi em 2002. Depois que nasci morei com eles boa parte da infância, minha mãe era solteira, e irmã mais nova de 10 irmãos, a criação e apoio que obtivemos dos meus avós foi essencial para tudo no que se seguiu em nossas vidas. Esse mês de agosto tem sido de muito saudosismo pra mim, pois é mês de aniversário de ambos, nove anos é tempo demais sem ver pessoas que estão entre a lista seleta de pessoas que você realmente gosta. Nove anos.

Na última terça-feira, 23, a Dona Euthália fez aniversário, 84 anos se minhas contas estão corretas, e nos últimos meses notícias de familiares de distanciamento reduzido vinham chegando, informando que sua saúde, que já é debilitada há uns 10 anos piorava gravemente. Mas felizmente ela melhorou, minha vó é forte, mais forte do que muitos de nós jamais serão.

No próximo sábado, 27, é a vez do Seu Pedro, que completará 89 anos de vida, mais uma vez caso minhas contas não estejam erradas. Ele tem estado bem de saúde, apesar da quase total cegueira que já o acompanha há tanto tempo. E nada disso o impede de dar umas voltas pelas ruas pra "ver as morenas".

Nos últimos anos, além da distância exagerada, problemas diversos me impediram de voltar ao Mato Grosso para visitá-los. Sei que nada é eterno, e que cedo ou tarde eles vão morrer, e quando isso acontecer será triste, mas que a vida que tiveram valeu a pena e foi gloriosa. Tudo o que eu quero é que isso demore ainda alguns anos pra acontecer, pra que eu possa voltar lá uma vez mais, e sei que são muito fortes os meus avós, e que com certeza eles vão aguentar firmes por mais um bom tempo, pra que no próximo agosto me bata esse saudosismo novamente, mas que sejam apenas alguns meses de distância.

Nove anos é tempo demais.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Na contramão

Fiz o caminho inteiro pedalando na contramão. E quando você pedala na contramão, sem desviar de nenhum carro, aquela expectativa, é como se os faróis daquela luz vermelha de um êxtase macabro fossem olhos, e você os encara insanamente, intensamente. Então aqueles olhos deixam de cumprir sua função de iluminar, e tudo o que querem fazer é se fixar aos seus olhos, como um animal excitado e selvagem pronto a atacar a presa estúpida que caminha em sua direção inocentemente.
A fumaça que sai do escapamento é sua fúria, o barulho do motor é seu rugido, a trepidação do movimento é seu caminhar, e seus olhos são duas esferas luminosas que te fitam. O animal vem na sua direção, cada vez mais próximo, e o guidão insistente não muda de posição, não manobra, a presa estúpida não faz questão de batalhar, os seus olhos não desviam do olhar do animal selvagem à sua frente. Então o motorista do carro puxa o volante e desvia de você.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pesquisa aponta que cachorros preferem despachos sem farofa


Em pesquisa realizada com mais de 3000 cães de várias regiões do Brasil, o Ibope concluiu que a preferência dos animais é pelos despachos que não têm farofa. Cerca de 83% dos animais prefere as macumbas que têm frango no cardápio, mas sem farofa. “Acredito que a farofa prejudique a mastigação dos cachorros” explica o especialista João da Silva.

Despachos de macumba deixados nos cemitérios representam 59% de todos os trabalhos realizados no país, e como mortuários sempre possuem seus cães de estimação, a ênfase da pesquisa foi nos animais de cemitérios comendo as macumbas deixadas nesses locais. No entanto, cachorros de rua também foram ouvidos. “Macumbas nas encruzilhadas não atraem tanto a atenção dos bichos, as de terrenos baldios são mais valorizadas” comenta Silva.

Apesar das divergências de preferência entre os locais de coleta dos trabalhos, a imensa maioria dos cães não come se houver farofa na macumba. “Au au” afirma Piludo, cãozinho do Cemitério Independência. Quando o despacho é feito com frango, ou até mesmo cabeça de bode, os animais se sentem mais a vontade para selecionar os melhores pedaços, e deixar de lado a farofa, mesmo que essa seja com bacon.

O Ibope deve divulgar em breve uma nova pesquisa realizada para descobrir a preferência dos gatos entre as bebidas utilizadas em macumbas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mudanças

Não consigo ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. Quando tenho um longo caminho a percorrer procuro ir fazendo zigue-zague, se vou a pé faço mais curvas. Acho que a rotina cria monotonia e tudo o que é monótono fica insuportável.

Aí que nasci numa cidade onde só morei por 3 meses, vivi com meus avós no MS um tempo e passei 6 anos da minha infância em Toledo, estou há 11 anos em Araucária. Penso até que posso suportar um bom tempo por aqui ainda, apesar de 11 anos ser muito tempo, e sinto falta de uma mudança mais radical, tipo ir pra Dinamarca, sei lá...

Enfim, fato é que nesse fim de semana que passou ocorreu uma mudança bem intensa. Carreguei geladeira, e outras coisas mais pesadas, deixamos os gatos por uns dias, estragamos um armário, vendi o aparelho de som, tive uma ideia pra revolucionar as cozinhas, e viajei no baú do caminhão baú, fui sem ver o caminho mesmo, cheguei num lugar que eu nem sabia onde era e nem imaginava como fazer pra chegar lá de novo. Mas não importa, o que vale é que aquele troço lá era meu, abrimos o portão e o portão era meu, sujei a porcaria do chão e não só a sujeira era minha como o próprio chão era meu.

Comemos pizza no quintal, no condomínio ao lado um cachorro magérrimo latia, e depois passei uns 10 minutos olhando as estrelas, nos matos assim é melhor de ver as estrelas.

As mudanças não acabam por aí... tem mais por vir, sempre tem mais por vir... afinal não consigo ficar muito tempo fazendo a mesma coisa.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Épico


Trecho do conto 'épico', de minha autoria; que quem sabe um dia publico inteiro por aqui:


E foi grande, apesar de curta, a história da qual fizeram parte, pois que as grandes histórias não devem ser mais do que breves relatos; e grande não pode ser usado aqui como adjetivo de tamanho, mas sim como epíteto, sinônimo de gloriosa. ‘Amaram’: e essa deve ser a maior de todas as histórias.
Foram eternos. Porém a única lição que alguém pode realmente tirar da vida real é que nem a eternidade dura para sempre quando não se tem alguém para aproveitá-la, e quando nada mais houver, nada do que foi importará, pois o mundo só existe porque existe uma humanidade para presenciar a existência do mundo. Rebeca morreu, como tudo que um dia nasce morrerá, como tudo que um dia respira sufocará, como tudo que um dia pensa inspirará, como tudo que um dia se alimenta alimentará. E não foi nada trágico, catastrófico ou épico, pois a vida é infinitamente mais épica, catastrófica e trágica do que a morte.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Três poesias que são duas, e uma só


De você só quero a ti
Se me fuzila com olhar de quem não quer
E me define como algo imutável
De bem pra mal de mal pra bem serei o mesmo
E no entanto a cada instante renovável
Mas o que sentes nem tu sabes de verdade
A minha presença há de ser suficiente
Em outras vezes tua carência é insaciável
De todas elas só você me faz sorrir
Mas já não exijo seu amor ou suas horas
A tua presença há de ser suficiente
Pois de você tudo o que eu quero é você

_____

There shall be no kings
For love has just died
But love was killed before
Or has never even been
For there is nothing to define
Many kings have gone first
A lot of princess with no dad
Love is a walking dead
Who has a crush on hearts
But love will come again
And the kings shall arise
To pick up back those princess
And struggle a little more
For true love never lacked
Only loving disposition

_____
E não haverão reis
Pois acaba de morrer o amor
Mas o amor já morreu antes
Ou nunca chegou a ser
Pois não há o que definir
Quantos reis já nos deixaram
Tantas princesas órfãs
O amor é um zumbi
Que prefere corações
Mas o amor há de voltar
E os reis levantarão
Pra buscar suas princesas
E lutar um pouco mais
Pois que amor nunca faltou
Apenas disposição pra amar



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Escolhas

"Fazer uma escolha implica ter tido opções"

"Tudo são escolhas, tudo o que se passa em nossas vidas é feito de escolhas, e cada escolha que fazemos ou deixamos de fazer nos deixa mais perto daquilo que finalmente somos. Mas o que é finalmente? Quando é o momento derradeiro em que tudo aquilo que somos importa? Não existe um finalmente, o último instante nunca chega, por que mesmo quando deixamos para trás o último momento de nossas vidas e ela deixa de haver, todas as outras coisas continuarão havendo. Frases como “o que fazemos em vida ecoa na eternidade” nos fazem pensar que é possível ser eterno mesmo morrendo, e tudo o que é vivo há de morrer. Como círculos concêntricos formados pelo impacto de uma pedra nas águas de um lago tranquilo, cada mínima escolha que fazemos ecoa na eternidade."

"...na abelha que preferiu aquela corrente de ar e não encontra o parabrisa; no caco de vidro de determinado copo que ficou parado no caminho da criança descalça; na curva à esquerda que se faz por engano e encontra um pedestre distraído; na decisão que se toma em cima da hora de não ir, e sabe-se lá o que pode ter sido perdido."

Ahh essas bifurcações da vida. A necessidade de fazer uma escolha e a falta de tempo até mesmo pra pensar, pesar prós e contras. Acho que em certos casos nem existem prós nem contras, apenas consequências, boas ou ruins. Mas cada mínima escolha que se faz pode ter as consequências mais diversas, e que podem alterar tudo completamente.
E vez por outra você se vê frente a uma dessas bifurcações da vida, com caminhos totalmente distintos a escolher, e não há o que pesar, você vai para um dos lados, sem volta, e sem placas que indiquem o caminho mais seguro. Apenas a escolha.
No entanto, há que se compreender que escolhas fazem parte da vida, escolher é viver, e não deve ser dado muito crédito a escolhas erradas, pois sempre existirão as certas. Também não deve se pensar muito, pois pensando tempo é perdido, e as opções acabam escolhendo por você.
No fim tanto faz, vamos apenas celebrar as bifurcações da vida!