quarta-feira, 29 de junho de 2011

Jornalismo

Cheguei à conclusão de que eu sou o pior jornalista que conheço, por vários motivos.

Dia desses tinha um carro capotado no caminho do ônibus, e esse tipo de coisa nunca me desperta curiosidade, eu nunca giro o pescoço pra olhar, como as outras pessoas do ônibus. Isso nunca tinha sido problema pra mim, até eu parar pra pensar no lado jornalístico da coisa, e percebi que o factual não me interessa, dizem que é pré-requisito jornalista ser curioso, e eu não quero saber quantos morreram ou deixaram de morrer naquele acidente.

Outra coisa que me perturba são as reportagens sazonais, aquelas que acontecem dependendo da época do ano, e todo ano são iguais, agora que é inverno a grande pauta das emissoras de TV é o frio, e as reportagens são exatamente as mesmas que foram feitas em junho do ano passado, até mesmo as reportagens especiais são iguais. E isso vale para todas as datas comemorativas do ano.

Terceiro motivo é que sou contra todo e qualquer tipo de fórmula, e tudo o que se aprende é que tudo o fazemos tem que ser feito com fórmula; reclamam que falta inovação mas nos ensinam que não podemos inovar, praticamente não existe espaço para criatividade no jornalismo, apenas para fórmulas amarradas e mecânicas.

Eu não leio jornal impresso, não assisto televisão, e muito menos ouço rádio.
E como certas coisas nunca mudam, eu continuo não sabendo o que estou fazendo, e porque continuo fazendo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Faroeste Polaco

Não tinha medo o tal Heitor de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da Fazenda Rio Grande
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando atropelado por um trem o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor Jonas com ele aprendeu
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que a velhinha Suckow colocava na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o Passaúna
E as coisas que ele ouvia na Rádio Iguaçu
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão
Comia todas as polaquinhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor
Aos quinze foi mandado pro Presídio de Piraquara
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por ser Baiano da obra da Repar
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Contenda
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou o Erne com quem foi falar
O Erne tinha uma passagem ia perder a viagem
Mas Heitor foi lhe salvar
Dizia ele: "Estou indo pra Araucária
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a Ribimbela
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"
E Heitor aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Cavalo Baio
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de piroca
"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Plantar batata, aprendiz de batateiro
Ganhava cem mil por mês em Guajuvira

Na sexta-feira ia pro Texas Bar
Gastar todo o dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um fotógrafo que vivia no Paraguai
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Ever e ele dizia
Que um negócio ele ia começar
E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele beber cerveja
E ouvia às sete horas o Edinei Kicot
Que sempre dizia que a Cultura ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Ever, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.
Logo logo tudo os nóia da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E Heitor de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava o Nova Europa
E ia pra Diesel Club pra se libertar
Mas de repente
Sob má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro no seu corpo
"Ahh. Foda!"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido na cidade de Araucária
Não tinha nenhum medo da GM
Do Hissam, do Recalcatti ou dos mano do Tupy
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Suelen era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Heitor prometeu
Ele dizia que queria se casar
E batateiro ele voltou a ser
"Suelen pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
O velho doido Rízio com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do Heitor
"Não boto bomba na Banca do Zebrão
Nem no Werka ou no Szymanski isso eu não faço não
E não protejo polaco de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor o senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Touro de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair com ódio no olhar o ex-prefeito disse:
Você perdeu sua vida, meu irmão
"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"
Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Ever que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar

Ever trazia contrabando do Paraguai
E Santo Cristo revendia no Palomar
Mas acontece que um tal de Pedro,
Traficante de renome apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que com Heitor ele ia acabar
Mas Ever trouxe um Rifle de matar viado
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que o Pedro começasse a brigar

Pedro, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Festa do Caroço e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Dizia que era baixista mas não sabia tocar
Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver a Suelen
Já tá em tempo de a gente se casar"
Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Suelen o Pedro se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Pedro pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas lá na Victor
Em frente à Yracema, é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também a Suelen
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Heitor não sabia o que fazer
Quando viu a Gabriela Bastos dando
A notícia do duelo na TV Araucária
Dizendo a hora e o local e a razão
No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta,
Heitor olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro Pino e pro Poli
E o Alexandre e a Amanda que filmava tudo ali
E se lembrou de quando era um gurizinho
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou
Circo do Pirulito, estou aqui"
E nisso o sol cegou seus olhos
E então a Suelen ele reconheceu
Ela trazia o Rifle de matar viado
A arma que seu primo Ever lhe deu

"Pedro, eu sou homem coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha da puta, sem vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"
E Santo Cristo com o Rifle de matar viado
Deu cinco tecos no bandido traidor
Suelen se arrependeu depois
Morreu junto com Heitor seu protetor
E o povo declarava que o Heitor de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer

E os Kampa, Cantador, Raksa e Ohpis
Não acreditou na história que eles viram na TV
E Heitor não conseguiu o que queria
Quando veio pra Araucária com o diabo ter
Ele queria era falar pro Zezé
Pra ajudar toda essa gente que só faz...
Sofrer...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Valdir

Admiro muito os irmãos Seima. O Yuri e o Willian, o primeiro, por exemplo, é o cara que fez minha tatuagem, a Éris, a partir de um desenho que eu sugeri. Os caras são talentosos e criativos, e é sempre bom trabalhar com eles.

Aí que na semana passada eles me chamaram pra participar de um filme de terror trash que eles tinham idealizado e estavam roteirizando, seria a história de um rango/boia/gororoba que cria vida e sai por aí causando o terror na galera. Topei na hora.

Marcamos o início das filmagens para o final de semana que acabou de acabar, pois o galã do filme mora em Brusque, só vem pra cá a cada duas semanas, e não poderíamos realizar o filme sem o Antonio Banderas das araucárias. O objetivo seria completar a fotografia principal em uma madrugada.

No sábado a noite, depois de dois torneios de poker mal-sucedidos, cheguei na Seima's House lá pelas 11 horas da noite. No ato ficamos sabendo que um dos produtores convidados, e um dos atores, deram piti e não participariam, aliás o ator que desistiu faria o papel do pau no cu no filme...

Bom, começamos a produzir figurino, cenários, e elenco. A equipe formada por mim, mais conhecido como Jhonny, Yuri e Willian Seima, Pedro Cavanhaque, Shiro Kampa e Serginho Haduken, e o apoio distante do Alegomo. Começamos a filmar. As 5 horas da manhã ainda não tínhamos matado ninguém, então paramos e decidimos continuar no dia seguinte.

No domingo chegamos mais cedo, as 6 da tarde, porém o Shiro tinha que voltar pra Brusque, então não teríamos muito tempo. Mas pelo menos conseguimos realizar as cenas mais difíceis do filme, a primeira morte (realizamos o sonho de muita gente e matamos o Serginho); e a aparição do Valdir, o monstro mais bem feito da história do cinema!

No entanto, ficou ainda faltando uma boa parte do filme, que só poderemos terminar nos próximos finais de semana.

Mas fiquem de olho, em breve o maior lançamento do cinema trash/gore/tosco araucariense dos últimos anos: "Gororoba Maldita", também conhecido como "A Linda História de Valdir".

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mas ninguém sabia o que fazer
Em situações constrangedoras como aquela
Mas ninguém sabia o que dizer
Ele sorria e procurava a mão dela

Ela sorriu e disse: amor, seu cheiro é bom
Ele parou o que fazia e olhou pra ela
Alguns amigos que conheciam um pouco os dois
Não entenderam e nem mesmo deram trela

E não sabiam muito bem o que fazer
Ambos sorriam um sorriso amarelo
Mas se entreolhavam com ternura e vontade
E a amizade parecia mais do que era

Eles vagavam pela noite de mãos dadas
Ele puxou para a cabeça a toca velha
Ela lhe disse: fica bem vestido assim
Ele parou o que fazia e olhou pra ela

Mas o amor é apenas força de expressão
Nada que faça da sua vida algo mais bela
Antes de tudo houve sempre a amizade
Que instigava a relação a ser eterna

E eles tinham o necessário para ser
Pois quando juntos o resto estava à paralela
A amizade evoluía e se recriava
O que rolava entre os dois magia era

Ele falava: que é só por ti vale viver
Ela dizia: sem sua vida a minha é vaga
A amizade pode vir a ser amor
E ambos viviam um pelo outro, ela por ele, ele por ela

domingo, 12 de junho de 2011

Charles Bukowski (ou Henry Chinaski, depende do ponto de vista) dizia que sempre haverá uma mulher pronta pra te salvar de outra, e que no exato momento em que ela te salva ela está pronta pra te destruir.
E eu diria ainda mais: a melhor cura para qualquer decepção amorosa é uma nova e destruídora decepção amorosa.
E é isso, tempo que vai, vida que segue, cada vez mais morta.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crônicas do Cemitério

Gosto de trabalhar no cemitério.
A morte nunca foi um tabu para mim, sempre soube que é esse o destino de todas as coisas viventes, e que toda criatura ao nascer tem como única perspectiva morrer. O que acontece nesse intermédio é lucro.

Quando vim trabalhar aqui algumas pessoas comentaram que "será o lugar perfeito pra você trabalhar" e "tem tudo a ver com você". Talvez a minha morbidez não seja tão absurda, ela é só natural, não vejo a morte como algo tão triste assim, as vezes ela até é uma coisa boa. O problema é que as pessoas geralmente não têm uma perspectiva tão aberta, elas não querem morrer, não querem que as pessoas que gostam morram, e por isso não se preparam para o inevitável, e quando acontece, a dor da perda se torna muito maior do que a vida que a pessoa que está partindo viveu.

Nas últimas semanas têm sido demolidos uns túmulos antigos, de 1988, os primeiros do cemitério, que já nem têm dono mais, talvez até os donos originais já estejam dentro deles. Acontece que a maioria dos sepultados nesses túmulos deteriorados e corroídos pelo tempo são crianças, recém-nascidos, que sequer chegaram a três, quatro dias de vida, muitos saíram mortos de seus respectivos úteros.

Nasci em 1988. É estranho ver pessoas que teriam hoje a minha idade e nem chegaram a viver, poderíamos ser amigos, companheiros de farra, talvez uma namorada, idealistas, quem sabe estaria um deles aqui comigo nesse exato momento.

Sempre fui a favor da mortalidade infantil, por mais absurdo e desumano que pareça, mas fato é que eu sou meio desumano mesmo. Mortalidade infantil é controle populacional, e não vou entrar aqui em detalhes dessa minha opinião. Mas ver a situação por esse ângulo diferente me faz pensar, titubear, não a ponto de deixar consternado. É que pra essas crianças o tempo nunca passou, mesmo hoje elas ainda têm quatro dias, e são lembradas por familiares com os rostinhos que saíram do corpo da mãe, se é que são lembradas. Essas crianças não têm amigos, namorados(as), ideais, e nem estão aqui nesse momento, porque o momento delas foi outro.

E é estranho pensar nisso...

No Reason

Ever since the day I was born
I keep asking why I am here
If there is any meaning in the life
What has destiny prepared to me?
When the clouds come to cover my eyes
And an angel come to ask for his fee
I might wonder if wanted this truly
Or if just sought a release to be free

There's no reason
Nothing to be done
There's no why
Ask me no more

Why someone should ask for the reason?
In the beginning no one asked me why
But the reason is the same as before
Motivation was never more than a lie
And even knowing no answer will come
I still look up and question the sky
If there's lack of reason to be born
Why should there be a reason to die?

There's no reason
Nothing to be done
There's no why
Ask me no more

quarta-feira, 8 de junho de 2011

...

Em seu universo não existe o presente. Gostaria de ter nascido no passado, especificamente em 1955, para poder curtir os anos 70, o melhor de todos, segundo ele, desde aspectos culturais até políticos. E ao mesmo tempo, pensa muito no futuro. O tempo o intriga, o deixa inseguro. Tem medo que o tempo passe rápido demais, e de não deixar um legado, não algo material, mas um ato, um grande feito. Assim, poderia ser eterno.

Jhonny Maylon de Castro, paranaense, 23 anos. É do tipo comum entre os rapazes da sua idade, altura e peso. Pele bem clara, quase pálida. Mas tem um “ar enigmático”, transpira intelectualidade. Com seus cabelos revoltados, castanhos e cacheados. Os olhos são da mesma cor que o cabelo. Olhar perdido por trás das lentes de seus óculos. Sorriso fácil.

Ele tentou definir-se como hipócrita, prepotente e arrogante. Talvez para criar uma barreira durante a entrevista. Mas essa barreira era de gelo e foi logo derretida, pois entre um pergunta e outra não demonstrou essas características. Foi apenas um pouco debochado e irônico em alguns momentos. Mas sempre sincero e descontraído. Sentado despojado em sua cadeira na sala de aula.

Jonas, como alguns amigos traduzem seu nome, trabalha em um cemitério, e cursa Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na PUC-PR.

Como todo bom brasileiro é amante do futebol. Seu time do coração é o Paraná Clube. Ele também tem paixões europeias, seus sonhos são conhecer a cidade de Viena na Áustria, e morar na Inglaterra. A banda alemã Scorpions ocupa o primeiro lugar em sua lista.

Jhonny adora todo tipo de arte, especialmente o cinema e literatura. Seu escritor favorito é Herbert George Wells, famoso por seus livros de ficção cientifica. Nas poucas horas livres que Jhonny possui, inspira-se em Herbert, e gosta de escrever, mais sobre coisas, que sobre pessoas. “As pessoas são muito complicadas. É difícil transformar os sentimentos em palavras. É como o amor, impossível defini-lo, é abstrato”, conta o estudante, em tom de voz suave.

Ainda sobre pessoas, ele diz que a maioria são demagogas e insignificantes. E em relação ao universo a humanidade é a coisa mais insignificante de todos.

É realmente um lugar intrigante, pouco habitado e paralelo, o mundo de Jhonny.



Eu, por ela (nada mais justo que o primeiro texto do meu blog não seja meu).