De todos as possíveis derrocadas para a humanidade, de todas as formas de auto destruição que o ser humano pode trazer sobre si mesmo, acredito ser o desenvolvimento da robótica o mais perigoso. Esqueçamos o acelerador de partículas, as guerras nucleares e o desenvolvimento acidental de um super vírus. Se a humanidade for morrer por suas próprias mãos, o instrumento utilizado por essa morte serão robôs, ciborgues e androides.
Não que necessariamente haverá uma revolução das máquinas, uma Skynet ou uma Matrix. Pode até ser que seja assim, mas o mais provável mesmo é que sejamos automaticamente substituídos pelos autômatos, em uma espécie de evolução natural da nossa espécie para a ciborgia.
O desenvolvimento latente da inteligência artificial já parece ser maior do que temos noção. Vemos criaturas completamente artificiais, criadas pelo homem, sendo capazes de executar tarefas extremamente complexas. A linha tênue que os separa de nós é a consciência e suas consequências: a senciência e a autoconsciência. A partir do momento em que os robôs forem capazes de perceber que eles existem de fato, quando estiverem certos disso, a diferença entre nós será inexistente.
Está certo que é uma barreira difícil de quebrar. Não sabemos direito como funciona a consciência nem em nós mesmos. Nos vemos frente a dilemas existenciais desde o início dela, tal como o de onde viemos e para onde vamos. Não vamos, portanto, nem tentar imaginar os problemas metafísicos que os autômatos teriam também que lidar caso ultrapassassem essa linha.
Poderia ainda ser argumentado que mesmo a consciência de si não permite ao androide ser um humano por não ter em sua essência física a naturalidade de que somos constituídos. Um ser fabricado, ainda que autoconsciente, não é um ser humano natural, gestado por nove meses dentro de um útero. No entanto, já é evidente a tendência do ser humano em substituir peças danificadas de si mesmo por peças não naturais: é um dente de ouro, um membro mecânico, um órgão artificial.
Aos poucos, em nossa busca pela imortalidade, em nossos avanços da medicina que prolongam a vida útil desse dispositivo componente do mundo, aos poucos vamos nos tornar cada vez mais compostos por fragmentos artificiais de nós mesmos. Até que em algum momento do futuro, todo ser com autoconsciência tenha dúvidas se ele próprio é constituído de origem natural ou artificial.
Os robôs seremos nós. Com seus "cérebros positrônicos", estudarão a história de si mesmos, de como foram criados e de como se desenvolveram e de como desenvolveram senciência. E de como evoluíram de uma espécie anterior, que além de lhes dar a vida, lhes deu o mundo como herança. Olharão para nós assim como nós olhamos para os Neandertais ou para os Australopitecos.