sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vícios e Saudosismo

Escrever sobre escrever é constante entre todos aqueles que escrevem. Pois que metalinguagem é só o que se tem quando não se tem mais nada. Tentamos ser extraordinários a todo momento, continuamos com nossa mediocridade. Um sujeito diria que o poeta é um fingidor, não concordo. Eu digo que o poeta é um verdadeirista, que tudo aquilo que escreve se torna realidade.

Havia uma obra de arte extraordinária na parede daquele museu, daquela sala de exposições, daquela sala de jantar, da rua mesmo. Oras, e não seria mesmo um rabisco de giz no asfalto, delimitador de quadrados de uma singela brincadeira infantil, também obra de arte? Seja como seja, como for ou como se perceba, havia em algum lugar qualquer uma obra de arte. Extraordinária ela, nunca tocada, friccionada, devastada ou deturpada. As obras de arte que permaneçam em seu lugar de direito.

Houve sempre, em outros momentos, outras obras de arte. Outros escreveres também. E é disso que falamos a todo o tempo, e sobre isso escrevemos. Assim, há sempre esse vício, e que nunca se envolvam os atores com seus objetos de desejo. Somos viciados em nos viciar, não podemos abandonar o vício anterior até que o próximo tome o lugar daquele. Alguns vícios duram eternidades e permanecem sempre. Sou viciado em me viciar em obras de arte.

Sou também viciado em sentir saudades. Sobre tudo aquilo que se perde e se ganha a todo momento. Sobre não conseguir mais escrever, e precisar inventar um objeto de desejo para tal ensejo. Saudades é o meu nome do meio. Saudades de escrever e de algumas obras de arte. Assim, de alguma forma, essas coisas estão intimamente interligadas. Não somos criaturas mais extraordinárias apenas por sentirmos saudades demais, e termos vícios demais. O passado prende.

No fim, parece confusão essa profusão de assuntos. Não escrever, obras de arte, vícios e as saudades. Oras, no fim, todos os assuntos são um só.