As árvores estão perdendo as suas folhas. Olhem para esse frio! Isso não é normal, está tudo muito errado. Estão todos completamente malucos! Já estive em muitos lugares, já andei viajando por aí, em veículos provisórios, em veículos malfadados, mas que nunca atingem seus fados. Toda vez que entro em um ônibus, torço intimamente, rezo, clamo, sei lá, para que dessa vez ele de fato se arrebente contra a mureta de proteção da auto-estrada e a arrebente, arrebentando-se depois contra qualquer barranco, abismo ou profundezas infinitas que existam em seu, e em meu, caminho também.
Obviamente, isso nunca acontece. Mas em todos esses lugares para onde fui, sempre tento traçar um paralelo com os outros lugares para onde fui. Existe uma escala, até certo ponto incongruente, mas que ainda está em desenvolvimento, que mede o quanto o lugar é maluco. E eu digo “aqui sim está um lugar maluco”, ou “não, esse lugar não é deveras maluco”. Claro que existem diversos fatores que influem nessa escala, e eu não faço a menor ideia de quais são.
Eu não faço a menor ideia de nada. Tudo o que estamos fazendo aqui é falhar miseravelmente em tudo o que estamos fazendo. Leio as mesmas coisas, ouço as mesmas coisas, vejo as mesmas coisas a todo o tempo, olho para os mesmos rostos cansados, e eles parecem joviais. Eles fingem ser joviais. Quantas pessoas respondem a um “tudo bem” com “não, ta tudo uma merda”? E elas não fazem isso por não estar tudo uma merda, mas sim porque preferem fingir ser joviais. E andam por aí sendo insensatas. A insensatez é a maior das doenças.
Fato é que a vida é uma coisa maravilhosa. É uma arbitrariedade tremenda também. Aquela velha e batida história da proteína que estava extremamente entediada nadando na sopa primordial, e em vista de seu tédio resolveu sintetizar RNA. Oras, malditos sejam teus retículos endoplasmáticos, as tuas mitocôndrias, e essa porcaria toda! Mas é tudo maravilhoso. Maravilhosamente maldito. Poder sentar um dia pela manhã e ficar observando as árvores perdendo as suas folhas, ou a neblina que se forma simplesmente porque faz um frio fora de época. Ou observar uma pessoa e um lugar ficarem completamente malucos.
Meu tempo passou. Eu estava à janela, observando os transeuntes carregando as suas vidas tediosas nas sacolas de compras. Vão aos shopping centers e voltam de lá carregando suas vidas nas sacolas de compras. Vão aos mercados, e compram suas próprias vidas embutidas, embaladas a vácuo, num sistema tetra pak para que durem muito mais. Afinal, oxigênio é o que estraga a existência, não é mesmo? Então fico observando à janela, enquanto a vida passa em minha frente, acena e vai embora. Oras, a vida tem mais o que fazer do que ficar esperando, certa está ela! Vai! Vai e não volta nunca mais! Sua maravilhosa maldição!
Estou perdendo as minhas folhas, elas estão todas ficando pelo caminho. Em alguma esquina, entrei pela viela errada, pelo caminho tortuoso, pela trilha gasta. Nesse caminho, não me acompanharam minhas folhas. Mas tudo bem, afinal, está tudo ficando maluco mesmo.
Obviamente, isso nunca acontece. Mas em todos esses lugares para onde fui, sempre tento traçar um paralelo com os outros lugares para onde fui. Existe uma escala, até certo ponto incongruente, mas que ainda está em desenvolvimento, que mede o quanto o lugar é maluco. E eu digo “aqui sim está um lugar maluco”, ou “não, esse lugar não é deveras maluco”. Claro que existem diversos fatores que influem nessa escala, e eu não faço a menor ideia de quais são.
Eu não faço a menor ideia de nada. Tudo o que estamos fazendo aqui é falhar miseravelmente em tudo o que estamos fazendo. Leio as mesmas coisas, ouço as mesmas coisas, vejo as mesmas coisas a todo o tempo, olho para os mesmos rostos cansados, e eles parecem joviais. Eles fingem ser joviais. Quantas pessoas respondem a um “tudo bem” com “não, ta tudo uma merda”? E elas não fazem isso por não estar tudo uma merda, mas sim porque preferem fingir ser joviais. E andam por aí sendo insensatas. A insensatez é a maior das doenças.
Fato é que a vida é uma coisa maravilhosa. É uma arbitrariedade tremenda também. Aquela velha e batida história da proteína que estava extremamente entediada nadando na sopa primordial, e em vista de seu tédio resolveu sintetizar RNA. Oras, malditos sejam teus retículos endoplasmáticos, as tuas mitocôndrias, e essa porcaria toda! Mas é tudo maravilhoso. Maravilhosamente maldito. Poder sentar um dia pela manhã e ficar observando as árvores perdendo as suas folhas, ou a neblina que se forma simplesmente porque faz um frio fora de época. Ou observar uma pessoa e um lugar ficarem completamente malucos.
Meu tempo passou. Eu estava à janela, observando os transeuntes carregando as suas vidas tediosas nas sacolas de compras. Vão aos shopping centers e voltam de lá carregando suas vidas nas sacolas de compras. Vão aos mercados, e compram suas próprias vidas embutidas, embaladas a vácuo, num sistema tetra pak para que durem muito mais. Afinal, oxigênio é o que estraga a existência, não é mesmo? Então fico observando à janela, enquanto a vida passa em minha frente, acena e vai embora. Oras, a vida tem mais o que fazer do que ficar esperando, certa está ela! Vai! Vai e não volta nunca mais! Sua maravilhosa maldição!
Estou perdendo as minhas folhas, elas estão todas ficando pelo caminho. Em alguma esquina, entrei pela viela errada, pelo caminho tortuoso, pela trilha gasta. Nesse caminho, não me acompanharam minhas folhas. Mas tudo bem, afinal, está tudo ficando maluco mesmo.