Ou Tirando Rebarbas, também seria um título condizente. Sou péssimo com títulos, nunca sei o que colocar nas letras que pairam acima do resto dos textos. Mas sei que neles odeio artigos, procuro evitá-los sempre. Me utilizo de substantivos, adjetivos, verbos, palavras unas enfim. Artigos são limitantes, denunciantes, rotulantes, o, a, os, as, e todos os mais.
É sempre muito difícil dizer precisamente o que se sente, com todas as palavras corretas. Você tenta uma aliteração, e ela sai parecendo uma metonímia. E todos os teus eufemismos parecem hipérboles. É difícil definir o que são as coisas, o que são os sentimentos, quando eles nada mais são do que aquilo que simplesmente não pode ser definido.
E se tudo o que deixamos de dizer por não poder fazê-lo, ou por ser difícil demais (no fim das contas, eu odeio a palavra 'difícil', ela é nada sonora e ainda difícil de escrever, e sendo difícil de escrever ela é uma das poucas palavras que é o seu próprio significado). Mas se, enfim, todas as coisas que nunca dizemos, acabassem se acumulando em pitorescas caixinhas imaginárias, como relicários intocados, e não intocados por estarem muito bem escondidos, mas apenas por não existirem. Se lá se acumulassem para que um dia fossem ditas, assim, de supetão?
Se pudéssemos escolher o momento apropriado para tocar a alma das pessoas? Ou para destruí-las, oras, pois que é sempre uma opção... E esse momento não precisa ser apropriado, ele apenas deve acontecer. Em tempos hipermodernos, em que falamos do tamanho das almas, e de seus conteúdos ou falta dele, e logo depois falamos de cartões que por aí já estão voando; temos métodos para isso. E nossos métodos são a protelação, o deixar para depois. Mesmo o falar sendo tão importante.
Dessa forma, acredito que deve haver um momento na vida de cada sujeito, no qual ele deve parar e aparar algumas arestas. Acredito também que há sempre um momento na vida de cada sujeito, no qual ele sabe que a morte de fato chegou e não tem mais volta. Ele pode saber isso com uma grande antecedência, ou apenas milésimos de segundo antes. Se a antecedência assim permitir, essa então deve ser a hora de tirar algumas rebarbas.