segunda-feira, 29 de junho de 2015

Os Filhos da Noite

Nyx nefasta, deusa primordial, filha do Caos, mãe de uma dezena de seres controversos. Nós próprios somos os filhos da Noite. Somos o Destino e os Sonhos; o Sono e o Sarcasmo; as Moiras e a Velhice; a Ternura e a Morte; a Discórdia e a Vingança também. E mais, muitos mais.

A linhagem da noite, ascendente do Caos, descendente direta do início de tudo o que há. Como personificar os irmãos em alma e corpo visíveis aos olhos mortais? Seres impensáveis, da Noite vem Thanatos, na teia de Morus da fatal Ceres, trazida por Hypnos, com Geras também, vítima de Éris ou Nêmesis.

Todos somos filhos de Nyx. Dançamos a dança das Horas, envolvidos no Caos profundo, pai de todas as lúgubres coisas das vias funestas. À Noite, envolvidos pelo manto obscuro, andamos acompanhados, queiramos ou não, por essas criaturas agoures. A Morte e o Sono são irmãos gêmeos, andam lado a lado. A diferença entre os dois é imperceptível. A Ternura e o Sarcasmo irmão são também. Tênue linha os separa.

A prole de Nyx, linhagem nefasta, decididamente personificada se encontra em nós. Gerada no Caos. Tudo o que há de doloroso é assim belo também. Nem tudo é só dor, nem tudo é tão grave, vem tudo da Noite. Cada um desses seres tem filhos também, os quais somos nós, descendentes de Nyx, e também do Caos.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Intensidade


Devemos intensidade a nós mesmos
Vamos amanhecer loucamente
Vamos enlouquecer todas as manhãs
Quero que meu coração bata tanto e tão rápido
A ponto de parar
Só acredito em corações malucos
Só acredito em intensidade
Não recebemos essa vida
Para desperdiçá-la
Devemos queimar
Arder em fagulhas que explodem
Nos céus iluminados por nós
Precisamos viver cada curva
Dar tchau para cada dia
Celebrar cada erro
E comemorar ainda mais cada vitória
Quero que meus olhos ardam
Sob a fumaça de seus cigarros
Sobre o calor de seu corpo quente
Quero a loucura
O poder mágico de andar desequilibrado
As festas que nunca acabam
E que quando acabarem faremos as nossas
Devemos retribuir a vida ao mundo
Não acredito em redenção
Mas acredito na glória de fazer aquilo que se quer
De verter lágrimas intensas e sinceras
De voltar aos lugares que um dia conhecemos
Subir nas mesas e dançar
Afastar o solo
Que sucumbirá em respeito a nós
Devemos isso a nós mesmos
À vida que nos agraciou com todas as suas possibilidades
Ao tempo que
Se nos priva das oportunidades passadas
Não nos deixa esquecer
Vamos enlouquecer
Vamos viver
Só acredito em intensidade
Só penso intensamente

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Busca


A escória está nas ruas, ocupando todos os espaços vazios. Basta ver. A podridão está por toda parte. Todos nós vomitamos nas ruas, compactuando com a ralé. Nós todos somos a escória.

A miséria está nas ruas, a miséria está nos hospitais. Basta olhar. A miséria humana, a ralé humana, não está escondida nos buracos, nos becos sombrios. Ela está nas filas dos hospitais, nas ruas onde vomitamos pus.

Basta prestar atenção. O desastre, a desordem da sua vez. Todos são a miséria, a podridão, a ralé, a escória, a fila dos hospitais. Todos estão no desastre. Ninguém escapa.

Somos a angústia. Aquele objetivo inalcançável e a procura por algo que nunca poderá ser encontrado. Buscamos pelos espaços vazios das ruas, das filas dos hospitais.

Buscamos em todos os lugares. Objetivos são distração. Basta tentar entender. Cada um deles, cada pequena vitória pessoal, é um minúsculo degrau em uma escadaria infinita, a qual nunca poderemos galgar.

Nunca atingiremos essa busca. Somos a angústia. Somos aquilo que nunca será encontrado. No desastre, na desordem. Podemos passar a eternidade tentando, e basta prestar atenção, continuaremos sendo a angústia.

Miséria. Podridão. Ralé. Escória. Continuaremos sendo a distração. A angústia de nunca encontrar, de nunca ser o suficiente. Ninguém escapa. Basta olhar. Basta ver.