segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sobre Fazer Novamente Tudo Aquilo que já Fizemos Uma Vez

A Teoria do Universo Inflacionário seria uma ótima pedida se estivéssemos levemente preocupados com a física quântica no momento em que os nossos universos descem às suas próprias ruínas. E enquanto cavalgamos em direção à essa auto-proclamada ruína, percebemos que estamos fazendo novamente tudo aquilo que já fizemos um dia.

O tempo teria um fim, mas não que ele acabasse, seria talvez o limite dele, o momento em que ele grita para os seus próprios labirintos: "Chega! Já deu, já basta!". E então ele voltaria atrás, por todo o trajeto recém concluído, da mesma forma como veio, rastejando, lurking por todos os caminhos, despretensiosos ou não, já feitos algum dia. Até aquilo que outrora havia sido o seu começo, para então iniciar novamente o mesmo ciclo.

Sem diferença nenhuma seriam trilhadas essas estradas. Os mesmos paralelepípedos, o mesmo calçamento de petit-pavé empoeirado, as mesmas faixadas de prédios antigos que brilham sem ter luz, os mesmos bêbados mal-agasalhados. E então seriam repetidos os mesmo erros, do mesmo formato e tamanho, na  mesma proporção. Pois que quem erra uma vez, erra sempre.

Trilhamos a rua e a noite, cavalgamos em direção à ruína num mundo sem aurora. E atingimos ela antes daquele coalho de berinjela. Fumaça, névoa, gases e neblina compunham o ambiente. Hora de retomar antigas antíteses, falar do que nos convém. A rua continua aqui, tanto tempo depois, da mesma forma. Oras, pois se essas personagens continuam elas também as mesmas. O tempo não muda nada no fim das contas.

Aqueles rostos conhecidos fustigavam a fumaça com suas almas, exalando temores contidos. Aqueles rostos que já planejaram ser personagens de fato, e, oras, pois serão, sim, serão personagens de suas próprias histórias, e daquelas que devemos, que temos a obrigação de contar. Não porque alguém disse que temos, mas algumas missões nunca precisaram ser passadas. Se bem que estamos mesmo acostumados a aceitar apenas aquilo que acreditamos que merecemos, seja assim tanto quanto se fala de amor.

Pois então que escrevamos pela metade. Oras, não se erra por inteiro mesmo. E nenhuma ruína é completa. A fumaça então como personagem, lurking entre as pessoas: lá estava ela açoitando a noite com sua alma, no meio da fumaça que pairava no ar rejeitando as ordens de "deixem o recinto", e vejam bem, logo vem a aurora. Mas esse deve ser o começo da próxima história.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A Frentista

Ela caminhava matreiramente entre os veículos propagadores do progresso. Agitava sua ferramenta de trabalho sem deixar vestígios de óleo comburente. Carregava na cabeça aquele boné surrado que já deve ter visto mais primaveras do que deveria. Talvez tenha visto até mesmo a neve. Era uma raposa sorridente, saltitante, adstringente.

Em todos aqueles tempos em que alguém saía na frente, alguém precisava ficar para trás. Faz parte da própria natureza, compete-se pela vida a todo momento, é uma corrida em prol da evolução, uma competição em prol de tudo o que possa ser melhor do que aquilo que ainda nem sequer temos.

Os motores ligados, competidores a postos. Ela chegava, plugava o equipamento, ligava a máquina, e corriam os dígitos no mostrador. Aqueles números em ordem cíclica e crescente, em quatro casas, possuíam sua própria corrida particular, buscando também aquela mesma glória a qual estavam todos perseguindo constantemente. Quanto mais alto for o dígito mostrador da primeira casa à esquerda, melhor. Melhor pra todo mundo. Melhor pra quem?

Eram tantas as competições que, por vezes, esquecia-se de qual estávamos participando com mais ênfase e vigor. Importante é sempre vencer, ao contrário do que pregou um dia a sabedoria popular. À nossa frente, a frentista, olha em volta, felina. Grita palavras de ordem, valores de ordem, a ordem dos valores. Qual o primeiro dígito da esquerda que nunca quis ser gritado?

A corrida continua, para todos os lados. Para todas as competições. Pois que há sempre um objetivo a se alcançar. Uma vitória, particular ou coletiva, a se orgulhar. Uma nova frentista em cada posto, a postos, para cumprir, com um boné surrado ou sem, com o que quer que seja a sua glória particular.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Voltar para Casa

Quem poderá dizer o que é isso que chamamos de casa. Isso não foi realmente uma pergunta, conforme dito outrora, não usariam-se mais pontos finais. Mas oras, sabemos mesmo que nada tem final, continua-se então com essa relativização absurda de achar que cada frase é um universo por si só. E deve mesmo ser.

Sempre há um retorno, o mundo é redondo, e supõe-se que o universo também seja. Como nada tem final, tudo é redondo, com começo, meio e recomeço. Mesmo as vidas recomeçam quando terminam, e voltam a ser o que foram um dia: morte. Nada se cria, tudo se transforma, voltemos ao pó original, voltemos à velha guarda, voltemos ao que fomos outrora, voltemos às nossas casas; ao útero original.

O retorno é sempre mascarado. Voltar é sempre errado. Não se deve ter de novo o que um dia se abandonou, mesmo que disso estejamos falando do próprio útero, ou do útero original. Sair de casa e planejar a volta é a forma mais errada de sair. Não importa como vamos voltar, só importa mesmo que vamos.

Tem gente que não aproveita a vida, e acaba não dançando. Tem gente que não faz moshpit, mas pior ainda são os que não fazem moshpit mesmo sem gostar da música. Tem gente que nunca dorme no chão, por necessidade física ou psicológica. Tem gente que não janta com prefeitos, nem bebe com vereadores. Tem gente que não aceita o que a vida tem para oferecer. E oras, certo é que ela não oferece grandes coisas, mas é melhor ter quase nada do que nada. Zero absoluto é sempre mais frio.

Tem gente que não aproveita a morte também, esse inconstante ponto e vírgula da vida. Essas pessoas são as piores, porque elas acham que nunca vão morrer, e aceitar a morte é o primeiro passo para se viver a vida, com  quantos pontos finais e úteros originais lhes caibam. Com quantos retornos indesejados se fizerem necessários.

Rever o que já se teve, revisitar o que já se foi, quase 14 anos atrás. E há vezes em que nós nas gargantas nunca serão suficientes. Tem gente que não aceita esse tipo de axioma. Mas oras, quantos quilômetros seriam necessários para se voltar para casa, quando não se tem casa nenhuma? Ou quando tudo o que se tem é casa. Tive casas que foram banheiros, barracas, calçadas, vestiários, e cozinhas sujas. Ou é melhor que e nesses casos. Tive Cascavel, Inajá, e Toledo também. Voltei para todas as minhas casas.

Enfim, voltemos. Ao que seja e ao que for, e ao que fosse, pois o que quer que fosse, foi-se, e acabou, acabou para recomeçar. À velha rotina, aos velhos dilemas, às velhas e rotas poesias apodrecendo em pedaços rasgados de guardanapo de boteco. Todas as vezes que eu tiver o mundo aos meus pés, desejarei o universo. E todas as vezes que eu tiver o universo, bom.. aí talvez seja a hora de voltar pra casa.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ela é uma Praia Quieta no Inverno

Todo continente é também uma ilha, pois que praia nenhuma tem ponto final. Mesmo que hajam rochedos, montanhas, fozes e arrecifes, pois que tudo o que é litoral, costa e beira-mar, é também praia, sendo essa apenas uma, ou muitas, denominação relativa.

Ela é uma praia quieta no inverno, não daquelas que passam uma temporada gerando recursos para nativos que passarão o resto do ano apertados com os ganhos dessa pequena faixa de tempo determinada do ano. Mas sim daquelas dos lugares frios por si só, mais frios do que as pessoas. Aquelas praias de lugares onde as areias têm o costume de não ver a luz do sol. Na paisagem dos olhos dessa praia vejo a busca por paisagens a não se ver. Lúgubre e melancholica.

Em viajar não há ponto final. Também não o há em escrever, pois que afinal de contas, ao final das contas, conta-se que coisa nenhuma tem final. Oras, então porque utilizar-se de métodos de pontuação que não deveriam existir; Se bem que utiliza-se do inexistente a todo o tempo, vejamos bem que por si só o próprio tempo é inexistente;

No entanto, taciturna e angustiosa, a praia, sem ponto final, continua viajante; O primeiro passo é igual ao último; Sem pontos finais, nunca mais; Começos e fins cíclicos, viagens sem volta; Por que utilizar-se de viagens sem volta? Oras, não seria a interrogação uma espécie de ponto final? Digo não, isso pois que ela deixa aberta a porta para uma possível resposta; Respostas são contínuas..

Assim, soturna e aflitivamente, olho os olhos da  praia, esperando resposta; Uma resposta sem ponto final; Dessa praia fria e chuvosa, desse clima amistoso; Pois que praia nenhuma tem ponto final, e assim também o são os escritos;