terça-feira, 5 de novembro de 2013

Ciclicando

Estou aqui todos os dias, de peito aberto esperando a minha bala perdida que nunca vem. O câncer maligno que nunca me acomete. A doença rara que tantas pessoas lamentam ter. Todos os dias, esperando uma resposta desse mundo, que nunca perdeu um segundo ao meu lado, e apenas continua a girar...

Todas as pessoas que ficam em dúvida entre tomar uma ou outra decisão, acabam não tomando nenhuma. É essa lei imutável na vida. Houvesse o peixe que respirava por pulmões decidido não avançar à terra, e nada do que vemos estaria aqui. Não haveria sequer olhos para enxergar o que não estaria aqui. Dentro de si mesmo, cada um escolhe até mesmo quantos glóbulos vermelhos despender em cada esforço de troca de oxigênio.

A prorrogação do óbvio é desconfortante. Todo esse nada que continua acontecendo incessantemente, e sendo muito, sendo tão parco flerte. Algumas coisas voltam sempre, temos mais uma virada pela frente. Oras, como foram as últimas? A memória me diz algo sobre elas. Mas o que é a memória, senão uma artimanha de nossas cabeças para que não levemos mais pedradas?

Algumas coisas se reconstituem, e dizem que isso é culpa do verão. Verão, mal sabem que esse termo técnico se encontra mal empregado em nossas vidas subtropicais. Pois que assim são também as nossas vidas em temporadas, acabando um pouco mais a cada minuto, e se renovando da mesma forma. Ciclicando.

Muitas coisas chegam ao fim, mas é exatamente para isso que as coisas servem, elas começam a morrer no momento em que nascem. E é para isso que as pessoas servem. Tudo que existe tem começo e meio, cabe a cada imensa parcela desse pequeno tudo descobrir onde está seu fim. E não pensemos que isso é o mal do mundo. Essa é a parte boa.

Não pensemos também que o que se faz, se faz por gosto. Algumas coisas são feitas, e mesmo existem, apenas porque assim precisam ser, queiramos ou não. E assim as coisas seguem, todas e cada uma, com suas benesses e malefícios. Com suas doenças raras, e vidas mais raras ainda.

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