quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Vermelho

Vermelho é a cor da discórdia. A maçã que Éris atirou às deusas era vermelha. "À mais bela das deusas". E quem poderia dizer qual delas é a mais bela? Por isso Heitor morreu. E quando os deuses resolvem se intrometer nas contendas dos homens, o que está para acontecer não pode ser menos do que épico.

Ainda vai levar um bom tempo para que se apaguem as manchas vermelhas daquele banheiro, não importa quanto tempo durem essas vidas. Pois que algumas vidas podem durar apenas um respirada. Ou um suspiro. É também a cor da paixão, e se se apaixonar é assim tão difícil, por que definir e escolher uma cor para esse sentimento? Alguns amores podem durar também apenas um suspiro.

E quão terrível pode ser quando os deuses resolvem se intrometer nos amores dos homens? Não acho que eles façam isso, apesar de por vezes eles próprios fazerem parte desses amores. As definições dos níveis de gostar e se apaixonar são como os tons de vermelho. Cinquenta tons de vermelho numa paleta cromática que, na verdade, tende ao infinito. Não que paixão seja infinita, apenas as cores a são.

Não gosto de artigos, por isso meus títulos são sempre um substantivo, ou adjetivo, ainda as transformando em nomes próprios. Acho que todas as palavras têm o direito de, ao menos uma vez na vida, serem um nome próprio. Não é um vermelho, é o vermelho. Todos os amores têm também esse direito. Não é um amor, é o amor.

As linhas são tênues e sinuosas, divisões metafísicas, apenas outra forma de catalogação. Os diferentes tons de vermelho são só subdivisões, e alguém poderia chamar qualquer um deles de laranja. Gostar é só gostar. Paixão e amor são apenas títulos de nobreza, disputados pelos pequeno-burgueses da vida conjugal. Gostar é grande por si só.

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