quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Feliz Felicidade

Ato 01 - São Paulo em aurora.
Primeira instância de uma sequência de viagens de proporções épicas. De histórias eternas. De momentos de vivência intensa. De momentos de atingir esse sentimento etéreo tão almejado. Sentimento esse que deve não existir enquanto definição exata, apenas existe quando existem momentos como esses, e apenas enquanto ele dure. Sentimento que desejamos e indicamos, e também buscamos, por vezes quase conseguindo tocá-lo.
Assim, chegamos a essa cidade que fica quase bonita quando os raios dispersos levantam entre infinitas toneladas de concretos armados. A uma breve tentativa de fugir do concreto, em busca do abstrato, o sol se levanta numa aura cinza de poeira. Porém, a luz disforme faz dessa cena uma cidade quase bonita, quase atraente, quase calorosa, quase feliz.
Momentos de introspecção, de intro e de especção também. E de realização. Um ano difícil, mas que uma ceia de natal com uma família tão forte tende a facilitar. Primeiro chute nos glúteos de 2013, de agora em diante referenciado como 2 mil e treta, um ano que sequer merece retrospectiva.

Ato 02 - Vinte e quatro horas entre o céu e a terra.
No céu, entre nuvens, entre águas. Na terra, 24 horas depois, entre mares e marés, terras e terra e águas. Semi-Ilha. Superagui não é insular, carrega antes o prefixo "pen". Mas visto do céu, do voo, é apenas um amontoado de terras verdes, não importando assim as conexões marítimas ou terrestres com o continente. Da janela do avião, semi-oval semi-redonda, identificar as formas do litoral, semi-baía semi-estuário. Oras, pois que localização geográfica independe do ponto de vista, é tudo concreto, não importa o quão contrastante isso seja com a beleza do natural.
Partindo da maior cidade de concretos armados de uma América Latina inteira, são 10 horas da manhã e ali estão os rios, baías, estuários, sejam ilhas ou penínsulas de recanto quase intocado, através da escotilha da janelinha do avião. Uma breve pausa em casa, em uma daquelas que podemos chamar casa, para 24 horas depois estarem os rios, baías, estuários, sejam ilhas ou penínsulas de recanto quase intocado, em contato direto com os meus pés.

Ato 03 - Superagui em crepúsculo.
Mesmo somados todos os idiomas, não existiriam palavras suficientes para descrever o quão épico é e foi o pôr do sol de tal semi-ilha. Paletas crepusculares supra-reais, de tantas cores e de todos os tons, de modo que a imaginação não consegue não se perder, ademais ela se encontra. Tudo isso em areias que correm ao vento da mesma forma que corre o próprio tempo. Contemplação, intro e espectiva, nada mais.
Foto: Maruza Silverio
Tantos momentos, que torna-se impossível reencontrar na memória todos os detalhes, sem distorcê-los, sem alterar o passado, quanto mais transferir para quaisquer escreveres. Houve uma união natural formada por laços temporários de necessidade relativa, construída sob moldes de uma família, sobre membros de acampamentos que também podemos chamar casa. Amizades sinceras, divididas na mesa, na panela de lentilha, no copo de summer drinks, e na caminhada pela praia. Houve a presença das dançarinas da alma, as garotas mulheres que bailam ao som do palpitar dos corações ao seu redor, aqui multiplicadas por dois, iluminando a própria luz, com seus quatro sorrisos de uma espontaneidade extremamente sincera. Ainda houve um cão Sábio, que não pode ser nada além de uma alma onisciente presa em um corpo que não o pertence.
Houve uma ceia, uma ida à areia, queima de fogos, estouro e preparação de bebidas. A saga de anoitecer e morrer todo dia, todo ano. Se cada dia perdido é uma chance desperdiçada, uma nova morte, entremeada de infinitas vidas, é também um novo começo, entremeado de outras tantas infinitas vidas, de outras tantas e das mesmas possibilidades.
E então vem a chuva, 15 minutos depois da meia-noite, como se apenas estivesse esperando o espetáculo terminar para trazer seu próprio show. Como se quisesse com muita água apenas levar 2 mil e treta e trazer 2014, de agora em diante referenciado como 2 mil e catarse. Houve corridas e danças na chuva, que serviram deveras como lavadoras da alma, e aí já era 2 mil e catarse.

Epílogo - Araucária em madrugada.
E a felicidade de sempre. Ou de quase nunca. Dos momentos lembrados enquanto a Lua alvitra estradas no céu. De volta ao que se tem, ao que se espera, ao que me espera. Anoitece no dia, é manhã do ano, e a vida não pode ficar pra depois. Um êxtase de quase-felicidade, sentimento tão desejado e indicado. Depois de alma lavada, de viagem conclusa.
Que as coisas boas que existem nesse mundo existam sempre. Pelo menos enquanto as tivermos. Fica para trás 2 mil e treta. Começa então 2 mil e catarse.

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