quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A Invenção da Emoção

Cantar que é longa a estrada da vida deixou de ser belo e encantador para se tornar risível. Foi em outros tempos poético, hoje é considerado cafona. Não que a estrada da vida tenha se encurtado. Pelo contrário, ela está sempre crescendo, sendo pavimentados novos caminhos nessa rodovia do sempre. A expectativa de vida aumenta até para aqueles que veem mais beleza na imensidão desses vastos campos à esquerda e à direita, do que na longa e estafante viagem pela frente.

Somos o mal do século da geração perdida desta geração.

Creio que em algum ponto da rota, me desviei do meu caminho. Peguei o atalho errado para lugar nenhum. Revejo agora filmes que nunca deveria ter assistido. Reouço músicas que sequer deveriam ter sido compostas. Viajo por estradas nas quais os outdoors de propaganda se repetem infinitamente, passando a mesma mensagem para os mesmos passantes.

Somos a metástase lancinante deste imenso Jack que atende também por Gaia.

Sabemos que a humanidade inventou a emoção logo após o advento da revolução industrial. E, mesmo assim, ainda demorou muito para a aplicar. Provavelmente ela só se tornou palpável no século XX. Antes, era condenável sentir, era passível de punição. Negávamos nossa natureza de ser sensível, que se arrepia ao toque. Ainda vivemos sob o jugo da produção, mas somos um pouco mais livres para amar de tudo.

Somos a flamejante rocha espacial extinguindo estes dinossauros bípedes e pensantes do antropoceno.

Nosso caminho não está pré-determinado. Toda bifurcação é escolha nossa e de mais ninguém. Fazer a volta, ou colocar a marcha à ré, e retomar alguma estrada vicinal para acertar o caminho não faz mal a ninguém. Não é derrota. Mas precisamos compreender que o fim da estrada permanece o mesmo. Ainda que possamos encurtá-la...

Somos muito mais do que não somos.

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