terça-feira, 20 de março de 2018

Histórias a Contar

Escrever sobre escrever é o que determina sem volta quem escreve. É uma questão simples: você passa a ser alguém que escreve quando escreve sobre aquilo que escreve. A linguagem não passou a existir quando alguém pela primeira vez a utilizou, mas sim quando alguém pela primeira vez a utilizou para explicar a linguagem.

É sabido que a forma é a expressão do conteúdo, e que ambos são inseparáveis. Mas não são a mesma coisa. Uma nos ajuda a compreender a outra. É assim que vemos o mundo e o interpretamos.

Faz tempo que não escrevo em abundância, ultimamente só em pequenos goles. Já determinei tantas vezes que esse era um vício indissociável da minha própria natureza. Uma fraqueza genética que me causava certa predisposição para cair nessa tentação e não conseguir mais sair dela. Frequentemente me dopava de letras e me deixava cair inerte e derrotado pelas páginas. Hoje, sinto falta.

Creio que conforme envelhecemos, acumulamos também coisas a perder. Acumulamos pessoas a ver, coisas a fazer e lugares a voltar. Acumulamos também objetos, mas desses ninguém precisa. O importante é não deixar essas coleções em álbuns empoeirados, ou em tristes redomas sem ventilação. Temos mais a perder, mais coisas estimadas.

Juntamos ainda cada vez mais coisas a escrever, histórias a contar. Linguagens a expressar em forma e conteúdo. Expressões do inseparável. Criamos usos para a linguagem e os aplicamos em novas formas e novos conteúdos. É preciso escrever e escrever sobre escrever. É necessário voltar.

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