sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Pequena-Porção

As pessoas que estão em nossas vidas, nela estão por pura conveniência. Assim, da mesma forma, é como estamos nas delas. É simples, e não precisa ser motivo para lamentações: as pessoas que caminham ao seu lado, o fazem porque você tem algo a lhes oferecer. Toda relação é simbiótica. Não que toda relação interpessoal da espécie humana seja por interesse, mas analisado a fundo, é.

Naturalmente, esse algo não precisa ser financeiro ou material. Na maioria das vezes não é. Não devemos confundir interações biológicas com interesses escusos. Todo mundo tem algo a oferecer, e todos têm também coisas a absorver com os outros. Essas relações tendem a ser de mutualismo ou cooperação (ou é o que deveriam): todos saem ganhando.

Assim, algumas das melhores pessoas que conheci não fazem mais parte da minha vida. Não que tenhamos nos separado de maneira traumática, apenas não fazia mais sentido. Nossa relação simplesmente mudou, evoluiu, se transformou. Em algum momento a conveniência nos aproximou, em outro momento ela nos separou. É simples.

Há na língua inglesa um verbo frasal, (phrasal verb - construção idiomática não existente em nosso idioma, e na maioria das vezes intraduzível) que gosto muito: to drift apart. Significa algo como se afastar, se distanciar, perder intimidade. É um clássico deixar de ser.

É o que acontece muitas vezes: as pessoas se distanciam, sem necessidade de explicação, sem trauma. Deixa de ser conveniente. O melhor a se fazer nesses casos é guardar muito bem os bons momentos, o que foi vivido juntos, todos os benefícios provenientes daquela relação.

Assim, também, algumas pessoas surgem para instantaneamente sumirem novamente. São coadjuvantes. Aqueles que em outra obra foram chamados de pequena-porção, como nos itens em miniatura feitos para consumo rápido e imediato. Em contraponto às amizades duradouras, que mesmo que se acabem serão eternas, são as amizades pequena-porção, que explodem e desaparecem como fogos de artifício (às vezes um mero estalinho).

Em um desses voos da vida, tive um amigo assim. Não me incentivou a abrir clubes clandestinos de luta corporal por aí, mas era alguém particularmente peculiar. Leva açaí para a Bélgica, anda pela vida com os índios da etnia Ashaninka e com o Sebastião Salgado. Carrega um frasco de ayahuasca dos ashaninkas e coordena projetos ecossociais.

Com o avião no solo, levantou para pegar sua bagagem, me mostrou o pequeno frasco e disse que só não me daria o conteúdo ali mesmo porque eu não conseguiria chegar em casa. Tudo bem, nossa amizade pequena-porção por curta conveniência, acabou ali mesmo. E durou exatamente o tempo que tinha que durar.

Efetivamente, não importa por quanto tempo a luz fica acesa. Importa a intensidade com que ela brilha.

Um comentário:

  1. Ainda tenho dificuldade em entender quando as pessoas se afastam... mas é isso ai! Ótimo texto Jhonnynho ;)

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