sábado, 16 de setembro de 2017

No Exílio

Um dos ápices da metalinguagem é estudar a origem da palavra origem. A etimologia da palavra etimologia. Todavia, esse ato deve soar um pouco paradoxo, em vista da linguagem ter precisado surgir para os termos origem e etimologia surgirem também. Assim, a origem pictórica é ato contínuo da origem em si, tendo que ter surgido para existir.

Oras, assim são todas as coisas. Fujamos deste contrassenso, que nada mais é do que um dispositivo literário introdutório. Não poderia a origem desse texto se dar diretamente em seu mote, quebraríamos algumas regras, teríamos início meio e fim em um só bloco. A origem por si só não existiria.

Estudemos então a etimologia das criaturas. Mas longe de paradoxos linguísticos, caímos no inconveniente da utilização de um termo fora de seu ambiente natural. Apenas não escolhemos origem pela multiplicidade de significados dessa palavra genérica. Por isso, é preferível usar o termo etimologia, que por si só implica origem em um sentido menos amplo.

Chega dessa incômoda protelação literária. Ao que interessa, há uma enorme variedade de resultados possíveis ao se estudar a etimologia de uma criatura. E uma boa parte das demarcações identitárias dessa criatura está na sua origem, de onde ela vem.

Quando no estrangeiro, dois patrícios muito frequentemente se reconhecem apenas pelo caminhar, pelos trejeitos. De longe se veem, e "lá vem um dos meus". É visível, é palpável, é reconhecível quem você é.

No exílio, os patrícios se protegem. Nossa etimologia é bem clara. Estamos no exílio, distantes, ausentes de nossa pátria. Em tempos de autoridade não-meritória a níveis macro e micro, vivemos em contestação. Somos comandados a ver de longe a nossa pátria definhar. Sem poder fazer muita coisa. Aqueles que dispõem do poder não fazem questão de se empoderar.

Um dia, a anistia. No exílio, tudo fica meio que em suspensão. Uma constante espera, na qual nada do que se faça é muito definitivo. Viver se torna um verbo transitório. Direto e indireto. No exílio, somos nós mesmos, mas sem aquele quê que é só nosso. Sem a pitada de eu que há em mim. É sempre mais difícil estudar a etimologia de palavra em idioma estrangeiro, no qual não somos fluentes.

Mas vivemos melhor no exílio. Vivemos distantes, mas protegidos. Sabemos que somos queridos. Os patrícios se protegem, e há sempre outros exilados também. Qual nação vive a pior guerra. Nossa etimologia é bem clara. É incontestável. Sabemos o que sabemos e o que somos. E um dia, a anistia. Um dia eu volto.

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