terça-feira, 4 de março de 2014

Pede Quem tem a Oferecer

Triste estava a Gralha cabisbaixa, azul e triste como sempre, em céus azuis de nuvens brancas. Um sujeito de olhar perdido aporta, encara cada passante e cada ficante, mas sem a coragem de verificar a profundeza dos olhos deles. É necessário um bom tanto de coragem para encarar olhares.

O homem balbucia, expressa um certo tipo de pânico levantando as sobrancelhas repetidamente, um pânico da vida, de tudo o que a vida teria a lhe oferecer, porém puxou as mãos na hora de entregar. É um comportamento típico, oferecer para depois negar, estender a mão apenas para puxar no momento em que esta será segura. E é assim que a vida faz com todos que ousam precisar da ajuda dela.

Quem estende as mãos é o homem, mãos em concha, de sedento no deserto implorando por água. Muitos passam, a Gralha continua seu voo, muitos recusam aquelas mãos. Todos recusam. Aporta então uma mulher, não uma dama distinta da sociedade, apenas distinta por exclusão, sem damices, dessas que as vidas e as mãos também recusam. Ambos levam muito em comum, criaturas da raça humana, dessas que precisam solicitar à vida, dessas que estendem as mãos em concha.

Ironicamente, em ato involuntário, o homem estende as mãos em concha para a mulher. Eles parecem não se entender a princípio, ele apenas balbucia sem sons, ela fala de maneira ininteligível, trocam espasmos sonoros por alguns segundos. Ela enfim puxa do bolso uma moeda de valor corrente, e a deposita em suas conchas. Ele sai contente pela primeira arrecadação do dia, e vinda logo de quem, de quem também tem pedires.

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