Domingos não são para descanso. Domingos são subestimados. As tardes de domingo são as mais surpreendentes. O Dia do Sol, dies Dominicus, Dia do Senhor. O primeiro dia da semana, nunca o último. Tardes de domingo de sol são um belo e aconchegante pleonasmo.
Foi dito que quando da formulação da Genealogia da Moral, Nietzsche fatalmente estava sob efeito de um bom meio copo de conhaque. É indubitável a necessidade de diferenciar meticuloso de sistemático. O mundo é uma solução heterogênea, quando nele dissolvemos nosso ego, deixamos tudo saturado, pedaços pra todo lado. A solubilidade do ego é contestável, depende muito mais do solvente do que do soluto. Em conhaque, ela aumenta.
Perdi a mão. Não sei mais escrever. Provavelmente nunca tenha sabido. Tudo que anda por aqui é fluxo de pensamento, de uma forma nada meticulosa ou sistemática. Continuo não sabendo onde estou, e está tudo passando ainda mais rápido. Roubaram o calendário que estava aqui, e assim perdi os meus dias. E os dias que já passaram são meras folhinhas arrancadas.
Estamos abalados pela imprescindível tristeza da vida. Não há como evitar e não há como escapar. É bom lembrar que a vida é um fardo excessivamente pesado, não é nunca leve como uma pluma. É pesado exatamente porque arrancamos as folhinhas, mas não reciclamos nossos dias, jogamos tudo fora.
Assim dissolvemos o ego. Nunca sabendo até que ponto isso é necessário. Mas sabemos que assim chegamos mais perto de nós mesmos, do que talvez realmente sejamos. Continuo querendo esperar mais dos domingos, mais do que apenas tardes de sol, mais do que apenas o dia do senhor. Mais do que dissolução do ego.
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