Era uma noite trágica que engolia a si mesma, de forma autófaga, com ventos quentes amplificando o barulho cálido da juventude frenética. Jovens passavam com seus copos insanos, embebidos nesse néctar que tem o poder de distorcer a consciência e a realidade, que nos faz mais fortes e mais fracos do que geralmente somos. O ar estava quente, a noite estava quente, os jovens estavam quentes, o mundo estava frio.
Nunca sabemos o que nos espera após a curva de cada esquina, após a virada de cada ponteiro do relógio, após as cercas de metal de cada bar. Vagando por sítios arqueológicos anciãos, procurando lindas pinturas rupestres servindo como um rudimentar design de interior para gélidas paredes de pedra. Observando o infinito além da escuridão alimentada pelo excesso de luzes no chão, procurando por lindas formações que permeiam os grandes vazios universais há muito mais tempo que a nossa existência.
Assim, a noite tendia ao fim, como fazem as coisas lineares. Estava fraca e decrépita, frustrante é verdade. Jovens animados continuavam com seus copos cheios e vazios ao mesmo tempo, chacoalhando suas almas para lá e para cá, ao ritmo do emaranhado de vozes que emanava da coletividade em ressonância melodiosa. Um copo meio cheio ou meio vazio é sempre ambos.
Mas fevereiro é mesmo o mês mais lindo. Um caminhar interrompido, uma guinada inesperada, um chamado de uma força desconhecida qualquer; trazido das profundezas das menores partículas, que comandam com seus movimentos os futuros de todas as coisas. Sim, como se tudo estivesse assim pré-agendado. E ares de boteco uma vez mais, uma névoa que sobe, como vapor vindo de tanto calor das almas daqueles jovens. E aqui estamos, como que magnetizados, olhos nos olhos.
Parado em volta está o resto do mundo inteiro, com seu subitamente desinteressante caminhar. Surge um recipiente do nectarício distortor da realidade. E então a realidade se distorce de forma ainda mais intensa em esmeraldas magnéticas, de pinturas rupestres em lindas formações, que escrutinam as gélidas paredes de pedra dos vazios universais. Os pios das corujas estão suspensos no ar; o arrastar das criaturas caminhantes para; o vapor que subia está estático; a confluência dos rios está interrompida; os jovens todos estão subitamente inertes; tudo está calmo. Tudo está fixo nessa noite que parou o tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário