Tudo pode ser invisível. Cegueira é apenas ausência de luz. Não quero enxergar! Não me deixem enxergar! A noite, no escuro, quando apenas a Lua brilha, um brilho reflexo, e as estrelas piscam vagamente na profundidade; o mundo nos implora por um pouco mais de tempo para resolver esses problemas que as coisas que orbitam e são orbitadas têm.
Então viajamos, rodamos a noite e à noite. Cortamos auto-estradas, e relembramos o tempo em que estivéramos perdidos. Tempos remotos, vagos como o brilho das estrelas, que nos atingem tantos milhões de anos depois de terem de fato brilhado. Podemos agora mesmo estar perdidos nos canaviais do tempo-espaço. E poeira se levanta, nos atinge internamente, se acomodando nas paredes de nossas fossas nasais, como se aquele fosse seu lugar de direito.
Cortamos auto-estradas de chão batido, de pedras e de pó, em busca de um objetivo, vago ele também. A poeira carrega o ar com um cheiro de bucolismo, de austeridade serena. É noite, é escuro, é poeira. Faróis seguem na direção oposta. E sabemos que nosso vago objetivo diminui ainda mais, cai dentro de si mesmo. Mas seguimos, com os faróis cortando a poeira, representantes de uma fonte luminosa, essa sim invisível.
Os faróis não param de vir. Cortam a poeira, difusam, divergem, refratam. Nos atingem através das nuvens de pó que pairam sobre a auto-estrada, nesse escuro entremeado de luzes. Iluminando a poeira, e nada mais. Como diria um autor, para epílogo de breve relato: O que tiver luz não me pertence.
o melhor escritor de Araucária.
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