Sou realmente um saudosista inveterado, daqueles que usam constantemente o presente para pensar no passado, e planeja o futuro em vista do mesmo. Daqueles que aprendem que a memória nos serve apenas para que evitemos levar novas pedradas. Para que aprendamos com o erro outrora praticado, e que passados nunca sejam futuros.
Sinto deveras saudades. Mas então penso que não, que não as sinto, que deixei de senti-las exatamente por senti-las tanto. Sendo tudo isso só saudades, onde está o presente? Acontece que preenchemos os tempos que não temos com os tempos que um dia tivemos. Apenas sentimos saudades porque temos ausência de presente. E nenhuma perspectiva de futuro, além daquele que nossa própria visão de passado projeta.
Torno-me mais complacente em relação às formas de atuação da vida, e um pouco menos atuante em relação à complacência do universo. Torno-me também menos vívido, e mais límpido, porém maculado. E a vida é infinita dentro dela mesma, de prêmios conquistados a derrotas pré-concebidas. As mesmas vitórias e derrotas de outrora.
Fatos extraordinários, quando repetidos costumeiramente, se tornam eles a rotina. Aprende-se a levar pedrada. Acostuma-se com o sofrimento, e assim o sofrimento deixa de sê-lo. A pessoa é para o que nasce, e isso aqui já foi dito, e há que com isso se acostumar. Só se frustra quem se dá motivos para tanto.
Por isso tudo, a complacência adquirida se torna tão importante, ela mantém firme a memória, a ausência de passados e de pedradas. Ela mantém também intacta a empolgação pelo prêmio adquirido. Prêmio já cravado na memória e no passado. Para que sejam todas saudades, para que preencham os buracos de nosso presente.
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