Ela caminhava matreiramente entre os veículos propagadores do progresso. Agitava sua ferramenta de trabalho sem deixar vestígios de óleo comburente. Carregava na cabeça aquele boné surrado que já deve ter visto mais primaveras do que deveria. Talvez tenha visto até mesmo a neve. Era uma raposa sorridente, saltitante, adstringente.
Em todos aqueles tempos em que alguém saía na frente, alguém precisava ficar para trás. Faz parte da própria natureza, compete-se pela vida a todo momento, é uma corrida em prol da evolução, uma competição em prol de tudo o que possa ser melhor do que aquilo que ainda nem sequer temos.
Os motores ligados, competidores a postos. Ela chegava, plugava o equipamento, ligava a máquina, e corriam os dígitos no mostrador. Aqueles números em ordem cíclica e crescente, em quatro casas, possuíam sua própria corrida particular, buscando também aquela mesma glória a qual estavam todos perseguindo constantemente. Quanto mais alto for o dígito mostrador da primeira casa à esquerda, melhor. Melhor pra todo mundo. Melhor pra quem?
Eram tantas as competições que, por vezes, esquecia-se de qual estávamos participando com mais ênfase e vigor. Importante é sempre vencer, ao contrário do que pregou um dia a sabedoria popular. À nossa frente, a frentista, olha em volta, felina. Grita palavras de ordem, valores de ordem, a ordem dos valores. Qual o primeiro dígito da esquerda que nunca quis ser gritado?
A corrida continua, para todos os lados. Para todas as competições. Pois que há sempre um objetivo a se alcançar. Uma vitória, particular ou coletiva, a se orgulhar. Uma nova frentista em cada posto, a postos, para cumprir, com um boné surrado ou sem, com o que quer que seja a sua glória particular.
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