Eu não sei como conduzir este texto. Seria fácil fazer um resumo da semana vivida na estrada recentemente utilizando apenas palavras-chave como: sapo, trem, quatro elementos, anão, butuca, piscina, acampamento, jaguatirica, areia, sol, trilha, caminhada, mochila, guia, camarão, rio, etc., e assim por diante. Fico pensando em como cada decisão textual empregada aqui pode mudar o rumo das coisas, a compreensão e o impacto dessas histórias.
Diversas teorias discordam sobre como funcionaria a viagem no tempo, se é que ela funcionaria. Mesmo assim, em um aspecto parece haver uma certa concordância, que é no principal problema que seria ocasionado pela possibilidade de se transitar pelo tempo: os ripples.
Ripples são ondulações, aquelas ondinhas causadas em uma superfície líquida pelo impacto de uma pedra ou pelo movimento de um animal. Em viagem no tempo, ripples são as consequências geradas por uma alteração no fluxo temporal. Um fator, por menor que seja, pode causar mudanças gigantescas no futuro. É a história do bater de asas da borboleta, do ônibus que você perdeu porque derramou café na própria camisa e precisou trocar, da decisão tomada em uma bifurcação.
Todas as nossas atitudes geram consequências em todos os prazos. E consequências que geram consequências. Assim, sempre nos perguntamos o que teria acontecido se o caminho fosse diferente. Eu já quis ser marinheiro. Provavelmente ainda quero. Aquilo de me ver cercado por quatro horizontes líquidos, sem terra, sem porto seguro para onde se olhe. Não sei como seria hoje a minha vida se marinheiro eu fosse, não sei em quais litorais eu estaria.
Fato é que ninguém pode compreender melhor as histórias do que quem as viveu. O ritual deste marinheiro para produzir este texto é diferente do ritual deste marinheiro para pegar a estrada, assim como para viver. Cada um dobra as meias como lhe convém, estende a toalha ao sol como lhe cabe, limpa os pés da areia como lhe interessa.
Lá, vimos ripples para onde olhássemos. Nesses pequenos rituais diários. Veremos ripples ainda como consequências daqueles dias, de como aquilo mudou quem esteve lá. Gostaria de poder exprimir tudo que senti na virada de ano, nesse grande ritual coletivo, naquele momento incrível daquela semana incrível vivido e proporcionado por pessoas incríveis, mas não sou capaz por meio desses rituais ou de qualquer outro.
Essas águas irão nos acompanhar até o fim de nossa viagem, ouvimos isso logo no começo dela. E nos acompanharam mesmo, tanto que no fim dessa viagem, oferendei meu chapéu a Poseidon. Espero que ele aceite, espero que ele goste de chapéus.
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