quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Tamanho da Alma

Tenho a impressão de estar sobrando cada vez mais espaço no interior dessa alma. Talvez ela esteja mesmo aumentando de tamanho, sem se preocupar em elevar o conteúdo. Ou talvez ela esteja simplesmente esvaziando, como uma piscina de quintal - naqueles tons azuis falhos imitadores de oceanos, mas com rosto, cheiro e até mesmo gosto de infância, - contendo um furo imperceptível, o qual nunca conseguimos remendar.

Acredito sermos do tamanho daquilo que carregamos conosco. Do tamanho de nossas bagagens. De nossas angústias, medos, anseios, vontades, culpas, resoluções, e tantos quantos mais substantivos masculinos e femininos, próprios e impróprios, sejam possíveis enumerar. Somos do tamanho de tudo isso.

Pelo peso, tentamos uma vez medir, tentamos uma vez delimitar em convenções humanas. Vinte e um gramas foi o resultado, deveras uma brisa, apenas categoria peso pena nas contendas universais pela vida ou pela morte. Em morte, vinte e um gramas a menos. E uma alma mais à deriva, sem nenhum recipiente a ocupar.

Mas em que tamanho estão espalhados esses vinte e um gramas? Assim, é necessário avaliar qual seria a densidade demográfica da alma. E cogitar também se podemos alimentá-la, melhorando assim sua performance perante os pesados fardos da vida. Forrando o espaço vazio, como forramos nossos sistemas digestórios; como forramos nossas horas com tarefas; como forramos nossas vidas de momentos sequenciais, que buscam todos meramente forrar o vazio de nossas almas.

Para medir o tamanho de nossas almas, não devemos medir por tudo o que tem dentro dela. Mas sim, devemos medir pelo tanto de coisas que ainda cabem. Por tudo o que ainda falta, e pelos substantivos ainda não utilizados. Não se pesa em corpo morto, porque mesmo que se acerte o peso, ela não está mais ali. Se pesa em corpo vivo, em tudo o que fazemos e vivemos. Pois que a alma.. a alma pode ser infinita se assim ela quiser. O desafio é preenchê-la.

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