Um corpo em depressão tende a permanecer em depressão até que Sísifo venha lhe tirar da inércia morro acima, para então, logo depois, cair novamente, numa espécie de montanha-russa estática e eterna. Sísifo, porém, está também a cumprir com sua própria inércia, resultado de sua própria rebeldia. Rebeldias somadas geram inércias e depressões. Assim se criam físicas e geografias.
Escrevo poesias em guardanapos de bordel. Buscando desesperadamente por adicção, invento palavras como quem inventa sentimentos. Invento escreveres como quem inventa contextos e contextualizações. Tudo não são mais do que letras no papel, na tela, ou na cabeça, signos do pensamento abstrato, representações do irrepresentável, abstração do subjetivo.
O amor da minha morte, uma droga que chamem morte, adictiva e intransigente. Em tempos desperdiçados, determinados pela angústia do não-viver, viver é a maior das drogas, morrer é a maior das adicções. Pois que, como já disse, as coisas com muito mais frequência são não do que são sim.
O que devemos e podemos já não importa, toda as lutas estão perdidas, as batalhas são derrocadas e hecatombes desnecessárias. Desesperadamente determinados. Necessário mesmo é fazer vencer a inércia. Oras, essa contradição fisicista! Não se vence, aprende-se a viver com ela, tratam-se acordos, e quem sabe se Sísifo não tenha ele mesmo escolhido seu castigo num acordo tétrico.
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