(ou Crônicas de uma Madrugada Descabida)
Nós somos aqueles que bebemos a própria noite em tragos largos. Ela, por vezes, não cabe nela mesma, e se torna proibida, irresponsável, indesejada. E o amanhecer é a maior das mortes.
Houveram tempos em que não se sabia para onde ia. Acho que na verdade, nunca sabemos, continuamos seguindo essa história de "go with the flow", mesmo querendo ser os mestres do nosso próprio destino. Não há muito o que se fazer quando as coisas preferem se fazer sozinhas. Elas simplesmente acontecem, bem ou mal, e a nossa parte nessas histórias simplesmente é acontecer.
Já vivi com o sol alto, já morri com a lua escura. Andamos a esmo, sem rumo ou razão. À noite, ninguém tem razão, estão todos errados, a própria noite está errada. Ela acha que sabe de tantas coisas, não sabe nem mesmo quantas almas agrega, onde começa ou onde termina. Seria a noite aquela cobra deglutindo o próprio rabo?
Ninguém escolhe as próprias horas, podemos no máximo prever, tencionar, querer, mas o que as horas trarão só elas mesmo decidem. E elas te levam, aos caminhos mais insanos e errados. As horas que fazem parte da madrugada te fazem entrar em bares, em bodegas, em purgueiros, nos mais profundos poços da insuficiência humana. Elas te fazem vomitar em banheiros sujos e mal frequentados.
E dançamos. Sim, como dançamos! Nunca paramos de dançar, com a vida principalmente, essa hábil bailarina. E com todas as outras coisas também. Por vezes, somos tirados a bailar; por vezes, precisamos ser aqueles que tiram, numa constante inversão de papéis. Dançamos até mesmo parados, pois dançar é uma excelente metáfora quando se trata de tudo aquilo que não temos.
E pela manhã, bebemos a vida em largos tragos, comemos a vida em fundos pratos, mestres de nossas próprias horas. Pois que pelo menos de vez em quando, as horas se esquecem de mandar, e todos os saguões ainda serão nossos.
Ainda há muito o que resolver, pois que para tudo o que não está morto a vida exige soluções. Decisões. Reimpressões do regular. Tentar reencontrar algo que se perdeu em meio aos passantes, aos bailantes, aos abraços tortos. Certezas incertas. E seguir com a corrente, pretensos mestres de nossos próprios destinos.
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