Sentados na varanda daquela casa, em meados de alguma época, em fins ou começo de outras, pois que tudo são épocas, e determinar qual é qual só depende do ponto de vista. Sentados lá, é que eles viam o quanto aqueles velhos fantasmas faziam falta. A correria dos gatos pela casa, procurando por todas as horas que lhes faltavam; a insipiência das paredes, que ao contrário do que dizem, só sabem mesmo continuar em pé; a inação dos objetos móveis de grande porte, contemplando por suas pequenas eternidades tudo o que ainda restava.
Sentados sim, pois que a todas as pessoas deveriam ser feitas referências no plural. Ninguém é um só. Mas todo mundo é só. A companhia dos fantasmas não assombrou naqueles tempos áureos, a sua ausência sim assombrava. Medo da não existência, pois que é mais fácil temer o que não se vê. E quando se vê fantasmas por tempo demais, eles acabam se tornando nossos amigos.
Algumas fotografias serviam de lembranças, mas a melhor câmera fotográfica ainda há de ser a memória, seus registros são mais vivazes, mais intensos. É certo que há o risco de se perder tudo com qualquer pequeno acidente, mas a que(m) estamos enganando? Há constantemente o risco de se perder tudo, ou de se ganhar. E com tudo o que se perde, se ganha também. Afinal, a ausência de fantasmas pode também ser considerada uma vitória.
Registros inertes e insipientes, a todo momento recuperados. E se pergunta porque ainda devemos trancar a porta do banheiro. Por onde andam aqueles fantasmas que os espionavam? Naturalmente, não foi a inação que os fez assim. Andam sozinhos pelos corredores, procurando pelas horas que lhes faltam, esperando uma resposta ou uma ação.
Assim, no plural, sendo mais de um em um só e só. Com a porta trancada, esperando que voltem os fantasmas. Em silêncio, cogitando a inação, contemplando a eternidade dos momentos. Em qualquer coisa que possa ser usada como uma boa analogia para varandas. Varandas nem existem mais. Fantasmas nem existem mais. Aqueles fantasmas devem estar sentados em suas próprias varandas, com a porta do banheiro aberta.
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