A menina dos meus olhos não tem olhos para mim. Tem sido muito difícil enxergar, fisicamente e abstratamente, abstrai-se a mente e mesmo assim não se vê, não se enxerga o que está diante dos olhos. Pois que o que está diante dos olhos insiste em fugir e dizer, para si mesma e para os outros, que não está. Já desejei cegueira total, seria o cineasta sinetesta, criaria correntes e faria história. Oras, pois se o senhor Ludwig foi surdo ao fim de sua vida...
A repetição do nada não é repetição, é apenas continuidade. Repetição só acontece se a coisa existe uma vez para depois novamente, e assim infinitas tanto quanto infinitas forem. O nada só atrai mais nada, a menos que algum dia ele comece a ser alguma coisa, então não será mais continuidade, pois da segunda vez que for, será repetição. Até agora, tenho tido muito nada. E também muita repetição.
Há que se sincronizar a vida, e algumas sincronias são maravilhosas, e, quem diria, surpreendentes. Oras, pois que tudo deve fazer parte de coincidências com alguma coisa, no entanto algumas coisas são coincidências planejadas, nada mais, e ainda assim sincronia. Cada escala da partitura da minha vida foi composta num tom diferente, assim é tudo tão dissonante. Não há de haver corações pulsando na cena do homem de lata.
E há ainda mais que se sincronizar a vida com essa eterna repetição. Esse eterno amontoado de nadas. Não enxergar é um nada, porém é um nada que primeiro necessita de um tudo. Não existe cegueira sem antes ter existido olhos. Ver é mais difícil do que enxergar. E quem sabe se o surdo, ou um sinetesta, poderia sincronizar as escalas de tons, e produzir harmonia nessa vida. De qualquer forma, o nada já é alguma coisa, pois que, como já disse, todo buraco está cheio de vazio.
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