segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Voyage au centre de si mesmo

A mais fabulosa viagem que alguém pode fazer é a viagem para dentro de si mesmo. Sem precisar comprar passagens antecipadas em três meses para que se aproveite uma promoção falaciosa. Sem precisar juntar trapos em uma bolsa desfigurada. Sem precisar sequer planejar com qual vizinho indesejado ficará as honras de alimentar o cachorro.

Há ainda diversos outros benefícios: dentro de sim mesmo, as paisagens são as mais exóticas que uma pessoa pode ver algum dia; os animais são dos mais estranhos, chegam a lembrar aqueles peixes abissais que vez por outra são encontrados mortos nas praias desertas. Dentro de si mesmo, cada mísero centímetro quadrado tem o poder de surpreender e assustar.

Um corpo cheio de coisas pode estar cheio de nada. Vísceras são alguma coisa, porém depois de mortas são nada. Um buraco está cheio de vazio. É possível preencher o espaço vazio de um buraco, ou de um corpo, com qualquer substância. Mas ao preencher esse espaço, ele não deixa de estar vazio, pois que o vazio apenas muda de lugar. O vazio é cíclico e, cedo ou tarde, volta para preencher. É impossível estar sempre cheio.

Todo castelo foi construído para desmoronar. Cada pedra colocada em sua estrutura tem em sua própria natureza a intenção de ruir. Areia nada mais é do que uma rocha que envelheceu. Pois que o tempo passa para todas as coisas, vazias ou não. E uma rocha está sempre cheia; cheia de areia dentro de si, e mesmo assim vazia; vazia de castelo. Pois que uma rocha sozinha nunca será castelo.

As ideias desmoronam, as pessoas desmoronam. Muito mais, inclusive, do que os castelos. Dentro de si mesmo, cada pessoa desmorona, e essa viagem deve servir não para evitar esses desmoronamentos, mas para reconhecer a areia da rocha velha.

Dentro de si mesmo, há que se preencher cada vazio com essa areia, como uma ampulheta antropomórfica que não está contando o tempo, mas sim a vida e a não-vida. Dentro de si mesmo, há que se responder se vale mais a pena ser problema ou solução, teorema ou resolução. Dentro de si mesmo, há que se entender que o vazio nada mais é do que a falta do nada, pois que por vezes até o nada preenche o vazio.

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