quarta-feira, 23 de maio de 2012

Shitberg - parte 01


Aquela maldita privada entupida mais uma vez, um problema muito freqüente nos últimos meses, e lá vai a conta bancária do encanador engordar um pouco mais.

Era um problema freqüente e cada vez mais presente nas sociedades, não era mais exclusividade desse ou daquele edifício, dessa ou daquela rua, nem mesmo de uma localidade ou país. Era um problema generalizado.

As privadas entupiam simplesmente porque a capacidade de destinação dos detritos provenientes de esgoto estava se esgotando. Era tanta merda que já não tinha mais onde jogar, os aterros sanitários já estavam cheios. Florestas eram derrubadas diariamente com o intuito de criar novos aterros, no entanto com o acordo de Kiev, ficou proibido todo e qualquer desmatamento, não importava o objetivo, pois as matas estavam acabando.

O lixo era reciclado facilmente com as novas tecnologias, comprimia-se e jogava ao espaço, combustível solar, assim, os aterros sanitários já nem precisavam ser usados como depósito de lixo. Mas não havia o que fazer com tanta merda, de todos os apocalipses ecológicos previstos para a humanidade, o escatológico era o menos esperado, e talvez por isso mesmo especialista nenhum se preocupou com ele. Até a água bater na bunda.

Nessa época jogavam cada vez mais bosta nos oceanos, eram as grandes privadas do planeta. Todas as redes de tratamento de esgoto do mundo acabavam nas águas salgadas. E a capacidade de renovação dos mares é limitada, apesar de ser grande, então chegou uma hora em que as águas começaram a virar um merdesteio só.

No início daquele ano algumas praias ao sul da França e da Itália foram interditadas, e em menos de dois meses todo o litoral sul europeu estava inapropriado para receber banhistas. A justificativa era a alta quantidade de coliformes fecais na água, as pessoas já chegavam à areia com furúnculos causados por bactérias da merda.

Não demorou muito para o resto do mundo também bloquear o acesso aos oceanos. Uma epidemia se espalhou na Ásia, causada por frutos do mar contaminados, os peixes estavam se transformando em cocô. Depois disso todas as populações do mundo pararam de pescar, em duas primaveras houve um superpovoamento dos oceanos, o que agravou ainda mais o problema, pois as criaturas marinhas consumiam mais oxigênio da água, diminuindo a capacidade de renovação e de decomposição dos dejetos.

No fim do terceiro ano as cidades costeiras começaram a ser evacuadas, as pessoas não suportavam o cheiro e as pestes, moscas se multiplicavam e chegavam a ter o tamanho de um ovo de galinha.

Cientistas estudavam com afinco possíveis soluções. Mergulhadores eram enviados, e dezenas de pessoas morreram em aventuras a alto mar, cair na água sem uma roupa especial de proteção era suicídio.

A merda começava a evaporar e condensar em nuvens, quando um vento impróprio a levava para o continente, chovia merda, e haviam furacões de merda na primavera. As águas da chuva, antes tão aguardados em determinadas partes do mundo, pra que viessem lavar as almas das pessoas, agora eram odiadas, e preferia-se a seca.

Um dos especialistas no novo problema da bosta dominante passou a estudar a densidade da merda. Ele queria saber porque uma parte boiava, enquanto outra boa quantidade afundava. Os fundos dos oceanos eram massas lodosas de fezes, e por outro lado, havia bosta cobrindo quase toda a superfície. Sua conclusão foi de que a densidade era variável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário