terça-feira, 23 de agosto de 2011

Na contramão

Fiz o caminho inteiro pedalando na contramão. E quando você pedala na contramão, sem desviar de nenhum carro, aquela expectativa, é como se os faróis daquela luz vermelha de um êxtase macabro fossem olhos, e você os encara insanamente, intensamente. Então aqueles olhos deixam de cumprir sua função de iluminar, e tudo o que querem fazer é se fixar aos seus olhos, como um animal excitado e selvagem pronto a atacar a presa estúpida que caminha em sua direção inocentemente.
A fumaça que sai do escapamento é sua fúria, o barulho do motor é seu rugido, a trepidação do movimento é seu caminhar, e seus olhos são duas esferas luminosas que te fitam. O animal vem na sua direção, cada vez mais próximo, e o guidão insistente não muda de posição, não manobra, a presa estúpida não faz questão de batalhar, os seus olhos não desviam do olhar do animal selvagem à sua frente. Então o motorista do carro puxa o volante e desvia de você.

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