segunda-feira, 20 de março de 2017

Cultura

Há o conceito relativamente recente de indústria cultural, que liga a produção cultural e artística à economia de mercado. Essa conversa passa por uma dúzia de controvérsias e adjetivos complicados de se lidar, não me atrevo. Notadamente, sabemos que a cultura é muito mais do que apenas as manifestações artísticas, as sete artes (que hoje já são também muitas mais), sabemos que o conceito de cultura está arraigado ao próprio conceito de povo. Fato é que todos têm cultura.

Existem culturas ruins e culturas boas. Maltratar os animais é um aspecto cultural ruim, precisa ser modificado, precisamos evoluir. A herança de saberes relativos ao patrimônio imaterial, aquilo que não é palpável, que aprendemos com nossos antepassados, como o folclore, crendices, tradições, entre outros, é uma cultura boa, precisa ser resgatada e preservada.

Todos têm cultura, pois certo. Há pouco tempo existe a ideia da economia da cultura. Tem a ver, de certa forma, com aprender a explorar a indústria cultural. Explorar não é a melhor palavra, mas tem a ver com monetizar a cultura, em geral a manifestação artística na qual somos bons, em conseguir viver daquilo que fazemos bem. E principalmente em reconhecer um valor social e financeiro no que fazemos.

Sabemos que a cultura é capaz de mudar uma nação. Nos faz evoluir. Uma cultura bem cuidada evita violência, ajuda na prevenção de doenças, é parceira da educação, da saúde, dos transportes, de tudo. Sabemos há muito tempo que gasto com cultura não é despesa, é investimento. Sabemos muito bem que uma cidade, estado, ou país forte culturalmente, e que investe nisso conscientemente e a longo prazo, adquire resultados excelentes do ponto de vista de sua evolução social como um todo.

No entanto, vemos no dia a dia a cultura ser extremamente desvalorizada por aqui. Não vamos localizar geograficamente este aqui, pois podemos estar falando de cidade, estado ou país, e os argumentos e resultados não precisarão ser muito diferentes. Simplesmente aqui não se valoriza a cultura. Não se compreende e nem se busca compreender a importância dessa área.

Hoje tive uma epifania. Percebi que esse fato, que essa situação recorrente e multiplamente replicada de não se valorizar a cultura é um traço cultural de nosso povo. Não valorizar a cultura é cultural. Torna-se inexprimível para mim a quantidade de ironia contida nessa conclusão. Não valorizar a cultura é cultural...

Sempre relegada ao segundo plano, nunca fomos ensinados a entender o valor e a importância da cultura. Não aprendemos a lutar por essa importância. Nossa criação cultural simplesmente não permite isso. Estamos presos em um círculo vicioso onde precisamos de mais apoio à cultura para conseguir que ela seja no futuro mais valorizada. A única coisa que pode mudar esse traço cultural ruim é exatamente a cultura.

Não me atrevo aqui também a indicar os caminhos pelos quais isso pode ser alcançada, embora pense conhecer alguns. Não me atrevo a ter as soluções. Mas sei que posso apontar o problema e fazer parte da briga pela importância e valorização social e financeira. Pode parecer redundante, mas é com cultura que se muda e evolui a cultura. Precisamos fazer com que valorizar a cultura se torne o mais forte traço cultural de nosso povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário