Ontem, chorei. O que, sendo uma criatura da água, é extremamente comum e natural. Por aqui, o sentimento verte líquido sempre. Desce rolando pelas faces, vindo de bolsões d'água escondidos junto da porta escancarada da alma, que se abre ainda mais com a força dessas águas levemente salgadas.
Essas lágrimas que desceram não estavam ali por excesso de tristeza ou melancolia, não naquele momento, embora boa parte das vezes em que o sentimento verta líquido sejam essas as fontes de sua fluência. As águas desceram alegres, como no experimento em que alguém descobriu existirem moléculas felizes e moléculas tristes.
Mesmo assim, a melancolia estava lá, como uma música de fundo, o som ambiente. Na verdade mesmo, ela nunca me deixa, é como o cantar dos passarinhos pela manhã, o barulho dos carros ao longo do dia e o frenesi sonoro dos grilos à noite, ou seja, é um som que sempre esteve lá e sempre estará.
Nos últimos dias, estive diante do mar. Preciso estar diante de Poseidon frequentemente, diante de Iemanjá, de Nereu, Sedna, Ulmo, Netuno, Aegir, e de todos os outros seres que ali vivem e governam. Lá, cogitei a essência da existência física do mar: seria ele uma única criatura, composta por todas as águas do planeta como um único corpo?, ou seria a junção das várias e praticamente infinitas gotas d'água e criaturas que o compõe e o habitam?. Não tive coragem de cogitar sobre a essência de sua existência metafísica.
Qual a essência da nossa existência física? Somos nosso corpo fechado dentro de si, isolado dos outros corpos? Ou somos a junção de todas as pessoas que nos importam e fazem a mais incrível diferença em nossas vidas? Somos uma gota d'água ou somos um oceano inteiro? Lá, diante do mar, eu me sentia todos os outros. Sentia-me as pessoas que estavam lá comigo, criaturas maravilhosas de brilho em essência. Todos de existência individual, mas que em coletivo formávamos um oceano imenso e intenso.
Por fim, eu quero explodir de tanta existência! Não cabe mais dentro de mim o acúmulo de tanta intensidade. Só quero para a minha vida gotas d´água que sejam comigo oceano, só quero o que seja intenso, vívido. Quero mais desses momento que dilaceram minha alma de tanta alegria. Ontem, chorei. O sentimento líquido levemente salgado procurava o oceano, procurava esses últimos dias, em que vivi com a intensidade que só pessoas-oceano podem proporcionar.
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