quinta-feira, 12 de maio de 2016

Auto-Consciência do Tempo

Toda criatura constituída em três dimensões possui uma auto-consciência espacial. Mesmo os seres unicelulares mais simples são capazes de compreender o seu próprio tamanho e saber da sua localização. Todo ser vivo sabe que existe por se colocar em um espaço. Um animal sabe onde termina o seu próprio corpo e começa o próximo. No toque, no equilíbrio, no tato. A pele que roça, o chão e o céu em seus respectivos lugares. A dor ao entrar em contato com algo pontiagudo, quente ou frio demais, lacerante.

Todo ser vivo que existe e já existiu nesse planeta, e se locomove de algum jeito, sabe onde está e para onde precisa ir. Distância, tamanho, largura, profundidade. Conceitos relativos para cada criatura, perspectivas diferentes, mas conhecimentos essenciais para o funcionamento da vida. A auto-consciência espacial faz parte de todos os seres vivos.

Contudo, há uma outra auto-consciência, relativa à quarta dimensão, que apenas os seres humanos visualizam em sua abordagem com relação ao mundo. Trata-se da auto-consciência temporal. Não falamos de espaço-tempo, que é um outro conceito, utilizado em perspectivas maiores. Falamos do tempo como unidade básica, com suas próprias dimensões: antes, agora e depois.

Naturalmente, podemos aplicar vários dos mesmos conceitos do espaço para o tempo, como distância, tamanho, e quando começa e termina um determinado momento. O tempo é também uma dimensão. Porém, o problema dessa auto-consciência, e a diferença entre as duas, é que é ela que gera uma espécie tão transtornada e complexada.

A culpa de não aproveitarmos o agora como deveríamos vem da nossa auto-consciência. A própria existência de conceitos como antes e depois nos prende invariavelmente a eles, prejudicando a nossa experiência com o agora. Há o lado bom, planejamos e executamos, a sociedade evolui e contabilizamos essa evolução. O lado ruim, no entanto, é muito mais evidente. Sofremos por um passado que para os outros animais não existe; e deixamos as coisas para um depois que nunca chegará.

Com isso, não aproveitamos o momento. Vivemos vidas vazias de agora, mas cheias de antes e depois. Fotografamos um acontecimento para que depois lembremos do passado. Há que se viver mais no âmbito do agora. É preciso deixar de lado essa auto-consciência temporal que permeia nossa espécie, pelo menos de vez em quando. Precisamos passar mais parte do nosso tempo vivendo de verdade esse tempo que estamos vivendo. Não o antes ou o depois, mas sim o agora. Porque é o agora que importa.

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