sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Crônicas da Rua

1 - São todos uns idiotas. Alguns são mais idiotas do que os outros, e alguns são idiotas por razões diferentes. Mas são todos uns idiotas.

2 - Naquele tempo, andávamos em um auge de insanidade. As noites eram frenéticas e, não raro, duravam um final de semana inteiro. Víamos o sol nascer de um lugar diferente a cada dia. Sem nem saber direito para onde ir, íamos aonde desse vontade. Em uma noite específica, havíamos deitado a cidade aos nossos pés, éramos os reis da rua, todos se ajoelhavam e nos louvavam à nossa passagem. A caminho da madrugada, fomos parar em um apartamento onde todo mundo estava nu. Dormimos exultantes com nosso reinado.

3 - Não tenho paciência para quem me dá sono. À minha volta, preciso das pessoas insanas, de quem não teme a morte e muito menos a vida. Quem está disposto a aceitar tudo o que o mundo tem a oferecer. Caminho lado a lado com esses bandidos corruptores incorruptíveis, ladrões de coisas mais nobres, vencedores do tempo. Esses que tiram a vida para dançar e bailam brilhando por onde os outros caminham.

4 - Eu não me apaixonava havia dois anos. Desejava constantemente que ela ainda estivesse participando das minhas aventuras, em lugar de apenas povoar meus sonhos. É disso que a matéria-prima da vida é constituída: ansiar por algo que não temos, que está distante. É o que nos faz sair por aí entregando jornais ou fechando grandes acordos. Ao menos, o mundo estava cheio de paixão voando por todo lado, mesmo que não acertassem muita coisa. Os amores são aves cegas.

5 - Às vezes, tenho a sensata impressão de que já ouvi todos os papos. Todas as conversas já foram tidas, são assuntos cíclicos. Por isso, abandonei as discussões e os debates, nunca se chegava a lugar algum. E eu já sabia há algum tempo que a melhor forma de tirar da cabeça algo que estava incomodando, era fazendo um furo nela.

6 - Parei para observar o oceano. Observar é um termo pequeno para o que eu fazia com os mares e as marés. Era como se eu conseguisse sentir ele de uma maneira superior. Eu chamava aquilo de contemplação. Fiquei parado na areia, a espuma branca dançava graciosamente ao forte vento e tive vontade de filmar aquilo. O mar revolto quebrava, ia e voltava. Fazia frio. Os litorais são como vírgulas, já disse certa vez, continente nenhum tem ponto final. Acabaram me chamando e fui embora. Eu realmente gostaria de ser um rio.

7 - As pessoas que caminham pela rua me interessam, naturalmente. Gosto de observá-las, ler seus pensamentos óbvios. Sento em um banco e fico esperando algo acontecer. Na rua, todos estão carregando consigo seus objetivos em uma sacola. Posso ver a marca das grandes lojas: sonho; anseio; emprego; amor; amizade; problema; dívida; decisão; viagem; novidade; morte. Cada um desses grandes conglomerados comerciais que estampam as sacolas que carregamos por aí.

Epílogo - Aguente firme querida, é um mundo muito louco.

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