O primeiro Pedro que conheci na minha vida foi meu avô, há quase três décadas. Foi por essa mesma época que conheci também o interior, com suas estradas de chão, com seus cheiros de animais em cidades minúsculas, com as árvores e arbustos de folhas marrom, assim deixadas pela poeira acumulada nos dias quentes... Com sua música caipira.
Naquele ano em que conheci o interior, meu avô já passava dos 60. Hoje, Seu Pedro ainda trabalha todos os dias, com seu criativo ofício na marcenaria, desenvolvendo sempre uma nova engenhoca de madeira. Hoje, moro às margens da cidade grande, da agitação frenética e das árvores com troncos pintados de branco para evitar pragas, o marrom da poeira substituído pelo cinza sem vida do asfalto.
No interior, o som da viola caipira é regra, nunca exceção. O cantos dos passarinhos é frequente, não raridade. O Tuiuiú e o Cardeal são mais ouvidos. Aqui, ouvimos o barulho dos carros na rua. Ouvimos a sirene da polícia e a reclamação exagerada do vizinho insatisfeito.
Mas aqui, o mais novo Pedro que conheci na minha vida, e já perdi a conta de quantos são, não se abala. Pede para a dupla caipira baixar um pouco o som e continua dançando. Continua celebrando seu aniversário, distribuindo garrafas de cerveja. Tuiuiú e Cardeal puxam os parabéns, cantam e recantam a ode ao aniversariante, também dono do boteco.
Uma dezena de senhores com cara de interior congratula o Pedro. Andam para lá e para cá dentro dos menos de 30 metros quadrados do bar, com a cerveja que, pelo menos até acabar a grade, é na conta do Seu Pedro.
Tuiuiú e Cardeal continuam cantando músicas que já ressoam há muito mais tempo do que as quase três décadas que se passaram desde que conheci o interior. Músicas que evocam o interior em seus acordes. Formamos uma ilha na cidade em plena quarta-feira. A música é as estradas de chão, é os cheiros dos animais, é as árvores marrons e os passarinhos. É o Tuiuiú e o Cardeal, e é o Seu Pedro.
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